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Acusação de suborno leva o 1º Paulista da nova FPF à delegacia
Federação afirma que auditor do Tribunal de Justiça pediu propina para reverter julgamento que praticamente condenou o estreante Oeste de Itápolis ao rebaixamento
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
MARCUS VINICIUS MARINHO
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O primeiro tapetão do primeiro
campeonato da nova gestão da
Federação Paulista virou caso de
polícia. Segundo a própria entidade, houve pedido de suborno para
mudar o resultado de um julgamento crucial para os rumos do
rebaixamento no Estadual.
O caso envolve o Oeste de Itápolis (o caçula da competição), o
Tribunal de Justiça Desportiva
paulista e uma tentativa inicial de
extorsão de R$ 200 mil.
No dia 9, uma segunda-feira, o
Oeste foi condenado à perda de 12
pontos por ter utilizado jogadores
irregulares contra Santos e Santo
André. A decisão do TJD, em primeira instância, coloca o Oeste
com pontuação negativa, o que
pode transformar o Paulista em
um torneio de asteriscos.
A condenação, que teve placar
de 2 a 1, foi definida pelo voto do
auditor Washington Rodrigues
de Oliveira, relator do processo.
Durante a semana passada,
Washington e o ex-presidente do
Marília Hely Bíscaro falaram sobre o caso Oeste.
Na sexta, Bíscaro foi à casa de
Mauro Guerra, patrocinador e dirigente do Oeste. Aconselhado
por um deputado estadual, gravou de sua casa a explosiva conversa que foi o estopim do maior
escândalo da gestão Del Nero.
"200 paus"
A fita mostra diálogo supostamente travado entre Guerra e Bíscaro. Na conversa, o homem
identificado como o ex-presidente do Marília diz ao colega do Oeste: "Como eu falei para você,
Mauro, antes... combina, pega e
cumpre. O Washington falou 200
paus. (...) Ele falou que ia me dar
uma parte e disse que por menos
disso aí não vou fazer." A voz que
seria de Bíscaro diz que os R$ 200
mil seriam divididos também entre outros integrantes do TJD.
Segundo Guerra, para mostrar
que Washington estava mesmo
no esquema, Bíscaro ligou imediatamente para o auditor.
Também na sexta, 13, Washington telefonou para o prédio da Federação Paulista de Futebol, onde
funciona o TJD. Perguntou se poderia ter acesso ao processo.
Na segunda, 16, a primeira instância do TJD voltou a se reunir
no 3º andar da FPF.
O advogado comentou com
Naief Saad Neto, presidente do
tribunal, sobre a vontade de trocar seu voto -algo que nunca
aconteceu no TJD, segundo Naief.
Foi informado de que isso seria
impossível, já que o caso só seria
novamente analisado pelo pleno
do tribunal, a segunda instância
da Justiça esportiva.
No início da noite de segunda,
Naief foi chamado na sala do presidente da FPF. Del Nero, acompanhado do deputado estadual
Geraldo Vinholi (PDT), pediu a
Naief a apuração da denúncia levada pelo pedetista, que tem base
eleitoral em Itápolis.
O presidente do TJD, delegado
de classe especial do Deic, disse
que tomaria as providências necessárias e que prenderia Washington. Anteontem, o auditor do
TJD foi conduzido por Naief ao
Departamento de Investigações
sobre o Crime Organizado.
A Folha teve acesso aos depoimentos dos envolvidos ao delegado Sugui Kendi, do Deic. Washington admitiu que conversou
com o ex-dirigente do Marília e
que tinha a intenção de mudar
seu voto, mas foi impedido pelo
TJD. Afirmou que queria alterá-lo
apenas "em razão de sua consciência e justiça". Negou participação no esquema de suborno.
Guerra disse à polícia que Washington, minutos após o julgamento, falou aos dirigentes do Itápolis: "Me procurem que eu quero ajudar". Segundo o cartola, o
primeiro contato de Bíscaro
aconteceu na quarta à noite.
"Ele deu a entender que dinheiro poderia resolver a situação."
Ainda de acordo com Guerra,
ele entrou em contato com o deputado Vinholi, que o aconselhou
a gravar as conversas seguintes.
"Coloquei um gravador próximo
do sofá [na sexta] antes de Bíscaro
chegar em casa."
"Em dado momento, Hely [Bíscaro] foi direto ao assunto e disse
que o dr. Washington poderia rever o voto dele no julgamento,
através de um embargo de declaração", disse Guerra ao delegado
do Deic. A esta altura, o valor da
extorsão era de R$ 120 mil.
Ainda de acordo com Guerra,
ele e o ex-presidente do Marília se
encontraram na segunda num
posto de gasolina próximo à cidade de Pongaí (SP). Bíscaro teria
dito que, se algo vazasse, o carro
de som "Banda da Camila", de
Guerra, poderia incendiar-se.
A direção da FPF e o presidente
do TJD tomaram as primeiras
providências sobre o caso. Naief
suspendeu Washington preventivamente. "Ele é uma laranja podre. Quis vender fumaça, mas não
pôde porque não teve apoio dos
colegas. O importante é que não
houve corporativismo. Ele é um
pilantra, tentou extorquir dinheiro do Oeste, mas conseguimos
impedi-lo. É pena que não conseguimos prendê-lo em flagrante."
"Um caso de suborno, mesmo
não realizado, é ruim para a FPF,
mas fiz o necessário. Se um jornalista é pego roubando, toda a classe é chamuscada. Fazemos a seleção [no TJD], mas pode aparecer
alguém ruim. O mundo é assim.
Alguém destoa", disse Del Nero.
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