São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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Acusação de suborno leva o 1º Paulista da nova FPF à delegacia

Federação afirma que auditor do Tribunal de Justiça pediu propina para reverter julgamento que praticamente condenou o estreante Oeste de Itápolis ao rebaixamento

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
MARCUS VINICIUS MARINHO

TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro tapetão do primeiro campeonato da nova gestão da Federação Paulista virou caso de polícia. Segundo a própria entidade, houve pedido de suborno para mudar o resultado de um julgamento crucial para os rumos do rebaixamento no Estadual.
O caso envolve o Oeste de Itápolis (o caçula da competição), o Tribunal de Justiça Desportiva paulista e uma tentativa inicial de extorsão de R$ 200 mil.
No dia 9, uma segunda-feira, o Oeste foi condenado à perda de 12 pontos por ter utilizado jogadores irregulares contra Santos e Santo André. A decisão do TJD, em primeira instância, coloca o Oeste com pontuação negativa, o que pode transformar o Paulista em um torneio de asteriscos.
A condenação, que teve placar de 2 a 1, foi definida pelo voto do auditor Washington Rodrigues de Oliveira, relator do processo.
Durante a semana passada, Washington e o ex-presidente do Marília Hely Bíscaro falaram sobre o caso Oeste.
Na sexta, Bíscaro foi à casa de Mauro Guerra, patrocinador e dirigente do Oeste. Aconselhado por um deputado estadual, gravou de sua casa a explosiva conversa que foi o estopim do maior escândalo da gestão Del Nero.

"200 paus"
A fita mostra diálogo supostamente travado entre Guerra e Bíscaro. Na conversa, o homem identificado como o ex-presidente do Marília diz ao colega do Oeste: "Como eu falei para você, Mauro, antes... combina, pega e cumpre. O Washington falou 200 paus. (...) Ele falou que ia me dar uma parte e disse que por menos disso aí não vou fazer." A voz que seria de Bíscaro diz que os R$ 200 mil seriam divididos também entre outros integrantes do TJD.
Segundo Guerra, para mostrar que Washington estava mesmo no esquema, Bíscaro ligou imediatamente para o auditor.
Também na sexta, 13, Washington telefonou para o prédio da Federação Paulista de Futebol, onde funciona o TJD. Perguntou se poderia ter acesso ao processo.
Na segunda, 16, a primeira instância do TJD voltou a se reunir no 3º andar da FPF.
O advogado comentou com Naief Saad Neto, presidente do tribunal, sobre a vontade de trocar seu voto -algo que nunca aconteceu no TJD, segundo Naief. Foi informado de que isso seria impossível, já que o caso só seria novamente analisado pelo pleno do tribunal, a segunda instância da Justiça esportiva.
No início da noite de segunda, Naief foi chamado na sala do presidente da FPF. Del Nero, acompanhado do deputado estadual Geraldo Vinholi (PDT), pediu a Naief a apuração da denúncia levada pelo pedetista, que tem base eleitoral em Itápolis.
O presidente do TJD, delegado de classe especial do Deic, disse que tomaria as providências necessárias e que prenderia Washington. Anteontem, o auditor do TJD foi conduzido por Naief ao Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado.
A Folha teve acesso aos depoimentos dos envolvidos ao delegado Sugui Kendi, do Deic. Washington admitiu que conversou com o ex-dirigente do Marília e que tinha a intenção de mudar seu voto, mas foi impedido pelo TJD. Afirmou que queria alterá-lo apenas "em razão de sua consciência e justiça". Negou participação no esquema de suborno.
Guerra disse à polícia que Washington, minutos após o julgamento, falou aos dirigentes do Itápolis: "Me procurem que eu quero ajudar". Segundo o cartola, o primeiro contato de Bíscaro aconteceu na quarta à noite.
"Ele deu a entender que dinheiro poderia resolver a situação."
Ainda de acordo com Guerra, ele entrou em contato com o deputado Vinholi, que o aconselhou a gravar as conversas seguintes. "Coloquei um gravador próximo do sofá [na sexta] antes de Bíscaro chegar em casa."
"Em dado momento, Hely [Bíscaro] foi direto ao assunto e disse que o dr. Washington poderia rever o voto dele no julgamento, através de um embargo de declaração", disse Guerra ao delegado do Deic. A esta altura, o valor da extorsão era de R$ 120 mil.
Ainda de acordo com Guerra, ele e o ex-presidente do Marília se encontraram na segunda num posto de gasolina próximo à cidade de Pongaí (SP). Bíscaro teria dito que, se algo vazasse, o carro de som "Banda da Camila", de Guerra, poderia incendiar-se.
A direção da FPF e o presidente do TJD tomaram as primeiras providências sobre o caso. Naief suspendeu Washington preventivamente. "Ele é uma laranja podre. Quis vender fumaça, mas não pôde porque não teve apoio dos colegas. O importante é que não houve corporativismo. Ele é um pilantra, tentou extorquir dinheiro do Oeste, mas conseguimos impedi-lo. É pena que não conseguimos prendê-lo em flagrante."
"Um caso de suborno, mesmo não realizado, é ruim para a FPF, mas fiz o necessário. Se um jornalista é pego roubando, toda a classe é chamuscada. Fazemos a seleção [no TJD], mas pode aparecer alguém ruim. O mundo é assim. Alguém destoa", disse Del Nero.


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