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COPA 2006
Padre paranaense convence atletas a valorizar religião na Alemanha e ganha vaga no Mundial
O missionário da bola (e do Papa)
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
As palavras soaram quase como
uma bênção. Joseph Ratzinger,
então um influente cardeal da
Igreja Católica, elogiou o trabalho
de Jauri Strieder com jovens e o
encorajou a buscar novos fiéis.
O padre brasileiro radicado na
Alemanha teve então um estalo:
por que não adaptar um procedimento comum em seu país natal e
utilizar o prestígio de jogadores
de futebol para atrair a juventude?
Três anos depois daquela conversa, Ratzinger acabou escolhido
Papa e passou a ser chamado de
Bento 16. Justamente no mesmo
período, Strieder conseguiu colocar seu inusitado projeto em prática. Agora, com a Copa, acredita
que pode fazê-lo decolar.
Com auxílio de outros três clérigos, o brasileiro peregrina desde
2005 por gramados alemães. Sua
meta: oferecer orientação espiritual aos boleiros e convidá-los a
dar testemunhos ou participar de
eventos da Igreja Católica.
Trata-se, grosso modo, da implementação do "atleta de Cristo", figura tão comum no futebol
brasileiro, em um país pouco habituado a manifestações assoberbadas de fé nos gramados. "Os
alemães adoram os jogadores.
Com a popularidade que têm por
aqui, conseguem influenciar muita gente com seus testemunhos.
Nesse sentido, um depoimento
vale mais que dez palestras de um
padre", diz Strieder à Folha.
Paranaense de Santa Helena, ele
já conseguiu arregimentar ao menos 15 atletas só na primeira divisão do Nacional. A lista inclui três
jogadores com passagem pela seleção alemã -Christoph Metzelder, Sebastian Kehl e Olivier Neuville- e também representantes
do Brasil, como Athirson, lateral-esquerdo do Bayer Leverkusen.
Pode parecer pouco se comparado às centenas de jogadores que
costumam exibir mensagens do
tipo "Deus é fiel" em camisetas
após balançarem as redes nos gramados brasileiros. Mas, para os
padrões da Alemanha, significa
uma reviravolta nos costumes.
"A religião é tratada com mais
discrição e delicadeza. É muito difícil, por exemplo, ver jogadores
rezando em grupo antes dos jogos, uma cena que se repete quase
todo dia em outros países. Aqui, a
oração tem um caráter muito pessoal", relata Strieder, 25.
Sua estratégia é sensibilizar os
atletas nos encontros para a influência que exercem na sociedade. Depois, convida-os para participarem de ações beneficentes.
"Uma vez, organizei um encontro de adolescentes, e o Athirson
aceitou aparecer. O número de interessados triplicou."
O período, aliás, é propício para
Strieder garimpar fiéis. Segundo o
padre, as adesões ao catolicismo
ganharam fôlego após a nomeação do colega Ratzinger como Papa. "Posso afirmar que, nos três
meses iniciais de papado de Bento
16, tivemos mais conversões do
que nos últimos três anos."
A busca por devotos não ocorre
por acaso. A vida social e política
na Alemanha sofre forte influência das igrejas. Segundo o Departamento Federal de Estatísticas do
país, cerca de 45% da população é
protestante, a maioria luterana.
Os católicos são quase 40% dos 82
milhões de habitantes.
O que mais empolga Strieder,
contudo, é a possibilidade de encontrar a seleção brasileira na Copa. A organização do Mundial já o
convidou para integrar uma lista
de religiosos que ficarão à disposição das equipes. A idéia é que os
elencos tenham uma espécie de
capelão para conceder apoio espiritual durante a competição.
"Claro que eu preferiria trabalhar com o Brasil. É o meu país.
Além disso, os atletas são populares e buscam a Deus. Se tiver
oportunidade, vou chamá-los para participar das ações que desenvolvemos aqui", afirma.
Seria a apoteose para quem
sempre teve uma relação muito
próxima com o esporte. Na infância em Santa Helena, jogava bola
sem parar -chegou até a defender uma equipe, chamada Incas.
Nem a entrada no seminário,
em Curitiba, arrefeceu seu ânimo.
"A gente tinha um bom time e
não passava um dia sem disputar
um joguinho", recorda.
Torcedor do Grêmio na terra
natal ("Era o time de que eu mais
gostava quando criança") e do
Bayer na nova casa ("Meu trabalho missionário no futebol começou em Leverkusen, onde fui bem
recebido"), Strieder conta que a
periodicidade dos jogos caiu.
Todas as segundas, ele troca a
batina por camiseta, short e chuteira e tenta agrupar outros clérigos para bater bola em Colônia (a
cerca de 100 km de Dortmund).
"É muito divertido, mas não posso dizer que o jogo tem bom nível
técnico. A média de idade dos padres alemães varia entre 40 e 60
anos. Sou uma exceção por aqui."
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