São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2006

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FUTEBOL

Mal-estar do Parreira

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A escalação e a estratégia tática da seleção brasileira já estão definidas para a estréia na Copa. Kaká, pela direita, e Ronaldinho, pela esquerda, terão de marcar e atacar. Os dois atuam nos seus clubes de maneira diferente da que jogam na seleção.
No Milan, Kaká é o meia de ligação entre os três do meio-campo e os dois atacantes. No Barcelona, Ronaldinho atua também pela esquerda, porém mais à frente. Ele é um atacante que recua para armar as jogadas. No time brasileiro, é um jogador de meio-campo, que participa da marcação e que avança. É diferente.
Como Kaká tem mais características para marcar e atuar de uma intermediária à outra, imagino que, na prática, mesmo se o Parreira não pedir, veremos com freqüência, como ocorreu na Copa das Confederações, o Brasil com uma linha de três no meio-campo, formada por Kaká, Emerson e Zé Roberto, e o Ronaldinho mais livre. Isso será bom para ele.
Na prática, será uma variação parecida com o esquema anterior, antes do quarteto, com Kaká atuando numa posição próxima à do Juninho Pernambucano, porém chegando mais na frente, e o Ronaldinho fazendo a função que era do Kaká. Adriano e Ronaldo são os atacantes. Antes eram os dois Ronaldos.
Mas a mudança mais provável de acontecer durante o Mundial será o Parreira, para reforçar a marcação, escalar mais um volante e adiantar o Ronaldinho para atuar ao lado do Ronaldo, no lugar do Adriano.
Após a primeira fase da Copa de 2002, Felipão fez uma modificação parecida, quando trocou o meia Juninho pelo volante Kleberson. O time melhorou, já que Gilberto Silva estava sozinho na marcação no meio-campo e Edmilson era um terceiro zagueiro.
Quando um técnico fala muito que pode mudar o time se não der certo, como tem enfatizado o Parreira, é sinal de que ele está "louco" para fazer isso. Basta ter uma pequena chance para criar um grande motivo.
Parafraseando o Zagallo, Parreira engoliu, mas não digeriu bem o quarteto ofensivo. Ainda sente um mal-estar, como uma situação mal resolvida.

Falsa retranca
No primeiro gol do Grêmio contra o Corinthians, o longo tempo que a bola percorreu -do meio-campo até chegar para o atacante tocar de cabeça para o companheiro na entrada da pequena área- dava para um bom goleiro perceber o óbvio, ajeitar o uniforme para ficar bem na foto, sair do gol e se antecipar ao jogador que fez o gol.
Como tinha feito contra o Inter, o Grêmio não deixou o Corinthians jogar. É preciso diferenciar a marcação de perto, em todas as partes do campo, como fez o Grêmio, da retranca, da marcação próxima da área, para atrair o oponente e contra-atacar. O Grêmio não jogou na retranca, como disse o técnico Ademar Braga.
Marcar muito não significa sempre jogar defensivamente, não é estratégia somente de time pequeno nem de time inferior para ganhar do superior. O São Paulo faz isso muito bem e é bastante ofensivo.
Por outro lado, mesmo considerando que os árbitros brasileiros marcam faltas demais inexistentes, o Grêmio fez 42 faltas. Isso diminui a qualidade do futebol, como disse Fernando Calazans. Os grandes times do Grêmio e do Inter eram excelentes porque, principalmente, tinham ótimos jogadores, e não porque faziam muitas faltas e eram guerreiros.
Além das dificuldades que teve para sair da marcação do Grêmio, o Corinthians foi novamente desorganizado.
Quando o Mascherano, que está longe do brilhante volante do River Plate, recebe a bola da defesa e com um passe inicia as jogadas ofensivas, o que ele sempre fez muito bem, Marcelo Mattos, em vez de se adiantar e se tornar um armador pela direita, fica ao lado e próximo do Mascherano.
A maioria das equipes joga dessa forma, com um volante tocando a bola curta e de lado para o outro. Isso atrasa o ataque e facilita a marcação.

Destaque da rodada
Na primeira rodada, notei que todos os times cariocas tiveram mais preocupação com a marcação. Isso é bom. O Fluminense foi, de todos os times brasileiros, o que mais agradou, com os promissores Renato e Lenny, os excelentes Arouca e Petkovic, além de alguns bons jogadores.
Mas ainda é cedo para fazer uma avaliação correta.


E-mail - tostao.folha@uol.com.br

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