São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

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Beleza não põe a mesa, e COI descarta Jogos de 2012 no Rio

Na primeira tentativa encabeçada pelo COB, Brasil fica novamente fora do páreo olímpico já na primeira peneira, após relatório apontar problemas de transporte, segurança e dinheiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Beleza é fundamental, mas não garante Jogos Olímpicos.
Sem condições de transporte, segurança e acomodação, o Rio foi descartado ontem pelo Comitê Olímpico Internacional na corrida pela Olimpíada de 2012 -o órgão não aceitou nem mesmo considerar a candidatura carioca.
Na disputa, que é possivelmente a mais acirrada da história e terminará em julho do ano que vem, ficaram Paris, Londres, Madri, Moscou e Nova York.
No ano passado, quando o Rio obteve o status de cidade aspirante, ao vencer disputa contra São Paulo, o prefeito Cesar Maia havia dito: "Que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental".
A decisão representa a maior derrota de Carlos Arthur Nuzman como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Pela primeira vez a entidade tomou a dianteira da aspiração de uma cidade brasileira na tentativa de receber uma Olimpíada. Em 2000, quando Brasília concorreu, e em 2004, quando foi a vez do Rio, o COB não comandou as campanhas.
"Foi uma decisão que nos surpreendeu e causa decepção", disse Nuzman em Lausanne (Suíça).
Para poder ser considerada candidata, uma cidade teria que preencher requisitos técnicos mínimos em setores como infra-estrutura, estrutura e impacto ambiental, acomodações, transporte, segurança e apoio financeiro.
Como o Rio não atendeu ao mínimo exigido, a cidade foi rejeitada, assim como ocorreu com Istambul, Havana e Leipzig.
Apesar de a decisão ter sido feita a partir de um relatório técnico, o ministro Agnelo Queiroz (Esporte), um dos membros da delegação brasileira na Suíça, atribuiu o fiasco a "interesses políticos". Tanto ele quanto o prefeito Cesar Maia consideraram que a questão da segurança pública pesou contra os cariocas. Mas, na avaliação feita pelo grupo de trabalho do COI, a infra-estrutura (transporte, comunicações etc.) do Rio teve nota inferior à da segurança.
O Rio ficou em sétimo entre as nove aspirantes, com nota máxima de 5,1, à frente apenas de Havana e Istambul, quando a nota de corte era seis. Além da segurança, os cariocas não atingiram seis em infra-estrutura, acomodações e planejamento de transporte.
O informe técnico do COI foi apresentado a dez membros do Comitê Executivo, que o acataram por consenso, definindo as cinco cidades candidatas.
Até 6 de julho de 2005, no entanto, quando sai a decisão, qualquer uma delas pode ser retirada da disputa, se apresentar problemas. "As finalistas são as que têm mais condições para organizar uma Olimpíada", disse o presidente do COI, Jacques Rogge.
Ele afirmou ainda que enviará o informe para cada uma das cidades analisar. Segundo Nuzman, o documento servirá "para entendermos por que nossa proposta foi recebida dessa forma".
O relatório criticou duramente o planejamento financeiro apresentado pela candidatura brasileira, considerado por demais "otimista". Também assim foi considerado o planejamento de transporte. "Dado o histórico de dificuldades do Rio com trens e pistas e o grande custo dessas estruturas, a probabilidade de ter um novo sistema em sete anos parece otimista."
Na questão da segurança, o COI questionou o que o Rio considerava um trunfo: isolar o grosso das competições na Barra da Tijuca. Para o comitê, abrigar tanta coisa junta seria "complexo".
O COI levou em consideração a classificação dada à economia brasileira pela agência de risco Moody's -o que colocou a candidatura brasileira atrás de todas as demais, à exceção de Havana.
De positivo no plano carioca, o comitê enxergou o projeto da Vila Olímpica ("deixará bom legado como complexo residencial") e a opinião pública -pelas pesquisas do COI, o apoio à candidatura só ficou atrás do que tem Havana.


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