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ANÁLISE
Sex appeal move e compromete o projeto Nuzman
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Carlos Arthur Nuzman é um
burocrata que sabe onde pisa,
com boa lábia e espírito empreendedor. Ah, tem olhos
azuis e, vá lá, estampa de galã.
Esse charme, cacifado pelo
currículo atleta-advogado-executivo, não rendeu "somente"
a reverência do esporte (e as
palmas da imprensa) no Brasil.
Permitiu também que Nuzman escalasse vigorosamente a
pirâmide do movimento olímpico internacional. "Lá vem o
carioca de novo", costumam
cochichar os cartolas de outros
países, impressionados.
Por isso a surpresa de Nuzman -e de todos os que o cercavam ontem em Lausanne.
Não esperavam que a cúpula
do COI descartasse de supetão
o "sex appeal" que tanto sucesso fez nos últimos anos.
O recado do dossiê substantivo de 103 páginas é claro.
De nada adianta inscrever a
cidade mais linda do mundo.
Indicar um embaixador com
tantas credenciais. Encaminhar uma proposta bem escrita
e tecnicamente fundamentada.
Espalhar outdoors e engajar a
população. Explorar o carisma
do presidente barbudo.
O COI convive hoje com o
trauma de outra experiência
"sensual". Diante do caos das
obras de infra-estrutura, borra-se de medo, temendo o saldo
da aventura de Atenas-04.
Sabe, ainda, que os Jogos de
Pequim-08, um sonho de mercado, também representam
um tiro no escuro, dado o hermetismo da sociedade chinesa.
Entregar a terceira Olimpíada seguida a alienígenas?
A resposta negativa significa
que agora só interessa ao COI
saber se o candidato olímpico
tem asfalto, transporte público,
telefone, hotel, delegacia de polícia. Se o evento vai ou não
causar dor de cabeça a torcedores e atletas. Se vai ou não ser,
em suma, de Primeiro Mundo.
A oportunidade de engatar
um projeto esportivo, de reinventar um país, de enriquecer a
história dos Jogos... Esse discurso, que embalou as aspirações brasileiras, não cola mais.
O projeto ambicioso de Nuzman parece fadado ao insucesso. O anúncio da Fifa de que a
Copa do Mundo de 2014 deverá
ser no Brasil inviabiliza o recém-nascido Rio-2016. Ou alguém acha que haverá dinheiro
público suficiente para as duas
candidaturas/competições?
Resta ao Rio estapear o COI
com a organização do Pan-Americano de 2007, provar que
uma cidade subdesenvolvida
pode sediar um grande evento.
Nuzman já sabe disso, que
precisa se reinventar, "partir
para a ignorância". Ou corre o
risco de definhar como o Marlon Brando bonitão de "Sindicato dos Ladrões", pugilista lamentando a chance que não
veio. "Eu podia ter sido alguém
na vida, um competidor..."
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