São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2007

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SONINHA

Haja paciência

O Palmeiras joga bem, mas não ganha. Cria, mas não faz gols. A bola passa bem perto, mas teima em não entrar

"NÃO FAÇO questão de jogar bem; meu negócio é fazer gol." Quando um atacante diz isso -não sei se Romário foi o primeiro-, a gente entende.
É claro que jogar bem e fazer gol são coisas diferentes. A ponto de um comentarista, às vezes, emitir um julgamento ao mesmo tempo justificado e absurdo: "Ele [um atacante] só fez os três gols e mais nada".
Mais nada? Pois é, o cara deu canelada o jogo todo, perdeu várias bolas para o adversário, fez passes horríveis, não fez nem uma sombra na marcação e ficou sempre esperando a bola no pé. Jogou bem? Não.
Mas, em três míseras chances, fez três gols. Se a defesa do seu time não tivesse segurado a onda, se o ataque adversário fosse mais competente, ele seria considerado um estorvo.
Mas, como tudo mais deu errado e suas finalizações deram certo, ele fez "só" o mais importante. O Palmeiras, 11º colocado no campeonato, tem jogado bem por ao menos 45 minutos em cada rodada. Nos últimos dois segundos tempos, por exemplo -o que é curioso, pois o técnico tem a reputação de estragar o time durante a partida.
Mas, mesmo depois de substituições unanimemente consideradas um desastre, o time se organiza, toca bem a bola, progride em direção ao ataque, cria chances claras de gol e... não faz. O atacante não faz, os meias não fazem, os laterais nem tentam, os volantes e zagueiros também não se arriscam.
Já foi pior.
Durante muito tempo, o Palmeiras não criava nada, era um time feio, desorganizado, sem inspiração e sem graça. Aos poucos, foi melhorando. Mas não finalizava. Parecia que ninguém se lembrava que era para chutar no gol. Quando isso finalmente acontecia, o desfecho era tão infeliz que não dava nem pra gritar "uh!".
Agora já tem quem chute, e a bola vive passando perto. Mas não entra!
Enquanto isso, falhas da defesa, mais a sorte ou competência do adversário, fazem o bom Diego Cavalieri buscar a bola seguidas vezes no fundo do gol. E mesmo criando boas tramas, exibindo habilidade e conjunto, o Palmeiras acumula uma série de jogos sem vitória.
O torcedor, naturalmente, xinga.
Um ficou tão possesso com a entrada do Cristiano, xingou Caio Jr. com tanta violência, que posso apostar que torceu para ele perder aquele gol na semana passada. Não foi a secada que o fez errar; também não é vagabundagem ou acomodação.
Mas pegar no pé, ameaçar, meter o dedo na cara não ajuda a fazer melhor o que exige calma e precisão. Haja sangue frio. Neguin empaca na seleção brasileira, imagine no modesto Palmeiras.
Que ainda tem os desfalques...
Não adianta pedir paciência com o time só porque a diretoria é a mais certinha dos últimos anos. Que não é perfeita, como nada no sistema solar. Mas não vamos fazer como os mais extremados, que, diante das mazelas da democracia, gritam "que saudade da ditadura".
Problemas de hoje têm raiz lá... O Palmeiras vai indo; fosse um time menor, com menos responsabilidade e pressão, talvez já tivesse feito muito mais gols.
(O Botafogo, com esforço paciente, está chegando lá.)


soninha.folha@uol.com.br

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