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SONINHA
Haja paciência
O Palmeiras joga bem, mas não ganha. Cria, mas não faz gols. A bola passa bem perto, mas teima em não entrar
"NÃO FAÇO questão de jogar
bem; meu negócio é fazer gol."
Quando um atacante diz isso
-não sei se Romário foi o primeiro-, a gente entende.
É claro que jogar bem e fazer gol
são coisas diferentes. A ponto de um
comentarista, às vezes, emitir um
julgamento ao mesmo tempo justificado e absurdo: "Ele [um atacante]
só fez os três gols e mais nada".
Mais nada? Pois é, o cara deu canelada o jogo todo, perdeu várias bolas para o adversário, fez passes horríveis, não fez nem uma sombra na
marcação e ficou sempre esperando
a bola no pé. Jogou bem? Não.
Mas, em três míseras chances, fez
três gols. Se a defesa do seu time não
tivesse segurado a onda, se o ataque
adversário fosse mais competente,
ele seria considerado um estorvo.
Mas, como tudo mais deu errado e
suas finalizações deram certo, ele
fez "só" o mais importante.
O Palmeiras, 11º colocado no campeonato, tem jogado bem por ao menos 45 minutos em cada rodada. Nos
últimos dois segundos tempos, por
exemplo -o que é curioso, pois o
técnico tem a reputação de estragar
o time durante a partida.
Mas, mesmo depois de substituições unanimemente consideradas
um desastre, o time se organiza, toca
bem a bola, progride em direção ao
ataque, cria chances claras de gol e...
não faz. O atacante não faz, os meias
não fazem, os laterais nem tentam,
os volantes e zagueiros também não
se arriscam.
Já foi pior.
Durante muito tempo, o Palmeiras não criava nada, era um time
feio, desorganizado, sem inspiração
e sem graça. Aos poucos, foi melhorando. Mas não finalizava. Parecia
que ninguém se lembrava que era
para chutar no gol. Quando isso finalmente acontecia, o desfecho era
tão infeliz que não dava nem pra gritar "uh!".
Agora já tem quem chute, e a bola
vive passando perto. Mas não entra!
Enquanto isso, falhas da defesa,
mais a sorte ou competência do adversário, fazem o bom Diego Cavalieri buscar a bola seguidas vezes no
fundo do gol. E mesmo criando boas
tramas, exibindo habilidade e conjunto, o Palmeiras acumula uma série de jogos sem vitória.
O torcedor, naturalmente, xinga.
Um ficou tão possesso com a entrada do Cristiano, xingou Caio Jr. com
tanta violência, que posso apostar
que torceu para ele perder aquele
gol na semana passada. Não foi a secada que o fez errar; também não é
vagabundagem ou acomodação.
Mas pegar no pé, ameaçar, meter
o dedo na cara não ajuda a fazer melhor o que exige calma e precisão.
Haja sangue frio. Neguin empaca
na seleção brasileira, imagine no
modesto Palmeiras.
Que ainda tem os desfalques...
Não adianta pedir paciência com o
time só porque a diretoria é a mais
certinha dos últimos anos. Que não
é perfeita, como nada no sistema solar. Mas não vamos fazer como os
mais extremados, que, diante das
mazelas da democracia, gritam "que
saudade da ditadura".
Problemas de hoje têm raiz lá... O
Palmeiras vai indo; fosse um time
menor, com menos responsabilidade e pressão, talvez já tivesse feito
muito mais gols.
(O Botafogo, com esforço paciente, está chegando lá.)
soninha.folha@uol.com.br
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