São Paulo, sábado, 19 de junho de 2010 |
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JOSÉ GERALDO COUTO Pibe pai e pibe filho
NA FALA popular de Buenos Aires, "pibe" quer dizer garoto, moleque, guri. Maradona, como se sabe, ficou conhecido como "el Pibe", e é engraçado que ainda seja chamado assim, agora que já é um avô de barba grisalha. É mais ou menos como Rivellino, que, até se transferir para o Fluminense, aos 28 anos, ainda era chamado de "garoto do Parque". O fato é que hoje o técnico argentino toma sob sua asa outro "pibe", com quem estabeleceu uma relação paternal das mais curiosas. De certo modo, Messi é hoje o Maradona de ontem, o menino prodígio capaz de decidir partidas e encantar multidões. Mas não poderia haver personalidades mais opostas. Se Maradona é explosivo, egocêntrico, Messi é tímido e introvertido a ponto de não gostar de se ver na televisão. "Ainda sinto vergonha", confessa, com os olhos baixos. E Maradona o protege, exalta, adula. Não perde uma chance de dizer que seu pupilo é, de longe, o melhor do mundo, que os outros astros da Copa "não chegam a 40% de Messi". A relação do treinador com seu craque (muito mais do que com seu genro Agüero) é tipicamente de pai e filho ou, antes, de rei e príncipe herdeiro. É como se, à beira do campo, ou diante do pelotão de câmeras e microfones, com o braço nos ombros do novo "pibe", Maradona dissesse: "Filho, um dia tudo isso será seu". Tostão, cuja perspicácia transcende em muito as quatro linhas do campo de futebol, suspeita que, no fundo da alma, o treinador não queira que "la Pulga" brilhe demais, para não eclipsá-lo, não abalar seu trono de número 1 do futebol argentino em todos os tempos. Mas é possível também que o ex-jogador projete no pupilo tudo o que gostaria de estar fazendo em campo com suas próprias pernas, como um pai projeta num filho a continuidade de seus sonhos e desejos. Resta saber se Messi, como todo filho saudável, desejará matar simbolicamente o pai Maradona para assumir, sem esse incômodo peso sobre os ombros, seu lugar na história. O triste é pensar que uma relação análoga de gerações, na seleção brasileira, é entre... Dunga e Felipe Melo. Cada seleção tem a trama edipiana que merece. jgcouto@uol.com.br Texto Anterior: Torcedor burla segurança e invade vestiário Próximo Texto: Alemanha erra 1º pênalti desde 82 Índice |
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