São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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FUTEBOL

O Timão já é um time

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Corinthians ainda não voltou a ser o Timão, mas já é, pelo menos, um time -o que não é pouco.
Contra em Vitória, em Salvador, embora só tenha conseguido o empate, o alvinegro fez sua melhor partida no Brasileirão. Tomou o primeiro gol numa falha de marcação da defesa, mas não se abalou e foi à luta, buscando a meta adversária o tempo todo.
O Corinthians teve o domínio territorial e criou mais chances de gol que o Vitória. Mas não foi só: mostrou variedade de jogadas e poder de surpreender o oponente.
Pela primeira vez deu para sentir nitidamente o papel organizador e motivador do técnico Tite.
Durante toda a partida o alvinegro foi um time solidário e aguerrido, que podia até errar muitos passes, mas sem rifar a bola e sim tentando dar fluência ao jogo. Foram bem usadas as jogadas pelos flancos, com Rosinei e Edson pela direita e Gil e Zé Carlos pela esquerda. No meio, Rogério voltou a mostrar grande mobilidade e espírito de liderança.
Ainda falta muita coisa, claro: um atacante definidor, uma defesa mais entrosada, um volante mais equilibrado e técnico que Fabinho. Mas a evolução do time em poucas rodadas é inquestionável e se deve, a meu ver, principalmente ao treinador, que mexeu pouca coisa, mas ajustou o conjunto e devolveu a confiança a atletas que estavam desalentados.
Outro time que segue em ascensão é o Palmeiras, que anteontem conquistou uma vitória convincente sobre o Grêmio. O elenco alviverde está tão autoconfiante que até o volante Marcinho, normalmente visto apenas como um marcador "carrapato", fez a jogada de craque que resultou no primeiro gol palmeirense.
O fato de o placar ter sido aberto justamente por Pedrinho, jogador que teve atritos recentes com o técnico Estevam Soares, foi importante para selar a paz e a boa fase alviverde. Insisto nesse ponto porque o talentoso meia é um profissional muito sensível às mudanças de ambiente. Precisa estar tranqüilo e motivado para fazer render seu belo futebol.
Se Pedrinho faz a diferença no Palmeiras, Petkovic no Vasco, Roger no Fluminense etc., no São Paulo quem continua sendo decisivo é o goleiro Rogério Ceni, responsável direto pela vitória tricolor de anteontem à noite sobre o Figueirense.
Muitos se perguntam por que um atleta valioso como Rogério não costuma ser chamado para a seleção brasileira. A razão, a meu ver, é menos técnica do que, digamos, política.
Os treinadores em geral, sobretudo os da seleção, vêem com desconfiança os jogadores que exibem consciência e idéias próprias. Preferem os cumpridores de ordens e repetidores de chavões. É por isso, também, que um craque como Alex costuma enfrentar resistências. Só encontra lugar na seleção, quando encontra, porque é impossível ignorar seu esplêndido futebol.

Enigma 1
Quem com gol fere, com gol será ferido. É a sina do Atlético-PR. Após arrasar o Goiás por 6 a 0, o Furacão caiu diante do Inter pelo mesmo placar. Quem explica tanta irregularidade?

Enigma 2
Alex Dias lidera com folga a artilharia do Brasileirão, continuando uma tradição que começou com Túlio e passou por Dimba. Por que será que um time modesto como o Goiás consegue ter tantos artilheiros nacionais?

Elegância de príncipe
Atiçado por um repórter de TV a comentar, no Maracanã, o incrível gol perdido por Marcelo, do Flu, contra o Santos, o ex-craque Eusébio disse: "Cá de fora é fácil, somos todos treinadores. O difícil é lá dentro".


E-mail: jgcouto@uol.com.br


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