São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2011

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LOS GRINGOS - PAUL DOYLE

Na sorte


Na Inglaterra, há o dogma de que os pênaltis são "uma loteria" para a qual não há preparação


SERÁ QUE ônibus vermelhos de dois andares estão assustando os motoristas nas ruas brasileiras?
Ou será que nuvens cinzentas estão chovendo sobre o chá do país?
Não seria surpresa, já que o Brasil está se tornando cada vez mais parecido com a Inglaterra. Pelo menos é o que se pode deduzir pela forma como a seleção brasileira foi eliminada da Copa América da Argentina, anteontem.
A Inglaterra é a campeã mundial de humilhação nas disputas por pênaltis. A seleção inglesa foi eliminada de três Copas do Mundo e de duas Eurocopas nos pênaltis.
Entretanto, ainda assim, a maioria dos jogadores não treina cobrança de pênaltis porque, na Inglaterra, prevalece o dogma de que as penalidades são "uma loteria" para a qual não há uma preparação possível.
Isso expõe um aspecto excêntrico da mentalidade inglesa.
A cultura do futebol do país sempre valorizou mais os sistemas do que a espontaneidade. Mas, quando se trata de decisões por pênaltis, a crença -e Fabio Capello, técnico da seleção inglesa, adere a ela- foi sempre a de que não faz sentido treinar cobranças de pênaltis porque o resultado dependerá de determinar quais são os jogadores que se sentirão mais confiantes para enfrentar a pressão em cada dado momento.
Parece ter escapado à atenção dos treinadores que a prática constante inspira a confiança dos atletas. É por isso que os pilotos treinam com simuladores de voo.
Muitos anos atrás, Aidy Boothroyd, treinador do Watford, ao saber que seu time poderia enfrentar uma decisão por pênaltis para garantir seu acesso à primeira divisão, convidou milhares de torcedores da equipe para ir ao clube, assistir ao treinamento de cobranças de pênaltis e também gritar insultos aos jogadores.
Os atletas disseram que o método os ajudou a aprender como se concentrar, mas a iniciativa de Boothroyd não pegou na Inglaterra.
Antes que a seleção brasileira de Mano Menezes parta para a disputa de um novo torneio, talvez seus jogadores devessem treinar cobranças de pênaltis em um gramado normal.
E também em um traiçoeiro campo argentino que faz a bola se mexer na hora em que o jogador está para chutá-la.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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