São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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"Fantasma", Ipatinga já agoniza na elite do país

Último no Brasileiro, clube mineiro não tem sócios nem uma sede social

Em seu primeiro ano na Série A, time tem pior média de público do torneio e quer atrair torcedores para deixar perfil de equipe de aluguel


SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

Um clube de futebol sem sócios, com apenas 42 funcionários e sem sede social. O presidente é eleito por apenas 12 conselheiros, os jogos do time estão quase sempre com o estádio deserto e o objetivo da diretoria é lucrar com a venda de atletas, e não com títulos.
Com esse perfil inusitado no cenário esportivo nacional, o Ipatinga amarga a pior campanha do Brasileiro-08 em sua estréia na elite. O clube, administrado de uma casa no bairro do Horto, em Ipatinga, tem apenas dez anos de história, foi campeão mineiro em 2005, e vai tentar amanhã deixar a lanterna.
No Ipatingão, estádio construído pela prefeitura da cidade, o lanterna enfrentará o Santos. A equipe mineira tem 16 pontos. Já os paulistas, que estão em penúltimo, somam 18.
"Essa foi a fórmula que encontrei para conseguir fazer futebol no interior. Ela está dando certo nesses anos. Agora, temos que melhorar nossa situação em campo a partir de quarta-feira", disse o empresário Itair Machado, 36, presidente desde 2000 e fundador do clube em 1998, quando propôs aos dirigentes de um modesto time local transformá-lo no que é o Ipatinga atualmente.
No início, Machado contou com o apoio de Zezé Perrella, homem forte do Cruzeiro, que está sendo investigado pelo Ministério Público de Minas Gerais por supostas irregularidades na transferência de jogadores. A parceria entre os clubes fez do Ipatinga uma vitrine para os atletas que o time de Belo Horizonte não usava, mas que tinha intenção de negociar.
"Ele nos ajudou muito. O Cruzeiro pagava 70% do salário dos atletas e nós ficávamos com 20% da venda. Aquilo nos fez crescer, mas não temos mais nada. Agora, o Ipatinga vive das suas pernas", afirmou.
Sem pressão por títulos, o clube está com lucro no balanço de 2008. O saldo positivo foi conseguido no mês passado, quando o atacante Gérson Magrão foi negociado com o Cruzeiro. Os dirigentes do antigo parceiro afirmam ter pago R$ 2 milhões pelo atleta. De acordo com Machado, o futebol custa cerca de R$ 400 mil mensais.
Apesar da boa fase financeira, o Ipatinga é um fracasso dentro de campo e na arquibancada em 2008. No primeiro semestre, a equipe foi rebaixada no Mineiro. Agora, o time é lanterna do Brasileiro e tem a pior média de público da Série A -4.274 torcedores.
"Conseguimos crescer muito, mas a torcida não aparece da noite para o dia. Mesmo assim, já vejo torcedores deixarem o estádio chorando nas últimas derrotas", contou Machado.
O clube tem um programa de sócio-torcedor, que conta com 4.200 participantes. Eles pagam até R$ 30 por mês e têm o direito de assistir aos jogos no Ipatingão. Pela modalidade criada pela diretoria, os contribuintes não têm direito a voto.
"Crescemos muito rápido. Quero agora criar pessoas para tocar o clube", disse o presidente, que pretende deixar o cargo em 2009, ano da próxima eleição. "Para o povo, o dirigente sempre é ladrão. Garanto que vou sair daqui sem um centavo. Só espero manter o time na Série A", acrescentou o cartola.


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