São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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ATLETISMO

Organização esquece vara, e Murer fica fora do pódio

Brasileira erra saltos por falta de equipamento, encontrado na Vila

Bem abaixo de sua melhor marca, Fabiana Murer fica na 10ª posição na prova em que Yelena Isinbayeva é ouro e bate recorde mundial


DOS ENVIADOS A PEQUIM
DA REPORTAGEM LOCAL

Na prova mais aguardada de ontem -o salto com vara para mulheres-, a organização dos Jogos de Pequim cometeu uma falha que prejudicou diretamente Fabiana Murer, 27, que ficou fora do pódio.
No evento coroado pelo 24º recorde mundial da carreira de Yelena Isinbayeva, 26, a brasileira viu uma de suas varas desaparecer. O equipamento foi encontrado pela saltadora em um depósito na Vila Olímpica, em meio ao material das não classificadas para a final.
A vara esquecida era necessária para o salto a partir de 4,55 m até 4,70 m. Após passar pela barreira de 4,45 m, a brasileira foi procurá-la e não achou.
Desesperada com o sumiço, fez reclamação para a arbitragem e até entrou na pista para paralisar a competição.
"Estava nervosa com o sumiço. Sabia que ia chegar a minha hora de saltar e estava sem a vara. Por isso entrei na frente e falei: "Pára a prova porque vocês precisam achar a minha vara"."
Os juízes, porém, continuaram a disputa. O estafe de Murer tentou contornar o problema, sem sucesso.
"Estava com Vitaly Petrov [treinador da Isinbayeva] e até perguntei se ele tinha uma igual. Mas ele não levou porque a Yelena estava com outras mais duras", contou o técnico de Murer, Élson Miranda.
Sem o equipamento, Fabiana desistiu de tentar saltar 4,55 m após ouvir ordem de Miranda. Partiu para os 4,65 m. Só que a vara que utilizava era para alturas maiores do que essa.
Além disso, ela demonstrava claros sinais de nervosismo, caminhando irritada pela pista.
E falhou nas três tentativas: conseguiu ultrapassar o sarrafo, mas esbarrava nele em sua descida, derrubando-o. Acabou em décimo lugar na prova.
"Era uma vara essencial. Tinha que ter feito 4,55 m para acertar a corrida. Essa com a qual tentei 4,65 m foi a vara que usei para saltar altura maior. Não era a adequada", reclamou Fabiana, bronze no Mundial indoor de Valência, neste ano.
O Brasil fez um protesto formal ao Júri de Apelação, requerendo a anulação da prova. O pedido acabou rejeitado.
Fato raro nas competições, o esquecimento da vara não tinha como eclipsar o brilho de Isinbayeva. A russa só foi saltar com o sarrafo a 4,70 m, marca que superou com facilidade.
Um pouco mais tarde, ultrapassou 4,85 m, já garantindo o ouro. Depois de passar por 4,80 m, a norte-americana Jennifer Szuczynsi (prata) falhou ao tentar 4,90 m. Murer tem como melhor marca salto igual ao que obteve a segunda posição.
Com outras finais encerradas, Isinbayeva começou o show. "Adoro essa hora em que todas as atenções estão voltadas para mim. Me sinto uma atriz", disse ela, que lamentou a falta de sorte de Murer.
No terceiro salto, ela superou a barreira de 4,95 m. A partir daí, o alvo era ultrapassar sua melhor marca, de 5,04 m.
Na terceira e última tentativa, Isinbayeva bateu o seu recorde mundial, com 5,05 m.
Fora do Ninho de Pássaro, após a competição, Murer e seu treinador encontrando a vara na Vila Olímpica.
"Estávamos nos protegendo da chuva, quando vimos umas varas em um depósito. Olhamos um monte delas e estava lá, entre as varas das desclassificadas", relatou Miranda. "O garoto responsável não soube explicar." (ADALBERTO LEISTER FILHO, FÁBIO SEIXAS E RODRIGO MATTOS)


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