São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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GUERRA FRIA

CHINA >> RAUL JUSTE LORES

E a China chorou

FOI O MOMENTO mais espontâneo da torcida chinesa nesta Olimpíada. Após a desistência do ídolo nacional Liu Xiang, nos 110 metros com barreiras, centenas de torcedores deram as costas para os demais barreiristas que ainda disputariam a eliminatória e deixaram o estádio.
A multidão derramava lágrimas por todos os lados. Não há campanha de moral e cívica que faça uma torcida dissimular o sofrimento e fazer de conta que a vida continua. Nem 37 medalhas de ouro compensam a contusão do adorado Liu.
Até então, estava tudo muito ensaiado, obedecendo aos scripts estipulados pelo governo chinês. Há pelo menos 70 mil "torcedores" recrutados pelo regime para preencher lugares vazios em estádios e ginásios. Estranhamente, todos os ingressos dessas competições estavam vendidos.
Mas as línguas bem-informadas de Pequim dizem que o Partido Comunista ficou com milhares de ingressos para aqueles com bom trânsito palaciano. Justamente os mesmos lugares vips que deixam clarões percebidos pela TV.
Os fãs ensaiados também torcem fervorosamente com bandeiras de países que nunca ouviram falar - sempre com o gestual que a propaganda governamental ensinou.
O comportamento comedido se repete com chineses que compraram seu ingresso. Pelo menos, eles não ficarão conhecidos mundo afora pelo espírito nada esportivo apresentado por torcedores no Pan do Rio. Em nenhum caso, nem contra o histórico rival Japão, há vaias ou ataques da arquibancada a atletas estrangeiros.
Nada que se pareça à gritaria liderada pelo ex-jogador de basquete Oscar - "Vai cair, vai cair" -, que ele puxou contra ginastas estrangeiros no Pan, bem no momento em que eles mais precisavam de concentração. Para os atletas em campo, mesmo os que jogam contra a China, os aplausos discretos são um alívio.


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