TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Portuguesa, 85 anos. Grêmio, 102. Desesperados por vagas na Série A em 2006, dois dos mais antigos clubes do Brasil depositam hoje suas tradições em jogadores que acabaram de deixar a seleção brasileira sub-17, os atacantes Anderson e Celsinho.
Segundo colocado, o Grêmio de Anderson recebe neste sábado o líder Santa Cruz às 16h. Se vencer, garantirá o acesso no caso de a Portuguesa (terceira) de Celsinho, em casa, empatar com o Náutico (quarto). Para não depender de resultados alheios, o time do Canindé precisa ganhar seus dois jogos para voltar à elite.
O jogo derradeiro da Portuguesa será no sábado que vem, no estádio Arruda, contra o Santa Cruz, que pode assegurar o acesso caso vença o Grêmio hoje.
Mesmo sem a certeza da vaga, o "pé-de-obra juvenil" já rendeu frutos aos dois times, que acumulam dívidas e incertezas. Anderson foi negociado com o Porto, de Portugal, por 5 milhões (R$ 12,7 milhões). Celsinho também está de malas prontas: quando terminar a Série B, deve defender o Lokomotiv de Moscou por cerca de US$ 3,2 milhões (R$ 7 milhões).
Os adolescentes, vice com a seleção brasileira no Mundial sub-17 no mês passado, deram sinais de que sentiram a pressão clubística. Nervoso, Celsinho foi expulso em sua última partida. Anderson, recuperado de torção no tornozelo, vem recebendo vaias dos gremistas, que questionam seu engajamento pós-transferência.
No Mundial, vencido pelo México no Peru, Anderson foi escolhido o melhor jogador da competição. Na final, levou entrada dura logo aos 4min do primeiro tempo, machucando o tornozelo.
"Um atleta de 17 anos sempre vai oscilar", reconheceu Mano Menezes, técnico do Grêmio, que pode ser obrigado a poupar sua maior estrela hoje. "Ele ainda sente algumas dores. Usá-lo só no decorrer do jogo talvez seja melhor", completou Menezes, preocupado com o fato de a torcida ter hostilizado o jogador na última rodada, no empate com a Portuguesa.
Os gremistas ainda não aceitaram a precoce saída da maior revelação do clube desde Ronaldinho, mas reconhecem que a negociação era necessária para quitar dívidas. Há cinco meses, o presidente Paulo Odone falou que o Grêmio corria risco de falir caso disputasse a Série B em 2006.
Com presença garantida hoje contra o Náutico, Celsinho despontou como principal talento revelado no Canindé desde a safra de Rodrigo Fabri, Zé Roberto e Leandro Amaral, em 1996. Nos últimos jogos, seus lances de efeito perderam espaço para a irritabilidade. "Nenhum jovem agüentará toda a responsabilidade sozinho. Precisamos deixar o Celsinho tranqüilo", afirmou, sucinto, o presidente Manuel da Lupa.