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FUTEBOL
Mania de azarar
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Enquanto Kaká jogava no
São Paulo, quem o defendesse em momentos de impopularidade podia ser acusado de interesses escusos ("vocês devem ter
participação no passe quando ele
for para a Europa") -é difícil tirar "passe" do vocabulário- ou
de bairrismo ("se jogasse no Paraná, não teria esse prestígio todo").
Vou insistir: não entendo como
um país que gosta tanto de futebol tem tanta dificuldade para se
comprazer com um grande jogador. É mais fácil desanimar com
seus momentos ruins do que usufruir orgulhosamente dos bons.
Agora que ele está na Europa,
muitos continuam desconfiando
dos elogios e insistindo na tese do
"marketing". Às vezes, ser branquelo é um fardo... Ele entrou em
um time que vencia, mas não maravilhava; assumiu o posto de titular sem contestações e arrebentou. Arrancadas, fintas, dribles,
assistências, finalizações -em
tudo isso, está cada vez melhor.
Pergunte a um grande jogador!
Mas não podemos tripudiar
agora sobre a torcida do São Paulo "que expulsou Kaká do time".
Em primeiro lugar, grande parte
da torcida sempre reconheceu
que as vaias eram injustas. Segundo, porque a própria mídia se
regalou botando lenha na fogueira. Às vezes, Kaká jogava mal, o
que é muito natural. Mas era criticado como se fosse uma fraude,
o famoso produto de marketing.
Às vezes, jogava bem e era o único
em campo a fazê-lo -pouco, portanto, para fazer o São Paulo ganhar o jogo. Mas o comentário no
dia seguinte, na mídia!, era sempre o mesmo: "Kaká continua em
má fase/apagado/ devendo". Resultado: muita gente que nem tinha visto o jogo "sabia" que Kaká
não estava "fazendo nada".
A mídia fez mais do que isso:
demonstrou, com números, que o
garoto realmente amarelava em
finais. E questionou várias vezes o
processo de fortalecimento pelo
qual ele passou. Por mais que especialistas dissessem que um trabalho bem feito não fazia mal nenhum; que um jogador mais forte
corria menos risco de se lesionar,
e não o contrário, havia sempre
uma conclusão, dita ou escrita
nas entrelinhas: "Estão acabando
com o futebol dele". Que mania
de azarar as promessas!
Não me esqueço de uma entrevista com Silas, quando ele jogava
na Inter de Limeira (2003): "Os
caras [zagueiros] do time disseram que tá difícil parar o Kaká
agora. Antes, você dava um tranquinho, ele saía voando. Agora
não, o bicho tá forte. E tá correndo muito, você não alcança o cara". Como diriam nos filmes de
tribunal: "no further questions"...
Agora, mais uma vez Alex é
questionado -por um pequeno
grupo de torcedores e por alguns
jornalistas, que não se importam
de jogar para a torcida. Criticar é
um direito inalienável, mas avacalhar um bom jogador para ficar
bem com a massa, não dá.
Em linda entrevista à ESPN, Bebeto, campeão do mundo em 94,
contou que até hoje é recebido
com carinho na Espanha (onde a
mídia chegou a espalhar que ele
não quis bater aquele pênalti que
valeria o título...). A gente não sabe mesmo dar valor ao que tem.
Indiscutível
Por que não discutir Ronaldinho Gaúcho? Ora, porque não
há o que discutir. Quem desconfia do seu talento; quem discorda que ele seja um dos melhores (ou o melhor) do mundo
no momento? Ele é a corporificação da expressão "jogar com
alegria". Palmas para ele!
Sub-20
Corinthians e Grêmio vão ficar
sem Jô e Marcelinho por mais
de um mês, por causa da seleção que vai para Toulon e Busan. Assim não vale mesmo a
pena investir na prata da casa...
2012
Pode-se lamentar a eliminação
do Rio da disputa pela Olimpíada, mas não considerá-la injusta. Ainda temos de investir
muito em infra-estrutura.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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