São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Mania de azarar

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Enquanto Kaká jogava no São Paulo, quem o defendesse em momentos de impopularidade podia ser acusado de interesses escusos ("vocês devem ter participação no passe quando ele for para a Europa") -é difícil tirar "passe" do vocabulário- ou de bairrismo ("se jogasse no Paraná, não teria esse prestígio todo").
Vou insistir: não entendo como um país que gosta tanto de futebol tem tanta dificuldade para se comprazer com um grande jogador. É mais fácil desanimar com seus momentos ruins do que usufruir orgulhosamente dos bons.
Agora que ele está na Europa, muitos continuam desconfiando dos elogios e insistindo na tese do "marketing". Às vezes, ser branquelo é um fardo... Ele entrou em um time que vencia, mas não maravilhava; assumiu o posto de titular sem contestações e arrebentou. Arrancadas, fintas, dribles, assistências, finalizações -em tudo isso, está cada vez melhor. Pergunte a um grande jogador!
Mas não podemos tripudiar agora sobre a torcida do São Paulo "que expulsou Kaká do time". Em primeiro lugar, grande parte da torcida sempre reconheceu que as vaias eram injustas. Segundo, porque a própria mídia se regalou botando lenha na fogueira. Às vezes, Kaká jogava mal, o que é muito natural. Mas era criticado como se fosse uma fraude, o famoso produto de marketing. Às vezes, jogava bem e era o único em campo a fazê-lo -pouco, portanto, para fazer o São Paulo ganhar o jogo. Mas o comentário no dia seguinte, na mídia!, era sempre o mesmo: "Kaká continua em má fase/apagado/ devendo". Resultado: muita gente que nem tinha visto o jogo "sabia" que Kaká não estava "fazendo nada".
A mídia fez mais do que isso: demonstrou, com números, que o garoto realmente amarelava em finais. E questionou várias vezes o processo de fortalecimento pelo qual ele passou. Por mais que especialistas dissessem que um trabalho bem feito não fazia mal nenhum; que um jogador mais forte corria menos risco de se lesionar, e não o contrário, havia sempre uma conclusão, dita ou escrita nas entrelinhas: "Estão acabando com o futebol dele". Que mania de azarar as promessas!
Não me esqueço de uma entrevista com Silas, quando ele jogava na Inter de Limeira (2003): "Os caras [zagueiros] do time disseram que tá difícil parar o Kaká agora. Antes, você dava um tranquinho, ele saía voando. Agora não, o bicho tá forte. E tá correndo muito, você não alcança o cara". Como diriam nos filmes de tribunal: "no further questions"...
Agora, mais uma vez Alex é questionado -por um pequeno grupo de torcedores e por alguns jornalistas, que não se importam de jogar para a torcida. Criticar é um direito inalienável, mas avacalhar um bom jogador para ficar bem com a massa, não dá.
Em linda entrevista à ESPN, Bebeto, campeão do mundo em 94, contou que até hoje é recebido com carinho na Espanha (onde a mídia chegou a espalhar que ele não quis bater aquele pênalti que valeria o título...). A gente não sabe mesmo dar valor ao que tem.

Indiscutível
Por que não discutir Ronaldinho Gaúcho? Ora, porque não há o que discutir. Quem desconfia do seu talento; quem discorda que ele seja um dos melhores (ou o melhor) do mundo no momento? Ele é a corporificação da expressão "jogar com alegria". Palmas para ele!

Sub-20
Corinthians e Grêmio vão ficar sem Jô e Marcelinho por mais de um mês, por causa da seleção que vai para Toulon e Busan. Assim não vale mesmo a pena investir na prata da casa...

2012
Pode-se lamentar a eliminação do Rio da disputa pela Olimpíada, mas não considerá-la injusta. Ainda temos de investir muito em infra-estrutura.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Teahupoo no micro
Próximo Texto: Futebol: Defesa falha e Santos leva empate no fim
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.