São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

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TOSTÃO

Missão quase impossível

O Grêmio tem um desafio e tanto pela Libertadores, e a seleção terá outro, para usar Robinho, Kaká e Ronaldinho

V OU TORCER para o Grêmio, mas tenho pouquíssimas esperanças de o time ser campeão da Libertadores. Isso não significa que seja impossível. Entre o que desejo e penso e o que vai acontecer há uma grande diferença.
Com as prováveis escalações de Lucas, talvez de Amoroso -está na hora de ele dar o ar de sua graça-, e se o Grêmio pressionar, não deixar o Boca ficar com a bola, como o time gaúcho fez contra o Santos em Porto Alegre, e ainda se contar com muita sorte, poderá ocorrer o quase impossível. Parafraseando um tal de Shakespeare, que gostava de brincar com as palavras, o futebol tem muito mais mistérios do que sabe a nossa vã filosofia.

Treino alemão
As ausências de Ronaldinho e Kaká podem ser úteis à seleção, pois dará chance a outros jogadores. O time não pode depender tanto dos dois, nem de Robinho na Copa América. Não podemos achar também que os craques são sempre os responsáveis pelas vitórias e pelas derrotas. Dunga vai armar a seleção do jeito que gosta e sabe, com dois volantes pelo meio, o Elano pela direita defendendo e atacando e o Diego na ligação com os dois atacantes (Robinho livre e mais um centroavante). O time fica um pouco torto, sem o meia pela esquerda para fazer o que Elano faz pela direita.
Se o técnico da seleção fosse Capello ou a maioria dos técnicos europeus, Robinho jogaria pela esquerda, marcando e atacando, como faz no Real Madrid. Mesmo se o Brasil jogar muito bem na Copa América, Dunga terá de mudar o esquema tático para escalar juntos Ronaldinho, Kaká e Robinho. Será outro problema. Com os três, o time ficou muito embolado pelo meio, deixando o centroavante isolado. Para os três brilharem juntos -creio nisso-, a seleção precisaria de um técnico mais experiente, com mais conhecimentos, além de visionário, desses que gostam de inovar, de sair do lugar-comum. Esse treinador é cada dia mais raro.
Discordo do conceito de que uma seleção, por ter pouco tempo para treinar, não tem condições de jogar de maneira diferente, como às vezes acontece em um clube. O tempo é relativo. Pode ser até o contrário. Para fazer igual aos outros, basta treinar muito e repetir, até aprender. Já para inovar, encantar, improvisar com sucesso e surpreender, é preciso de muita criatividade, ousadia e de pouco tempo. Além disso, a seleção perde muito tempo com tantos treinos de dois toques e em campo pequeno.
Dunga repete Parreira, que repete a maioria dos técnicos, que repete um tal alemão que inventou, não sei quando, essa prática, chamada até hoje de treino alemão. Nem tudo que é alemão é bom.
A turma do oba-oba e quase todos os técnicos podem me dar milhões de explicações científicas para esse tipo de treino e me chamar de ultrapassado e saudosista, mas treino bom para mim é o que simula situações técnicas e táticas idênticas ou muito parecidas com as de um jogo, o que não significa que seja necessário fazer muitos treinos coletivos, como ocorria no passado.

tostao.folha@uol.com.br


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