São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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regras do jogo

COI veta coalizão de cidades por 2016

Após Lula afirmar ter pacto com a Espanha, presidente do comitê condena aliança eleitoral de candidatas à Olimpíada

Mandatário se diz defensor do universalismo e prega necessidade de espalhar superevento para o maior número de pessoas possível

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A 12 dias da definição da sede da Olimpíada-2016, o belga Jacques Rogge, 67, é tão assediado a ponto de receber ligação até do presidente dos EUA, Barack Obama. Não é à toa. É o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional) que controla a corrida olímpica disputada entre Chicago, Madri, Rio de Janeiro e Tóquio.
Assim, é político nas respostas em entrevista por e- -mail à Folha -sua assessoria até deixou claro que ele não comentaria sobre as candidatas. Mas Rogge é incisivo ao condenar acordos eleitorais entre postulantes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propalou pacto com o rei espanhol Juan Carlos. Quem perdesse em um turno entre Madri e Rio apoiaria o outro na sequência. Só que o dirigente olímpico também minimiza o papel dos chefes de Estado na disputa.

 

FOLHA - Qual a importância do relatório para a escolha dos Jogos?
JACQUES ROGGE
- O papel da comissão de avaliação é preparar o relatório técnico detalhado, não dar sua opinião. O relatório é só mais uma parte do sistema para ajudar os membros do COI a entender as várias forças e fraquezas das cidades.

FOLHA - O senhor acha que também há um elemento emocional na decisão do COI pela sede da Olimpíada? Os membros costumam apoiar cidades do seu continente?
ROGGE
- Cada membro levará em consideração os aspectos técnicos que ele ou ela acha importante, mas também outros elementos que eles pensam que mereçam ser levados em consideração. (...) Alguns focam nas instalações para atletas, outros, em infraestrutura, alguns, nas finanças, e outros, em uma combinação desses fatores. Seria injusto que eu tentasse adivinhar as escolhas individuais de mais de cem membros do COI. Cada um tem diferentes experiências, conhecimentos e "visões de mundo".

FOLHA - O COI já pensou em ter regra [rodízio de continentes] como houve na Copa? É bom ter dois Jogos seguidos no mesmo continente?
Qual a importância de levar a Olimpíada a novos lugares?
ROGGE
- Na minha visão, não seria inteligente ter uma regra "rápida e dura". O COI (...) estabeleceu regras para controlar o tamanho da Olimpíada. Esse é o melhor mecanismo que temos para garantir que os Jogos permaneçam de uma forma que dê para gerenciar e que o maior número de cidades no mundo possa realizar o evento. Nós também escolhemos as cidades com base no fato de poderem receber com sucesso os Jogos -não com base em qual local estão situadas. Claro, eu sou um advogado do universalismo e da necessidade de espalhar os Jogos e sua experiência para o maior número de pessoas possível. Realmente, a saúde e o sucesso do movimento olímpico a longo prazo depende de nós atingirmos o maior número de pessoas [o Rio pode ser a primeira cidade da América do Sul a receber os Jogos].

FOLHA - Na sua opinião, como evoluiu a qualidade das candidaturas e como isso afetou a corrida por 2016?
ROGGE
- Elas [as cidades candidatas] têm que dar respostas muito detalhadas para perguntas de nossa comissão de avaliação. Questões sobre, entre outras coisas, finanças, infraestrutura, transporte, instalações de atletas, e é claro que, na última década, o COI tornou-se mais e mais exigente, e realmente as cidades candidatas estão mais dedicadas para fornecer material mais detalhado.

FOLHA - Depois da crise econômica, as garantias financeiras do governo para a organização do evento são mais importantes?
ROGGE
- Claramente, a atual instabilidade financeira afetou a todos nós, do COI a todas as federações esportivas e os comitês olímpicos nacionais, e isso claramente teve um grande impacto nos OCOGs [comitês organizadores] também, embora isso seja provavelmente uma preocupação menor para as candidaturas para 2016. Pode-se esperar que a situação financeira atual vá ter melhorado. Garantias financeiras são importantes por definição em uma crise financeira.

FOLHA - Qual é o papel dos chefes de Estado das candidatas na eleição? O senhor acha importante eles comparecerem aos eventos do COI?
ROGGE
- Nós entendemos que é claro que os chefes de Estado vão querer dar apoio às suas cidades, mas nós fizemos todo o processo de uma forma que a presença deles não é necessária. A presença de chefes de Estado é importante para as cidades candidatas em primeiro lugar, pois isso demonstra que o projeto tem o apoio do mais alto nível no país. Mas não se deveria superestimar a influência deles nos votantes.

FOLHA - Nas regras de condutas para as candidatas para 2016 é proibido fazer qualquer acordo ou coalizão entre as cidades. Então, uma candidata poderia fazer um acordo em que, se uma das cidades perder no primeiro turno, passaria a apoiar a outra no próximo?
ROGGE
- Elas não deveriam fazer isso, e, de qualquer jeito, os membros do COI é que tomam uma decisão baseados na documentação e nas perguntas que eles fizeram. Os votos em Copenhague são o final de um longo e sistemático processo, não é uma questão de "bloco de votos" ou "coalizões". Os membros do COI vão tomar a decisão e votar de acordo com que cidade é melhor para sediar os melhores Jogos em 2016.


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