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São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

Fecho de ouro

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Nada melhor que fechar o ano com um título mundial. A conquista da seleção sub-20 vem selar um momento de plena supremacia do futebol brasileiro no mundo e, ao mesmo tempo, batizar toda uma geração de novos talentos.
Dudu Cearense, Daniel Carvalho, Nilmar, Daniel, Adriano e vários outros mostraram nos Emirados Árabes que o Brasil estará bem servido por muitos anos ainda. Sem falar daquele que talvez seja o melhor de todos, Dagoberto, que, contundido, acabou jogando pouco no Mundial.
Desculpem a euforia, que não condiz com o tom prudente e até ranzinza que costumo adotar diante da seleção principal, mas é que, se pararmos para pensar, veremos que o que caracterizou o ano que está terminando foi uma intensa injeção de sangue novo no futebol brasileiro.
Jogadores jovens surgidos nos dois anos anteriores, como Kaká, Diego, Robinho, Daniel Carvalho, Dudu Cearense, Alex (Santos), Carlos Alberto (Flu), Edu Dracena e Dagoberto, chegaram em 2003 ao que poderíamos chamar de maturidade futebolística.
Ao mesmo tempo, surgiram outros: Nilmar, Kléber (do São Paulo), Vágner Love e um punhado de novos Diegos.
Todos os citados até agora têm idade para jogar na seleção olímpica. Aliás, depois da Copa do Mundo 2002 e dos Mundiais vencidos este ano (sub-17 e sub-20), só falta conquistarmos em Atenas o ouro olímpico, único título que ainda não saboreamos.
Claro que nem tudo é assim tão róseo. O leitor perspicaz deve ter notado que, entre os muitos jogadores que mencionei, só dois são zagueiros de área. Nesse setor também houve alguma renovação, mas a defesa continua sendo nosso calcanhar-de-aquiles.
Na própria seleção sub-20 que acaba de se sagrar campeã, os únicos jogadores que não me inspiram confiança são os zagueiros.
Mesmo na partida de ontem, em que o Brasil jogou quase o tempo todo com um a mais (devido à expulsão de um espanhol aos 3min do primeiro tempo), a defesa mostrou sua fragilidade em dois ou três lances que deixaram a Espanha muito perto do gol.
Tirando isso, e uma certa afoiteza dos atacantes brasileiros (o que prolongou nossa angústia até os minutos finais de uma partida que parecia fácil), a seleção de Marcos Paquetá foi esplêndida.
O time começou mal na primeira fase, mas se acertou e cresceu ao longo do torneio. Amadureceu alguns anos em duas semanas.
Eu não conhecia o trabalho de Paquetá, mas um treinador que consegue o feito inédito de vencer dois títulos mundiais (sub-17 e sub-20) num único ano merece aplausos.
Merece admiração também a seleção espanhola, que, mesmo com um a menos, ofereceu uma resistência tremenda.
George W. Bush chama de "our boys" os soldados americanos que saem pelo mundo bombardeando países. Já os nossos rapazes, em vez de jogar bombas, fazem gols, conquistam troféus e voltam felizes da vida.

Filme manjado
Posso até queimar minha língua, mas a política de novas contratações do Corinthians me parece destinada ao fracasso, a menos que haja uma mudança de rota. Trazer jogadores em decadência, parados ou encostados em seus clubes foi a receita que equipes como o Vasco e o Fluminense adotaram em 2003, com os resultados que se conhecem.


Salve Zidane
Nada a objetar contra a escolha de Zinedine Zidane como o melhor jogador do mundo. É, para mim, o mais completo e elegante futebolista em atividade. Mas, cá entre nós, o segundo colocado, Thierry Henry, precisa comer muito arroz e feijão para chegar à estatura do "gordito pero cumplidor" Ronaldo.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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