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Hi-tech na Europa, grama sintética padece no Brasil
Enquanto a Uefa ouve atletas para melhorar superfícies,
campo paulista utilizado em competições está obsoleto
Velocidade e quique da bola mudam no piso artificial usado na Copa São Paulo e faz jogadores, técnico e até o juiz buscarem adaptações
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Apontada como a principal
responsável pela evolução do
futebol em países nórdicos, a
grama sintética pode ser responsável por mais um recorde
brasileiro no esporte. Mas a
realidade desse tipo de piso no
Brasil é bem diferente de seu
desenvolvimento na Europa.
Nesta semana, a evolução da
grama artificial é um dos temas
do congresso da entidade que
comanda o futebol na Europa.
Anteontem, o São Bernardo
se classificou para as quartas-de-final da Copa São Paulo
após bater o Vila Nova no castigado campo sintético do município do ABC, usado pela primeira vez no torneio.
Entre uma e outra realidade,
um oceano de diferença.
Enquanto os europeus celebram o sucesso de uma parceria entre clubes e a Uefa, que
desde 2003 oferece subsídios
para o estudo e o desenvolvimento de gramados sintéticos;
em São Bernardo, o juiz James
Anderson de Moraes teve que
se certificar de que as bolas tivessem uma calibragem um
pouco mais baixa que a usada
na grama natural, para evitar
que a bola quicasse tanto.
Enquanto os europeus, que
já substituíram a superfície do
estádio Raasunda (na Suécia,
onde o Brasil levantou a Copa
pela primeira vez), anseiam por
realizar um jogo da Eurocopa
de 2008 em grama artificial, os
próprios administradores do
campo do ABC, o primeiro em
dimensões oficiais no país e a
ser usado em torneio da FPF,
reconhecem que o piso tem excesso de areia na superfície, de
uma tecnologia já obsoleta.
"No ano que vem, teremos
que trocar o piso. Com o avanço
de tecnologia, a grama sintética
é o futuro do futebol. A qualidade do gramado não se deteriora
tão rápido quanto a grama natural e a manutenção da sintética é mais fácil e barata", diz o
secretário municipal de Esportes, José Fiorizi Piovesana, sobre campo do Baetão, cujas linhas do campo nunca foram repintadas desde a inauguração.
Ele conta que o campo não é
usado só por atletas de elite.
"Sempre tem alguém jogando.
Além dos treinos dos times
masculinos e do feminino da cidade, o campo é usado por amadores. Mas, para um torneio de
nível mais alto, precisamos de
uma grama mais moderna."
Segundo um de seus assessores, já se cogitou emplacar o
campo no livro dos recordes,
como o local onde a bola rolou
por mais tempo de forma ininterrupta -diz ele que foram
mais de 24 horas de futebol.
Contudo Piovesana só conheceu o caderno de encargos
da Fifa para certificação de gramados sintéticos -publicado
em março do ano passado- pela reportagem, anteontem.
"Pelo que vi de forma superficial, são encargos para os fabricantes do gramado."
As maiores restrições da Fifa
visam restringir os pontos mais
criticados por atletas: o quique
e a velocidade da bola, que são
mais fortes no piso sintético.
No ABC anteontem, os dois
problemas foram citados pelo
técnico do Vila Nova, Karmino
Colombini. "Jogar aqui foi totalmente diferente. Nosso time
estranhou muito. A velocidade
da bola é muito diferente e,
além de termos jogado com calçados inadequados, não soubemos tirar vantagem do campo."
Até o goleiro Thiago, do São
Bernardo, sensação do jogo ao
pegar o pênalti que classificou o
time, citou particularidades do
campo sintético. "Aqui a bola
quica mais e vem mais rápido.
Fizemos um trabalho específico de adaptação", conta o batedor de faltas, que diz preferir as
cobranças no campo sintético.
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