São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2007

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Hi-tech na Europa, grama sintética padece no Brasil

Enquanto a Uefa ouve atletas para melhorar superfícies, campo paulista utilizado em competições está obsoleto

Velocidade e quique da bola mudam no piso artificial usado na Copa São Paulo e faz jogadores, técnico e até o juiz buscarem adaptações


LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apontada como a principal responsável pela evolução do futebol em países nórdicos, a grama sintética pode ser responsável por mais um recorde brasileiro no esporte. Mas a realidade desse tipo de piso no Brasil é bem diferente de seu desenvolvimento na Europa.
Nesta semana, a evolução da grama artificial é um dos temas do congresso da entidade que comanda o futebol na Europa.
Anteontem, o São Bernardo se classificou para as quartas-de-final da Copa São Paulo após bater o Vila Nova no castigado campo sintético do município do ABC, usado pela primeira vez no torneio.
Entre uma e outra realidade, um oceano de diferença.
Enquanto os europeus celebram o sucesso de uma parceria entre clubes e a Uefa, que desde 2003 oferece subsídios para o estudo e o desenvolvimento de gramados sintéticos; em São Bernardo, o juiz James Anderson de Moraes teve que se certificar de que as bolas tivessem uma calibragem um pouco mais baixa que a usada na grama natural, para evitar que a bola quicasse tanto.
Enquanto os europeus, que já substituíram a superfície do estádio Raasunda (na Suécia, onde o Brasil levantou a Copa pela primeira vez), anseiam por realizar um jogo da Eurocopa de 2008 em grama artificial, os próprios administradores do campo do ABC, o primeiro em dimensões oficiais no país e a ser usado em torneio da FPF, reconhecem que o piso tem excesso de areia na superfície, de uma tecnologia já obsoleta.
"No ano que vem, teremos que trocar o piso. Com o avanço de tecnologia, a grama sintética é o futuro do futebol. A qualidade do gramado não se deteriora tão rápido quanto a grama natural e a manutenção da sintética é mais fácil e barata", diz o secretário municipal de Esportes, José Fiorizi Piovesana, sobre campo do Baetão, cujas linhas do campo nunca foram repintadas desde a inauguração.
Ele conta que o campo não é usado só por atletas de elite. "Sempre tem alguém jogando. Além dos treinos dos times masculinos e do feminino da cidade, o campo é usado por amadores. Mas, para um torneio de nível mais alto, precisamos de uma grama mais moderna."
Segundo um de seus assessores, já se cogitou emplacar o campo no livro dos recordes, como o local onde a bola rolou por mais tempo de forma ininterrupta -diz ele que foram mais de 24 horas de futebol.
Contudo Piovesana só conheceu o caderno de encargos da Fifa para certificação de gramados sintéticos -publicado em março do ano passado- pela reportagem, anteontem.
"Pelo que vi de forma superficial, são encargos para os fabricantes do gramado."
As maiores restrições da Fifa visam restringir os pontos mais criticados por atletas: o quique e a velocidade da bola, que são mais fortes no piso sintético.
No ABC anteontem, os dois problemas foram citados pelo técnico do Vila Nova, Karmino Colombini. "Jogar aqui foi totalmente diferente. Nosso time estranhou muito. A velocidade da bola é muito diferente e, além de termos jogado com calçados inadequados, não soubemos tirar vantagem do campo."
Até o goleiro Thiago, do São Bernardo, sensação do jogo ao pegar o pênalti que classificou o time, citou particularidades do campo sintético. "Aqui a bola quica mais e vem mais rápido. Fizemos um trabalho específico de adaptação", conta o batedor de faltas, que diz preferir as cobranças no campo sintético.


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