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FUTEBOL
Maioria dos 40 atletas que tentaram a sorte no país não tem nem contrato
Brasileiros vão ao Paraguai e encaram "vida de escravo"
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Jogadores brasileiros sem mercado no país invadiram o Paraguai em busca de emprego e sustento. Mas lá, segundo o próprio
sindicato de atletas local, a maioria encara "uma vida de escravo".
A migração de brasileiros para o
país vizinho mais do que triplicou
em um período de um ano.
Os dados, obtidos pela Folha,
são do Departamento de Registro
e Transferência da CBF.
De janeiro até dezembro de
2003, os clubes paraguaios surpreenderam ao contratar 40 brasileiros. Em 2002, 12 atletas cruzaram a ponte da Amizade.
Apesar do grande número de
transferências, que colocam o Paraguai como o quarto maior importador de "pé-de-obra" brasileiro, a grande parte dos que foram tentar a sorte nos gramados
paraguaios tem vida difícil. Quase
todos vivem no subemprego. Ao
trocar de país, os brasileiros, que
atuam na segunda divisão, jogam
sem contrato, convivem com a
discriminação e são obrigados a
dividir quartos com até quatro colegas de clube.
"Eles vivem como escravos.
Não têm direito a nada. Muitas
vezes são enganados pelos seus
empresários. Tenho pena deles,
mas pouca coisa conseguimos fazer até agora", disse o presidente
do Sindicato dos Jogadores de Futebol do Paraguai, Hector Rojas.
Segundo o sindicato local, cerca
de 30 brasileiros jogam na segunda divisão paraguaia.
O sindicalista aponta o River
Plate, de Assunção, como o principal exemplo de maus-tratos aos
jogadores brasileiros.
Pelos documentos da CBF, 12
atletas se transferiram para o time. "O futebol aqui é muito amador. Os campos são esburacados,
os jogadores reclamam muito da
alimentação e da falta de privacidade, mas todos esperam subir na
vida. Por isso, estamos aqui. Todos acreditam que vão conseguir
um futuro melhor", disse Giba,
atacante do Santos nos anos 80 e
técnico do River Plate.
Giba contou que os jogadores
são obrigados a dormir em quartos construídos embaixo da tribuna do estádio em Assunção. "Tenho que ser quase um psicólogo.
Converso todos os dias com eles
para mantê-los animados."
O volante Rodrigo, 23, um dos
poucos que não moram dentro do
estádio, não escondeu que a situação é dura no clube.
"O salário é muito baixo. Vivo
apenas para treinar e ficar em casa", disse o ex-jogador do Internacional. Ele disse que recebe cerca de R$ 500 por mês.
"Além de o dinheiro ser curto,
existe uma rivalidade com os atletas paraguaios. Às vezes, eles chegam a falar em guarani para não
entendermos nada", disse o volante, que mora com o técnico em
uma casa cedida pelo clube.
Giba é o único que tem contrato
assinado com a empresa que gerencia o futebol do River. A Soccer Planet Paraguai, que tem uma
filial no Brasil, pertence ao empresário paraguaio Roberto Sato, que
atualmente mora no Japão.
"Ele está sem dinheiro e não paga mais ninguém. Mesmo assim,
a situação dos outros brasileiros
em clubes da segunda divisão não
é muito diferente", disse o sindicalista paraguaio.
Apesar do quadro, alguns conseguem sucesso e prestígio na carreira. Dez jogadores atuam na primeira divisão. O atacante Fábio
Nunes, do Guaraní, é um dos destaques do futebol local. Vice-artilheiro do Paraguaio-03, ele ganha
cerca de US$ 4.000 (quase R$ 12
mil) e deve se transferir para a Europa no segundo semestre.
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