São Paulo, sábado, 21 de março de 2009

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Aos 13, Ana dribla fama e corredeira por Londres-12

Campeã nacional de canoagem com 12 anos, garota de Mato Grosso vive cercada de cuidados para vingar no esporte

Canoísta, que já desfilou em carro de bombeiros na cidade natal e começa a treinar às 5h, é apontada como grande promessa

MARIANA LAJOLO
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

As corredeiras do rio das Mortes, em Mato Grosso, não assustam mais. Todos os dias, pontualmente às 5h, Ana Vieira Vargas leva seu barco às margens e treina como quem remasse por águas calmas.
O esforço já rendeu resultados. Em 2008, ela conquistou o título nacional, com o melhor desempenho da história do Brasileiro de canoagem slalom.
Ana, no entanto, não pode alçar voos mais altos. Não por falta de vontade ou de apoio. O problema está em seu RG.
A mato-grossense tem apenas 13 anos e vem sendo cercada de cuidados pela família e pelos dirigentes. Tudo para não pular etapas e evitar o desperdício de um talento que já é apontado como candidato a vaga nos Jogos de Londres-2012.
A reação da população da cidade natal de Ana depois da conquista do Brasileiro corrobora essa preocupação. Com apenas 12 anos, ela até desfilou em carro dos bombeiros pelas ruas de Primavera do Leste.
"Fiquei empolgada, agora todo mundo na cidade me conhece", afirma. "O título foi bem inesperado. Eu não estava confiante, porque tinha menina chegando da Olimpíada [Poliana de Paula, 19]", completa ela.
Além de ter na água as melhores atletas do país, a conquista de Ana foi impressionante também pela pouca intimidade que a mato-grossense tinha com o novo esporte.
A garota já praticava natação por incentivo do pai. Um dia, em 2007, encantou-se pelas aulas de canoagem e decidiu experimentar. Quem assistiu a esse primeiro contato diz que seu talento saltou aos olhos.
"Percebi que todos os meninos erravam o trajeto na pista. Ela não, era atenciosa, levava jeito", afirma Darci Oberdan, presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso.
Na primeira competição, com barco de plástico, Ana terminou em último lugar em sua faixa etária. Ficou frustrada, porém decidiu insistir.
"Aos poucos ela foi se desenvolvendo e começou a ganhar tudo", relembra Oberdan.
Ana só treinava canoagem slalom, com provas em águas rápidas. Certa vez, viajou para São Paulo para participar de uma competição de velocidade. Após apenas três dias de treino, chegou em primeiro lugar.
"Ela tem talento, mas o que impressiona é a determinação. É tão confiante e serena que fico assustado", diz Oberdan.
Desde que decidiu investir na canoagem, Ana acorda diariamente às 5h e vai para o rio. Treina por cerca de duas horas e segue para a escola -está na sétima série do ensino fundamental. À tarde, volta para a água e, depois, corre.
"No começo, eu ficava cansada, mas agora consigo seguir essa rotina. Tenho muito apoio dos meus pais", afirma Ana.
Os pais apoiam, mas também mantêm o sinal de alerta ligado. Cláudio é pedreiro. A mãe, Márcia, é dona de casa e voltou neste ano aos bancos escolares. De família humilde, temem que a filha se deslumbre com o sucesso momentâneo.
"Tentamos fazê-la manter a rotina de uma criança de 13 anos. Fazemos o máximo para o sucesso não subir à cabeça. Ela está bem, mas isso pode acabar", afirma a mãe.


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