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Em reunião na CBF, legislação assinada por Lula sofre primeira ofensiva
Contra lei do torcedor, clubes param futebol
DA REPORTAGEM LOCAL
O Clube dos 13 e a CBF anunciaram no início da noite de ontem
que o Campeonato Brasileiro está
suspenso. A alegação: a impossibilidade de cumprir boa parte dos
itens do Estatuto do Torcedor, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quinta.
O estatuto é uma espécie de Código de Defesa do Consumidor
aplicado ao esporte. Versa sobre
diversos temas, da necessidade de
os ingressos serem numerados
até a responsabilização de dirigentes por incidentes ocorridos
dentro e fora dos estádios.
Segundo os clubes e a confederação, não haveria tempo hábil
para adequar o primeiro Nacional
de pontos corridos à nova legislação. E, portanto, a competição está suspensa em todos os seus níveis -a Série A, a B e até a C, que
ainda nem começou. Os jogos de
hoje pela Copa do Brasil e o do
Grêmio, amanhã, pela Libertadores, foram mantidos, com o argumento de que a venda de ingressos já estava em curso.
Ou seja, o futebol brasileiro pára, mas só no final de semana.
A reunião, na sede da CBF, contou com a cúpula da entidade,
executivos da TV Globo e representantes de federações. A lista de
clubes presentes é controversa, sinal de que o movimento não é
uníssono. Foram confirmadas as
presenças de Flamengo, Fluminense, Vasco, Santos, Cruzeiro,
Atlético-MG, Atlético-PR e Grêmio. Teriam participado ainda
Guarani e Internacional. São Paulo e Corinthians foram ausências
tão sentidas que alguns dirigentes
chegaram a incluí-los na reunião.
Os rebaixados Botafogo e Palmeiras disseram que não foram
nem avisados do encontro.
Além da paralisação, os clubes
decidiram ainda entrar na Justiça
arguindo contra alguns artigos da
nova lei. Ficou acertada a procura
de um partido político para patrocinar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade. Mas isso estava nos planos desde abril, quando o
projeto de lei passou no Senado.
"Todos nós queremos a moralização do futebol, mas há alguns
artigos dessa lei que são impraticáveis. Como a responsabilização
dos dirigentes por incidentes entre torcidas dentro ou fora do estádio. Os dez times que estiveram
reunidos decidiram parar com o
Brasileiro porque o governo fingiu que nos ouviu. Nenhuma das
nossas sugestões foi contemplada", declarou Zezé Perrella, diretor de futebol do Cruzeiro.
Artur Rocha Neto, presidente
em exercício do Flamengo, disse
que houve um consenso na reunião. "O governo tem que flexibilizar o prazo. Foi uma decisão forte, mas a agonia por não poder
cumprir a lei era grande, e tivemos que parar o campeonato."
Já o presidente do conselho deliberativo do Atlético-MG, que não
participou da reunião, lamentou a
decisão dos seus colegas. "Não temos como não acatar, já que não
vai ter arbitragem, não vai ter fiscalização. Mas é uma vergonha.
Trata-se de uma corja de ladrões
que não querem obedecer às leis.
Se o Atlético fez parte disso, estou
fora. O futebol é a farra do Brasil",
disparou Alexandre Kalil.
Destinatário das ameaças, o governo respondeu por meio de Agnelo Queiroz, ministro do Esporte. À TV Globo, disse que "lei é para ser cumprida". "Ela foi debatida durante meses com a sociedade. Faltou conhecimento para tomarem essa decisão precipitada."
Mas, mesmo que Queiroz consiga convencer os clubes a prosseguir, ele terá outra frente de oposição, composta pelas federações.
Eduardo Viana, presidente da Federação do Rio, afirmou ontem
que não permitirá a realização de
nenhum jogo em seu Estado. A
responsabilização também atinge
os organizadores das partidas.
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