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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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Em reunião na CBF, legislação assinada por Lula sofre primeira ofensiva

Contra lei do torcedor, clubes param futebol

DA REPORTAGEM LOCAL

O Clube dos 13 e a CBF anunciaram no início da noite de ontem que o Campeonato Brasileiro está suspenso. A alegação: a impossibilidade de cumprir boa parte dos itens do Estatuto do Torcedor, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quinta.
O estatuto é uma espécie de Código de Defesa do Consumidor aplicado ao esporte. Versa sobre diversos temas, da necessidade de os ingressos serem numerados até a responsabilização de dirigentes por incidentes ocorridos dentro e fora dos estádios.
Segundo os clubes e a confederação, não haveria tempo hábil para adequar o primeiro Nacional de pontos corridos à nova legislação. E, portanto, a competição está suspensa em todos os seus níveis -a Série A, a B e até a C, que ainda nem começou. Os jogos de hoje pela Copa do Brasil e o do Grêmio, amanhã, pela Libertadores, foram mantidos, com o argumento de que a venda de ingressos já estava em curso.
Ou seja, o futebol brasileiro pára, mas só no final de semana.
A reunião, na sede da CBF, contou com a cúpula da entidade, executivos da TV Globo e representantes de federações. A lista de clubes presentes é controversa, sinal de que o movimento não é uníssono. Foram confirmadas as presenças de Flamengo, Fluminense, Vasco, Santos, Cruzeiro, Atlético-MG, Atlético-PR e Grêmio. Teriam participado ainda Guarani e Internacional. São Paulo e Corinthians foram ausências tão sentidas que alguns dirigentes chegaram a incluí-los na reunião.
Os rebaixados Botafogo e Palmeiras disseram que não foram nem avisados do encontro.
Além da paralisação, os clubes decidiram ainda entrar na Justiça arguindo contra alguns artigos da nova lei. Ficou acertada a procura de um partido político para patrocinar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade. Mas isso estava nos planos desde abril, quando o projeto de lei passou no Senado.
"Todos nós queremos a moralização do futebol, mas há alguns artigos dessa lei que são impraticáveis. Como a responsabilização dos dirigentes por incidentes entre torcidas dentro ou fora do estádio. Os dez times que estiveram reunidos decidiram parar com o Brasileiro porque o governo fingiu que nos ouviu. Nenhuma das nossas sugestões foi contemplada", declarou Zezé Perrella, diretor de futebol do Cruzeiro.
Artur Rocha Neto, presidente em exercício do Flamengo, disse que houve um consenso na reunião. "O governo tem que flexibilizar o prazo. Foi uma decisão forte, mas a agonia por não poder cumprir a lei era grande, e tivemos que parar o campeonato."
Já o presidente do conselho deliberativo do Atlético-MG, que não participou da reunião, lamentou a decisão dos seus colegas. "Não temos como não acatar, já que não vai ter arbitragem, não vai ter fiscalização. Mas é uma vergonha. Trata-se de uma corja de ladrões que não querem obedecer às leis. Se o Atlético fez parte disso, estou fora. O futebol é a farra do Brasil", disparou Alexandre Kalil.
Destinatário das ameaças, o governo respondeu por meio de Agnelo Queiroz, ministro do Esporte. À TV Globo, disse que "lei é para ser cumprida". "Ela foi debatida durante meses com a sociedade. Faltou conhecimento para tomarem essa decisão precipitada."
Mas, mesmo que Queiroz consiga convencer os clubes a prosseguir, ele terá outra frente de oposição, composta pelas federações. Eduardo Viana, presidente da Federação do Rio, afirmou ontem que não permitirá a realização de nenhum jogo em seu Estado. A responsabilização também atinge os organizadores das partidas.


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