São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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Grandalhões encontram seus iguais na competição

DA REPORTAGEM LOCAL

O esporte pode ser o porto seguro para adolescentes grandalhões não só por garantir um corpo mais forte e saudável.
Para muitos, é a peça fundamental de socialização para se adaptar a um mundo que parece acolher apenas os que são mais baixos do que eles.
"Quando comecei a nadar, me senti menos diferente. Os meus colegas eram parecidos comigo. Ser alto é bom para um nadador", afirma Bruno Barbosa, 14 anos e 1,86 m, que já tem no currículo títulos brasileiros.
A sensação de Bruno é ratificada por especialistas. No esporte, os garotos são valorizados exatamente pelo que os torna "estranhos" aos outros.
"Eles encontram seus iguais. As meninas que são muito altas, como no vôlei, podem por salto alto numa boa, porque as pessoas em volta são como elas. E os garotos gostam delas assim", diz Márcia Pilla do Valle, psicóloga do Grêmio Náutico União, clube de Porto Alegre.
No ambiente esportivo, eles também podem dividir experiências incômodas. "Viagens de ônibus e avião são a parte mais complicada. A gente vai apertado mesmo, tem de esticar a perna no corredor", reclama Renan Buiatti, jogador de vôlei de 16 anos e 2,07 m.
"Na hora de comprar roupa, nunca tem no meu tamanho. No metrô, me abaixo para entrar no vagão. Sou muito maior do que a minha cama, mais alto que o box, que o chuveiro... Às vezes esqueço e bato a cabeça quando vou atravessar alguma porta", enumera Jhonny Jackson Silva e Silva, de 15 anos e 2 m, jogador de basquete do Espéria, equipe de São Paulo.
Para crianças muito altas, ações simples, como comprar sapatos, podem se tornar um martírio. A indústria e os comerciantes de calçados têm, mesmo que de forma ainda tímida e sem base em estudos científicos, dado mais atenção aos pés dos "gigantes" mirins.
"A necessidade faz a realidade. Nos últimos dez anos percebemos que houve um aumento de cerca de 20% no tamanho médio dos calçados infantis e juvenis. E a demanda tem aumentado", comenta Antônio Espolador, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas de Artefatos e Calçados.
Apesar dos percalços, crianças e adolescentes que encontram abrigo no esporte sabem qual é o seu trunfo. "Não sei ainda até quando irei crescer. Resolvi não fazer o exame para saber. Vou deixar nas mãos de Deus. Mas espero chegar a 2,10 m, para me ajudar na carreira", afirma Jhonny. (ALF, GR E ML)


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