São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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Brazil x Brasil

Dilema de Parreira por Adriano ou Robinho para pegar o Japão amanhã coloca em choque duas versões da seleção no Mundial: mais européia, com o ataque da Inter, ou mais à brasileira, com o jogador do Real Madrid

EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL

ENVIADOS ESPECIAIS A BERGISCH GLADBACH

Não é só uma questão de nomes. Quando definir se escala Robinho, 22, ou Adriano, 24, para enfrentar o Japão amanhã, às 16h, em Dortmund, Carlos Alberto Parreira vai escolher entre o Brasil que remete às suas raízes na bola e o Brasil que dá certo hoje na Europa.
O franzino Robinho (64 kg), que ontem treinou finalizações ao lado de Ronaldo, é o representante do drible, que só encantou de verdade no Santos -no Real Madrid, tem sido irregular e visitado o banco de reservas com freqüência. O parrudo Adriano (86 kg) é o durão que chuta forte e construiu sólida reputação no futebol italiano -saiu jovem do Flamengo, sem nenhum grande feito.
A dúvida se fortalece porque Parreira sinaliza que mudará o time contra o Japão, já que o Brasil está classificado para as oitavas-de-final -ele só confirmou Ronaldo, que, segundo o técnico, precisa ganhar ritmo.
Mas também porque Parreira está em dúvida se mantém a dupla Ronaldo e Adriano no ataque para o mata-mata.
Na reunião que fez com os jogadores antes do jogo com a Austrália, o treinador cobrou fortemente o ataque da seleção, em palavras que fortalecem Robinho. A Folha apurou que Parreira deixou claro não considerar só Ronaldo lento. Martelou que os dois atacantes precisam se mexer mais, colocando Adriano também contra a parede. A falta de mobilidade da dupla é vista pela comissão técnica como um mal que abala o time inteiro. Sobrecarrega os meias e, por tabela, a defesa.
"Eu quero jogar, ter a chance de fazer gols", afirma Adriano.
"Ainda tenho muito para dar [no Mundial]. Quero sair campeão do mundo, quero fazer gols, mostrar o meu melhor futebol e aparecer. Já fiz duas boas exibições, mas tenho muito o que melhorar", cutuca Robinho, que voltou a dizer que ninguém é insubstituível.
No dilema entre o driblador e o eficiente, ambos têm trunfos e problemas. A seu favor, Robinho conta com a melhora que o Brasil apresentou quando ele entrou diante de Croácia e Austrália. Por outro lado, está pendurado com um cartão amarelo. Se levar outro contra o Japão, fica fora das oitavas.
Adriano espera a gratidão de Parreira por já ter salvo a seleção com gols em momentos decisivos. Mas o técnico já disse que ele anda se desgastando em demasia nos últimos jogos.
Os números também indicam que a diferença de estilo dos dois nesta Copa é gritante. Adriano fintou os adversários, em média, uma vez a cada 35 minutos. Robinho precisou só de cinco minutos para cada drible. Como Adriano jogou mais, o Brasil era, segundo o Datafolha, só a quinta equipe no ranking de dribles ao fim da segunda rodada. A média de 19,5 é a menor das últimas três Copas.
Mas Adriano já fez um gol no Mundial e foi o artilheiro brasileiro nas conquistas da Copa América-04 e da Copa das Confederações-05, enquanto Robinho continua longe de ser um excepcional finalizador.


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