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Ar estrangeiro
HOUVE um tempo,
quando ainda jogava pelo Hannover
96, em que Gerald Asamoah recebia bananas, para ofendê-lo como "macaco", um nefando clássico
do racismo.
Ontem, no entanto, Asamoah foi recebido com
aplausos da torcida alemã,
ao entrar em campo para a
partida (àquela altura já ganha) contra o Equador.
Nascido em Gana, Asamoah, 27, é o primeiro negro a vestir a camisa branca
da seleção alemã. É verdade que tem sido convocado
já faz cinco anos, mas disputar uma Copa com a camisa da pátria de adoção
tem um valor extraordinário, mais ainda se se considerar que Asamoah, além
do racismo, enfrentou problemas cardíacos para se
tornar profissional.
A presença de Asamoah
acaba sendo uma espécie
de ilustração de uma Alemanha que, de alguma maneira, lembra a França de
1998. Ou seja, imigrantes
ou filhos de imigrantes dão,
literalmente, cor aos times
nacionais de países brancos. Claro que, na França
campeã do mundo, o número de filhos de imigrantes era bem maior e começava pelo melhor jogador
do time, Zinedine Zidane,
filho de argelinos.
De todo modo, na Alemanha-06, quatro dos oito
gols até agora marcados foram feitos por um polonês,
Miroslav Klose, que, de
resto, tem como companheiro de ataque outro polonês, Lukas Podolski.
Na partida contra a Polônia, que garantiu a Alemanha na segunda fase, o único gol surgiu de pés "estrangeiros". O cruzamento
foi de David Odonkor, descendente de ganeses como
Asamoah, aproveitado por
Oliver Neuville, nascido na
vizinha Suíça.
E ainda ficou de fora na
última hora Kevin Kura-nyi, nascido no Brasil, de
pai alemão e mãe panamenha, que vinha sendo convocado desde 2003.
O paradoxal nessa relativa "estrangeirização" do time local é o fato de que a
mídia européia e parte da
norte-americana estão encantadas com o ressurgimento de um nacionalismo
sadio em um país em que,
por motivos óbvios, nacionalismo era palavrão.
Curioso também que, em
meio ao festival de bandeiras alemãs que aparecem
em toda parte, surgem acopladas bandeiras turcas. A
comunidade turca é imensa na Alemanha e o tratamento duro dado a ela há
alguns anos deu origem a
um clássico do notável escritor Günther Grass.
@ - crossi@uol.com.br
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