São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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Ar estrangeiro

HOUVE um tempo, quando ainda jogava pelo Hannover 96, em que Gerald Asamoah recebia bananas, para ofendê-lo como "macaco", um nefando clássico do racismo.
Ontem, no entanto, Asamoah foi recebido com aplausos da torcida alemã, ao entrar em campo para a partida (àquela altura já ganha) contra o Equador.
Nascido em Gana, Asamoah, 27, é o primeiro negro a vestir a camisa branca da seleção alemã. É verdade que tem sido convocado já faz cinco anos, mas disputar uma Copa com a camisa da pátria de adoção tem um valor extraordinário, mais ainda se se considerar que Asamoah, além do racismo, enfrentou problemas cardíacos para se tornar profissional.
A presença de Asamoah acaba sendo uma espécie de ilustração de uma Alemanha que, de alguma maneira, lembra a França de 1998. Ou seja, imigrantes ou filhos de imigrantes dão, literalmente, cor aos times nacionais de países brancos. Claro que, na França campeã do mundo, o número de filhos de imigrantes era bem maior e começava pelo melhor jogador do time, Zinedine Zidane, filho de argelinos.
De todo modo, na Alemanha-06, quatro dos oito gols até agora marcados foram feitos por um polonês, Miroslav Klose, que, de resto, tem como companheiro de ataque outro polonês, Lukas Podolski. Na partida contra a Polônia, que garantiu a Alemanha na segunda fase, o único gol surgiu de pés "estrangeiros". O cruzamento foi de David Odonkor, descendente de ganeses como Asamoah, aproveitado por Oliver Neuville, nascido na vizinha Suíça.
E ainda ficou de fora na última hora Kevin Kura-nyi, nascido no Brasil, de pai alemão e mãe panamenha, que vinha sendo convocado desde 2003. O paradoxal nessa relativa "estrangeirização" do time local é o fato de que a mídia européia e parte da norte-americana estão encantadas com o ressurgimento de um nacionalismo sadio em um país em que, por motivos óbvios, nacionalismo era palavrão.
Curioso também que, em meio ao festival de bandeiras alemãs que aparecem em toda parte, surgem acopladas bandeiras turcas. A comunidade turca é imensa na Alemanha e o tratamento duro dado a ela há alguns anos deu origem a um clássico do notável escritor Günther Grass.


@ - crossi@uol.com.br

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