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Bairro mais temido muda com Copa
Região com os mais altos índices de criminalidade da África do Sul fica a só 10 minutos de um dos principais estádios
Para moradores de Hilbrow,
Mundial tem conseguido
atrair investimentos para o
local e ajudado a minimizar
os números da violência
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO
As placas à mostra no caminho já dão o aviso aos motoristas: "Área de alto índice de crime. Por favor, desligue o celular
e concentre-se".
A poucos metros dali está
Hilbrow, o bairro mais temido
não apenas de Johannesburgo,
mas de toda a África do Sul, no
qual os índices de criminalidade são assustadores.
O carro da Folha adentra as
ruas lotadas de Hilbrow. São
mães carregando crianças nas
costas, presas por um tipo de
pano, vendedores ambulantes
e até cabeleireiro fazendo penteado no meio da rua. Mas a
grande maioria só conversa,
sem fazer nada mesmo.
São muitos grupos assim. Ficam no meio da rua, em frente
aos prédios e às casas, boa parte deles mal conservada. A reportagem começa a percorrer
as ruas. Os olhares dos locais
são desconfiados.
Afinal, os brancos sul-africanos não ousam andar por ali.
Um homem se aproxima. É Daniels Kanu, nigeriano, que vive
em Hilbrow há sete anos.
Ele se oferece como guia.
"Hilbrow carrega essa fama de
violenta, mas não é mais assim.
A polícia deu um jeito no lugar.
Hoje é tranquilo vir aqui, especialmente nesta época de Copa
do Mundo", afirma. "Perigoso
mesmo é Lagos, minha cidade",
acrescenta, referindo-se ao
principal município nigeriano.
Mas e os índices altíssimos
de assassinatos? No ano passado, houve 36 por grupo de 100
mil habitantes na África do Sul.
Como comparação, no Brasil
são 25 por 100 mil.
Em Hilbrow, esse número já
foi de cem mortes por 100 mil
habitantes. "Olha, o último que
me lembro aqui foi em 2003",
conta Daniels, sem ter muita
certeza. O problema da violência na África do Sul, de acordo
com pesquisas de opinião realizadas no país, é o que mais
preocupa a população.
A caminhada de mais de uma
hora da reportagem pelas ruas
do bairro durante uma manhã
ensolarada em Johannesburgo
mostra um local, pelo menos
na aparência e nessa hora do
dia, bastante tranquilo.
"Eu não troco Hilbrow por
nada", declara Naomi Bathmaka, 24, que trabalha como garçonete em Sandton, um dos locais mais elegantes de Johannesburgo. "Nunca me aconteceu nada aqui. Hilbrow se tornou um lugar seguro para viver", afirma a moça, que vive
no bairro desde 2005 com o
marido e o filho de quatro anos.
Uma das preocupações da
polícia local e dos organizadores da Copa é o fato de Hilbrow
estar situado a menos de dez
minutos, a pé, do Ellis Park, um
dos mais importantes estádios
do Mundial do ano que vem.
Os moradores de Hilbrow dizem que isso contribuiu para a
diminuição da criminalidade
no local. "Houve um investimento maior nessa área, e o
preço dos imóveis aumentou
até aqui em Hilbrow", declara
Ekhaya Burotab, que caminhava pela principal praça do bairro acompanhado da mulher.
"Temos um filho e achamos
bom que ele cresça aqui", diz
ele, que também não pensa em
deixar Hilbrow. O casal até pretende abrir uma guest house,
espécie de pensão familiar, para receber turistas durante a
Copa do Mundo de 2010.
A mulher de Daniels, Eva,
aparece. Ela diz já ter sido assaltada no bairro uma vez, durante o dia. "Levaram a minha
bolsa enquanto eu falava no celular", conta. "Mas gosto daqui.
É conveniente morar aqui pelo
fato de estar perto do Centro",
afirma ela, que é secretária.
Enquanto ela é entrevistada,
um carro de polícia passa pela
rua, devagar, e para. É o chefe
de polícia local de Hilbrow, que
se apresenta como Nelson.
Quando questionado sobre
a fama de violenta da região,
ele declara: "Vocês estão aqui,
tiveram algum tipo de problema? Não. Então, isso é Hilbrow, mas é claro que não se
deve andar à toa por aqui, especialmente nessas noites frias
de Johannesburgo".
(EDUARDO ARRUDA E PAULO COBOS)
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