São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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ATLETISMO

Após périplo, atleta da faixa de Gaza deseja ver a filha

Último nos 5.000 m, Al Masri só foi a Pequim após apelo em jornal

Beneficiado pela política chinesa, ele ganhou material e até alimentação, mas agora quer voltar à sua terra para conhecer recém-nascida


DO ENVIADO A PEQUIM

A lista de tarefas de Nader Al Masri, na chegada a Pequim, era composta por três itens. Na ordem, achar sapatilhas baratas para disputar os 5.000 m, largar na prova pela qual tanto batalhou e pegar o avião para conhecer a filha, Raghed, que está em casa. Na faixa de Gaza.
O primeiro foi mais fácil do que previa. Incorporado pela força-tarefa chinesa de apoio a países e territórios que lhe são politicamente simpáticos, Al Masri ficou 30 dias num campo de treino com direito a orientação de técnicos locais, alimentação balanceada e kit de materiais. Incluindo sapatilhas.
Que calçou ontem. Al Masri, único atleta da faixa de Gaza nos Jogos de Pequim, participou da primeira bateria eliminatória para os 5.000 m, no Ninho de Pássaro. E foi notado. Se não pelas sapatilhas, por sua atuação. Último colocado na sua bateria, cruzou a linha de chegada 30s atrás do vencedor. Aplaudido por todo o estádio.
"Isso se deve à falta de ritmo. Fica difícil competir com esses campeões. Consegui manter o ritmo até 2.000 m, mas a falta de competições me derrubou."
Agora, para se reunir à família e segurar Raghed pela primeira vez, iniciará o retorno da mais conturbada viagem da sua vida. "Ainda não acredito que saí de Gaza. Hoje, você contorna meio mundo em 14 horas. Mas, para sair de Gaza, precisa de semanas", disse Al Masri, 28.
Desde Atlanta-96, a Palestina participa dos Jogos com delegação própria, e Israel nunca impôs barreiras para a saída dos olímpicos da faixa de Gaza.
Mas a história mudou após a tomada de poder no território pelo grupo radical islâmico Hamas, em junho de 2007. A última prova de Al Masri havia sido nos Jogos Asiáticos-06, no Qatar. Terminou em oitavo.
Desde então, treinava em estradas de cascalho, muitas vezes ao som explosões -um foguete, por engano, acertou sua casa. Al Masri ainda lutou para ir a Pequim, a ponto de, em abril, enviar apelo ao "Yedioth Ahronoth", maior jornal israelense. O bilhete foi publicado: "Imploro para que não arruinem meu sonho olímpico. Tenho 28 anos e há dez estou correndo por isso. Por favor, não tenho nada a ver com política".
Funcionou. Dias depois, teve a autorização. "Agora vou ver minha filha que nasceu quando estava aqui... Vou treinar mais. O que fiz não foi o suficiente para a Palestina." (FÁBIO SEIXAS)


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