São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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Na TV, futebol chinês espanta machismo

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O jogo entre as seleções femininas de futebol de Brasil e Estados Unidos terá uma espectadora ilustre. A jornalista Lu You, 35, é a maior autoridade em futebol da televisão chinesa. Fã do time, ela diz que Marta está jogando melhor que Ronaldinho.
"A seleção masculina do Brasil esteve inacreditável contra a Argentina, parecia que estava sem técnico", diz.
As opiniões da bela jornalista da CCTV são levadas a sério pela torcida - ela diz que isso não tem relação com o pouco gingado dos homens de seu país com a bola.
"Vejo mais machismo no futebol da Europa ou da América do Sul do que na China. Aqui, as pessoas me respeitam, faço perguntas incisivas e trabalho na CCTV, a maior rede de televisão daqui, o que ajuda", reconhece.
Ela é uma celebridade local. Nos últimos cinco anos, Lu cobriu a Eurocopa, a Copa da Alemanha e visitou 20 países - até gravou especiais em clube brasileiros. Já entrevistou de Joseph Blatter a Rooney, de Ronaldo a Figo.
"Os jogadores me respeitam. Alguns até sorriem demais, mas acho normal. Também olho para os jogadores mais bonitos", revela.
Lu começou a gostar do esporte aos 8 anos de idade, quando assistiu com o pai a seu primeiro jogo em um estádio. "Naquela época, os chineses tinham no máximo uma televisão em casa. Minha mãe e minha irmã não gostavam de futebol e meu pai fez de tudo para eu ficar do lado dele na hora de decidir o que assistiríamos", conta.
Hoje, ela é a cara do futebol da CCTV. Não é pouca coisa. Quando o Real Madrid visitou a China, em 2005, a entrevista coletiva do time aconteceu na sede do Congresso chinês, e até os treinos da equipe eram televisionados ao vivo.
"Os chineses não sabem jogar, mas entendem tudo porque assistem aos melhores. Cada jogo dos campeonatos Italiano, Espanhol, Francês, Alemão, Inglês é acompanhado por milhões", diz.
Lu é torcedora do Milan e fanática por Marco Van Basten. Mas seu momento mais impressionante foi um jogo entre River e Boca em Buenos Aires. "Nunca vi um estádio tremer como a Bombonera."
Por que o futebol não consegue seguir o caminho de outros esportes na China, de tradição zero a campeões em medalhas? "A China só começou a organizar há dez anos. É como uma criança. O torcedor chinês está mal-acostumado, vendo jogadores brasileiros e times europeus. É duro demais para o futebol local".
Por isso, ela vê um lado positivo na contusão de Liu Xiang, ídolo chinês dos 110 metros com barreiras. "Nós, chineses, precisamos aprender a perder e ver que a derrota faz parte do esporte."


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