São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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Futebol ganha museu sem relíquias

Com vocação interativa e poucas peças históricas, espaço no Pacaembu tem no audiovisual seu acervo mais importante

Apego de colecionadores e proposta de modernidade explicam a tímida coleção física do local, que exibirá camisas antigas da seleção


ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um museu sem relíquias, que aposta na diversão e na interatividade, com objetos "antigos" recém-envelhecidos.
Em resumo, será assim o Museu do Futebol, que abre as portas ao público em 1º de outubro após sucessivos adiamentos -a inauguração estava prevista, originalmente, para agosto. Antes, no dia 29, acontece uma abertura para convidados.
Construído ao custo de R$ 37,5 milhões no estádio do Pacaembu, não tem como vocação a preservação de lembranças físicas do esporte mais popular do Brasil -que conquistou cinco Copas do Mundo. Não possui um troféu em seu acervo.
O museu exibirá, por exemplo, uma série de camisas originais utilizadas por jogadores da seleção brasileira em todos os Mundiais. Ainda assim, trata-se de uma cessão em comodato de um colecionador particular.
Museus mais modestos, como o dos Esportes, em Maceió, também possuem uniformes antigos usados em Mundiais (essas peças, volta e meia, são leiloadas na internet).
"O colecionador de objetos ligados ao futebol não abre mão de suas relíquias assim tão facilmente", reconhece Hugo Barreto, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, que administrou o projeto.
"Mesmo assim, o foco do museu nunca foi agrupar objetos, mas oferecer uma experiência sensorial aos visitantes", disse.
O modelo é uma tendência mundial que, no Brasil, tem no Museu da Língua Portuguesa seu maior expoente: interação com vídeos e áudios, envoltos em ambiente cenográfico, e com diversos equipamentos (como aparelhos de TV e rádios) via de regra operados pelos próprios visitantes -a sensação, em vários momentos, é a de estar num videogame.
No aspecto audiovisual, o Museu do Futebol possui 1.442 fotos e seis horas de vídeos, além de gravações de narrações de gols célebres por locutores históricos como Ary Barroso, Geraldo José de Almeida e Oduvaldo Cozzi. Entre esse material, pouca coisa é inédita ou considerada rara.
O registro visual não se prende ao jogo em si. A idéia é exibir a trajetória da sociedade brasileira entrelaçada com a bola.
O que muda com relação a um museu convencional é a apresentação -a expografia é assinada por Daniela Thomas, uma das mais conhecidas cenógrafas brasileiras.
É de Daniela a atração mais original exposta no local: um conjunto de pebolins que mostra a evolução dos esquemas táticos do futebol mundial.
Ela não é a única grife presente. Celebridades como Nelson Motta e Lima Duarte também estão lá, na Sala dos Gols, narrando tentos marcantes de seus clubes do coração.
"Trata-se de um percurso conceitual, que mostra a dimensão e a importância do futebol na construção do DNA nacional", explica Barreto, que revela um detalhe curioso: por muito pouco o museu não foi construído no Maracanã, no início da década. "Faltaram pequenos detalhes", conta.
A cenografia e o viés teatral estão espalhados pelo museu. Daí a idéia, diante da dificuldade de conseguir originais, de fabricar bolas e chuteiras de época, que estarão expostas numa das instalações dos 6.900 m2 que o espaço ocupa no estádio.
O museu também teve como objetivo resgatar o projeto arquitetônico do Pacaembu -de responsabilidade do escritório de Ramos de Azevedo, o estádio foi inaugurado em abril de 1940 e é tombado pelo patrimônio histórico de São Paulo.
A casa de exposições ocupa área embaixo das arquibancadas no setor do portão principal, em frente à praça Charles Miller. Um passadiço envidraçado permite sua vista.
Ali, funcionavam uma churrascaria e alojamentos para equipes amadoras que disputam jogos na cidade.


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