São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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Até esporte bancado pelo bingo acha que bingo não é confiável

Confederações que recebiam verba do jogo falam em falta de transparência nos repasses

LUÍS FERRARI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em ano olímpico, as confederações reclamam da decisão de anteontem do governo de acabar com o bingo, mas reconhecem: nem os esportes que lucravam com a atividade no Brasil consideram o jogo confiável.
Apesar de pelo menos três federações e cinco clubes que praticam handebol estarem associados ao bingo, Manoel Oliveira, presidente da Confederação Brasileira de Handebol, reconhece que sempre teve preocupação com o estigma do negócio no país. "Tivemos medo do envolvimento com o jogo. Eu sei de handebol, não entendo nada de sorteios, cartelas e apostas. Não conhecíamos bem o processo dos bingos e temia manchar a idoneidade do esporte."
"Nossa relação [da confederação] com os bingos foi como uma passagem de cometa. Durou pouco mais de um ano, o sorteio era pela televisão, e o negócio nos rendia até R$ 20 mil mensais."
Apesar de a Abrabin -Associação Brasileira de Bingos- apontar o ciclismo como uma das modalidades que mais se beneficiam dos recursos do bingo, a própria confederação diz que é difícil saber se os 7% do faturamento que o jogo deveria repassar ao esporte são, de fato, transferidos.
A CBC alega não ter contato com casas de bingo e diz que, na modalidade, cinco federações e seis clubes são ajudados pelo jogo. Entretanto, no cadastro de entidades beneficiadas pela Abrabin, ao qual a Folha teve acesso, consta o nome da confederação.
É o mesmo caso da canoagem, cuja confederação diz ter chegado a trabalhar com casas em seis diferentes Estados, mas que, desde maio de 2003, não recebe mais nada do bingo -apesar de estar na lista das entidades favorecidas pela Abrabin. A confederação diz que não tinha controle sobre o dinheiro movimentado pelo jogo e desconhecer se o que o esporte recebia no repasse representava, de fato, 7% do faturamento da casa, como determinava a legislação.
"É ruim falar em valores porque todo mundo fica em cima, a Receita [Federal], a polícia. A pressão sobre o bingo é muito grande", disse Carlos Occhipinti, vice-presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo.
Já Coaracy Nunes Filho, presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, entidade que já teve o apoio do bingo virtual -por televisão-, acha que falta transparência para a atividade. "Nunca quis me relacionar [diretamente] com casas de bingo. O virtual é mais transparente, permite um controle mais nítido do jogador", explicou.
O boxe, que tem 23 clubes e federações auxiliadas pelo bingo, também reclama que falta controle ao jogo, e o esporte acaba recebendo migalhas por não ter acesso à contabilidade das casas.
É outra modalidade cuja confederação está cadastrada como beneficiada pela Abrabin, apesar de negar receber ajuda do jogo.
"Tive prejuízo", protestou Newton Campos, presidente da Federação Paulista de Boxe, beneficiada por cinco anos com o dinheiro dos bingos. "O Bingo Turiassu [que faliu há cerca de um ano] não nos pagou nos três últimos anos de funcionamento, e os reflexos são sentidos até hoje. Primeiro, diziam que tinham de nos direcionar 7% do total, mas acho que nunca fizeram o certo."
"Era muito difícil [para a federação] fiscalizar. Recebíamos R$ 15 mil por mês. Depois fixaram em R$ 10 mil, independentemente do faturamento -o que era ilegal. Nos três últimos anos nos deram calote. Sumiram do mapa."


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