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Laços políticos comandam África-2010
Membros do governo e pessoas ligadas ao presidente sul-africano ocupam principais postos do comitê organizador
Chefe do órgão que gerencia a Copa do Mundo é pai de uma garota com quem o mandatário do país, Jacob Zuma, acaba de ter um filho
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
No papel, a Copa do Mundo
da África do Sul é organizada de
maneira independente do governo e não tem coloração partidária. Na prática, virou uma
peça da política sul-africana e
está totalmente subordinada
aos interesses do presidente, o
polêmico Jacob Zuma.
Pelo menos sete ministros,
além de diversos membros do
partido governista, o Congresso Nacional Africano (CNA), e
pessoas diretamente ligadas ao
presidente ocupam postos-
-chave no comitê organizador.
O presidente do órgão, Irvin
Khoza, é pai de uma garota com
quem Zuma acaba de ter um filho. Nkosazana Zuma, uma das
ex-mulheres do presidente e
atualmente ministra do Interior, também está lá.
A lista é longa e começa no
topo. Danny Jordaan, principal
executivo do comitê organizador, fez sua carreira subindo as
estruturas locais do CNA. Entre 1994 e 1997, foi deputado federal pelo partido. Khoza, além
da ligação "familiar" com o presidente, é um empresário que
financiou o CNA nos anos de
exílio na década de 80.
Além da ex-mulher de Zuma,
estão no comitê da Copa os ministros Jeff Radebe (Justiça),
Makhenkesi Stofile (Esporte),
Sicelo Shiceka (Comunidades
Tradicionais), Susan Shabangu
(Mineração), Sibusilo Ndebele
(Transporte) e Tokyo Sexwale
(Habitação). Este último é
apontado como possível presidente da África do Sul quando
Zuma terminar seu mandato,
daqui a quatro anos.
Também há membros das
pastas das Finanças e das Relações Exteriores. Todos com direito a voz e a voto, recebendo
jetom de cerca de US$ 1.000
mensais e servindo como olhos
do governo sobre o trabalho de
Jordaan e das pessoas com perfil mais "executivo" no comitê.
Zwelinzima Vavi, presidente
da influente Cosatu, a maior
central sindical sul-africana, é
outro governista no comitê. Na
África do Sul, a Cosatu faz parte
oficialmente do governo Zuma.
O presidente emplacou ainda
um aliado na estratégica área
que cuida dos preparativos de
segurança para a Copa.
Linda Mti é um ex-ministro
responsável pelo sistema prisional e ex-deputado federal
que tem uma longa lista de polêmicas. A mais recente, a de ter
recebido presentes de empreiteiras que construíram prisões.
Ele nega conflito de interesses.
Por fim, na área responsável
pela logística, está Skhumbuzo
Macozoma, ex-diretor do Ministério dos Transportes.
O perfil chapa-branca do comitê organizador reflete uma
realidade financeira: praticamente todo o orçamento de
R$ 8 bilhões da Copa do Mundo
saiu dos cofres públicos.
Para Chris Fortuin, pesquisador da história do futebol sul--africano ligado à Universidade
de Johannesburgo, isso é consequência do fato de que o
Mundial já nasceu político.
"Quem conquistou esse
evento para a África do Sul foi
[o ex-presidente] Nelson Mandela, com o argumento de que
era importante para consolidar
a democracia racial do país",
afirmou o pesquisador.
Segundo ele, faltam empresários e pessoas especializadas
em eventos esportivos trabalhando no comitê organizador.
"Seria mais saudável ter pessoas com diferentes trajetórias.
O governo quer se legitimar perante as classes mais pobres
mostrando que é ele o único
responsável por organizar a
Copa", disse Fortuin.
Nem todos no comitê organizador sul-africano são ligados
ao governo. Há membros com
trajetória na iniciativa privada
responsáveis por áreas como
comunicações, logística, marketing e finanças. Mas são apenas seis pessoas de perfil "técnico", uma minoria, portanto.
Embora Jordaan negue interferência de Zuma ou do CNA
no dia a dia do comitê, há exemplos claros disso. A política de
preços de ingressos para a Copa, reservando uma cota com
desconto para os sul-africanos,
foi um pedido direto do presidente do país-sede do Mundial.
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