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FUTEBOL
Enquanto cartolas se desentendem, CBF escala juízes e atletas treinam
No dia de greve de futebol, a bola só pára no discurso
DA REPORTAGEM LOCAL
O futebol brasileiro não parou
durante a greve arquitetada pelos
cartolas. Jogadores treinaram,
partidas seguiam programadas e
decisões administrativas foram
tomadas, como venda de ingressos e viagens. Também a confusão continuou. Aliás, aumentou,
pois os clubes, na berlinda, nem
de longe alcançaram consenso.
O protesto contra a nova legislação esportiva, acertado em reunião na noite de terça-feira na sede da CBF, melindrou vários dirigentes. Só participaram do encontro oito clubes, dirigentes de
federações estaduais, o presidente
da confederação, Ricardo Teixeira, e o secretário-geral Marco Antonio Teixeira. Dois executivos
representaram a Globo, detentora
dos direitos de televisionamento.
E quem não participou resolveu
dar palpite. O São Paulo, por
exemplo, emitiu comunicado deplorando a decisão. Segundo o
presidente Marcelo Portugal
Gouvêa, o Estatuto do Torcedor
"contém imprecisões que merecem ser reconsideradas, mas é absurdo suspender o campeonato".
Suspensão, diga-se de passagem, que consumiu o dia presumida. Apenas no final da noite a
CBF a confirmou, ironicamente,
negando a paralisação do futebol
na rodada deste fim de semana.
Todos estavam à espera das decisões de Brasília, para onde se
deslocou a tropa de choque da bola capitaneada por Fábio Koff,
presidente do Clube dos 13.
E, enquanto estas se davam, cada clube atirava para o lado que
lhe interessava. Alvimar Perrella,
presidente do Cruzeiro, um dos
clubes que participaram do encontro e pediram a supressão do
artigo 19 do estatuto -sobre responsabilização de dirigentes-,
minimizava a suspensão. "Sou
leigo em legislação, mas a CBF
não podia tomar a decisão de parar." Para alguns juristas, apenas a
Assembléia Geral da entidade teria poderes para tanto.
Do outro lado, Paulo Carneiro,
presidente do Vitória, único clube-empresa da Série A e que defende a aplicação integral da nova
lei, também acreditava na realização dos jogos. "Não recebi nada."
A própria entidade reforçou a
idéia de continuidade. Sugeriu
aos clubes da Série B que têm jogos marcados para amanhã que
viajassem. Publicou até a escala de
arbitragem para as três partidas
programadas -sem sorteio, o
que feriria a nova legislação.
Uníssona, a reivindicação de
mudanças perdeu terreno para a
discussão sobre a paralisação. O
Corinthians, outro grande que
não foi ao encontro, se posicionou contra. "Não dá para viabilizar alguns artigos, mas nem por
isso apoiamos a decisão de parar
o campeonato", disse o vice-presidente Antonio Roque Citadini.
"O que lamento é o governo cobrar, mas não dar recursos para
os clubes", completou, aproveitando para passar o chapéu.
O presidente do Bahia, por sua
vez, criticou a concentração de
poder. "Não entendo como oito
clubes e quatro federações possam responder por 48 times", disse Marcelo Guimarães.
Paraná e São Caetano foram
mais radicais, disseram que vão a
campo no sábado de qualquer
maneira. E o Coritiba divulgou
que os dirigentes devem "ser responsabilizados por seus atos".
Os clubes têm problemas. Mas
cada um parece ter a sua solução.
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