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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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FUTEBOL

Enquanto cartolas se desentendem, CBF escala juízes e atletas treinam

No dia de greve de futebol, a bola só pára no discurso

DA REPORTAGEM LOCAL

O futebol brasileiro não parou durante a greve arquitetada pelos cartolas. Jogadores treinaram, partidas seguiam programadas e decisões administrativas foram tomadas, como venda de ingressos e viagens. Também a confusão continuou. Aliás, aumentou, pois os clubes, na berlinda, nem de longe alcançaram consenso.
O protesto contra a nova legislação esportiva, acertado em reunião na noite de terça-feira na sede da CBF, melindrou vários dirigentes. Só participaram do encontro oito clubes, dirigentes de federações estaduais, o presidente da confederação, Ricardo Teixeira, e o secretário-geral Marco Antonio Teixeira. Dois executivos representaram a Globo, detentora dos direitos de televisionamento.
E quem não participou resolveu dar palpite. O São Paulo, por exemplo, emitiu comunicado deplorando a decisão. Segundo o presidente Marcelo Portugal Gouvêa, o Estatuto do Torcedor "contém imprecisões que merecem ser reconsideradas, mas é absurdo suspender o campeonato".
Suspensão, diga-se de passagem, que consumiu o dia presumida. Apenas no final da noite a CBF a confirmou, ironicamente, negando a paralisação do futebol na rodada deste fim de semana.
Todos estavam à espera das decisões de Brasília, para onde se deslocou a tropa de choque da bola capitaneada por Fábio Koff, presidente do Clube dos 13.
E, enquanto estas se davam, cada clube atirava para o lado que lhe interessava. Alvimar Perrella, presidente do Cruzeiro, um dos clubes que participaram do encontro e pediram a supressão do artigo 19 do estatuto -sobre responsabilização de dirigentes-, minimizava a suspensão. "Sou leigo em legislação, mas a CBF não podia tomar a decisão de parar." Para alguns juristas, apenas a Assembléia Geral da entidade teria poderes para tanto.
Do outro lado, Paulo Carneiro, presidente do Vitória, único clube-empresa da Série A e que defende a aplicação integral da nova lei, também acreditava na realização dos jogos. "Não recebi nada."
A própria entidade reforçou a idéia de continuidade. Sugeriu aos clubes da Série B que têm jogos marcados para amanhã que viajassem. Publicou até a escala de arbitragem para as três partidas programadas -sem sorteio, o que feriria a nova legislação.
Uníssona, a reivindicação de mudanças perdeu terreno para a discussão sobre a paralisação. O Corinthians, outro grande que não foi ao encontro, se posicionou contra. "Não dá para viabilizar alguns artigos, mas nem por isso apoiamos a decisão de parar o campeonato", disse o vice-presidente Antonio Roque Citadini. "O que lamento é o governo cobrar, mas não dar recursos para os clubes", completou, aproveitando para passar o chapéu.
O presidente do Bahia, por sua vez, criticou a concentração de poder. "Não entendo como oito clubes e quatro federações possam responder por 48 times", disse Marcelo Guimarães.
Paraná e São Caetano foram mais radicais, disseram que vão a campo no sábado de qualquer maneira. E o Coritiba divulgou que os dirigentes devem "ser responsabilizados por seus atos".
Os clubes têm problemas. Mas cada um parece ter a sua solução.


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