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Torcida brasileira
Arquibancadas do Pan misturam nova geração
de animadores profissionais, bancados pelo
Co-Rio, com torcedores "de verdade" de todos os tipos e lugares
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Os tempos em que a corneta
desafinada de D'Artagnan e sua
trupe de "mosqueteiros" vibrava pelos ginásios animando torcedores brasileiros em competições de esportes diversos são
coisa do passado. Pelo menos é
o que dizem os novos "animadores profissionais oficiais" do
país no Pan, do grupo Entreter.
"D'Artagnan ficou obsoleto.
Hoje o que prevalece é mais entretenimento, ao estilo da NBA
e do vôlei de praia", diz Carlos
Chaves, líder do grupo de animadores da nova geração que
atua no Maria Lenk.
"D'Artagnan deve estar se
aposentando. Aquela bandinha
não rola mais, é até proibido
entrar nos locais com instrumentos musicais", complementa a animadora Dani, 24.
Os novos "cheeleaders" nacionais contam com o suporte
oficial: são pagos pelo Co-Rio e
têm o privilégio de usar o sistema de som e escolher o DJ dos
locais. Fica mais fácil
do que só no gogó.
O Co-Rio não
revela quanto
paga ao Entreter por seus 35
"torcedores
profissionais".
Misturados a torcedores "de
verdade", que adotam perucas
coloridas e fantasias, o visual
dos profissionais não é inovador, mas chama a atenção.
O Supertorcedor, um rapaz
vestido de roupa colante azul,
ao estilo "Superman", com um
T no peito, e os Aqualoucos,
que usam bóias, macaquinhos e
máscaras, puxam a "ola lenta" e
gritam Brasil. A maioria está na
faixa dos 20 anos, e alguns são
estudantes de educação física.
Mas a torcida brasileira obviamente não é formada só de
animadores profissionais. Embora se empolgue e se deixe levar muitas vezes pela orquestração, ainda há espontaneidade. A presença de animadores
"naturais" vindos de outros Estados é freqüente. Jovens estudantes de férias enchem as arquibancadas e tornam o sotaque carioca mais um na torcida.
Josimar Faria Júnior, 19, não
veio de tão longe, Nova Iguaçu.
Puxando a torcida, batendo
palmas e os pés no chão para os
atletas do Brasil, suava sob a
peruca em tons de lilás, vermelho e amarelo, animando a torcida nacional no judô.
"Me chamaram de cavalo-marinho. Tudo bem, mas acho
que estou mais para porco-espinho", conta. "Já vi esse cara
na TV umas dez vezes, está ficando famoso", afirma o publicitário Roni Veloso.
No Maracanã, para assistir às
mulheres no futebol, havia até
índios de verdade, "importados" pelo Rio para o Pan.
Do Ceará veio o tabajara Raimundo Nascimento, o Cajueiro, 60, corredor e veterano da
corrida de São Silvestre. A seu
lado, o autointitulado "Cangaceiro Maratonista"
Francisco Fernandes. Roupa de cangaceiro, com cinto
de balas e tudo,
Fernandes e Cajueiro posaram para muitas fotos nas
antigas gerais do
Maracanã.
Os pataxós da
Bahia também marcaram presença. Pacari Pataxó, 24, conta que ele e
seis amigos aproveitaram a
chance para mostrar seu trabalho de artesanato e sua cultura.
Diante de um Maracanã relativamente cheio para o jogo feminino, os pataxós apresentaram o "foré", uma dança típica
da etnia. "Nós estamos aqui para mostrar nossa tradição e o
nosso trabalho. Não quer comprar nenhuma peça de semente
de pau-brasil, não?", oferece.
O humor é presente nos estádios. Além das provocações trocadas por torcedores -brasileiros- de times diferentes, ainda
há quem use as arquibancadas
para ironizar os amigos, mesmo correndo o risco de ser confundido por isso. Ao lado de colegas da Companhia de Limpeza Urbana do Rio, o gari Tiago
Nascimento brandia animadamente um cartaz inusitado.
Em um pedaço de papelão,
ele escreveu com pasta de dente a gozação a um amigo, que
uma vez recusou o apelido que
lhe foi dado: "Bunda assada".
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