São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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Torcida brasileira

Arquibancadas do Pan misturam nova geração de animadores profissionais, bancados pelo Co-Rio, com torcedores "de verdade" de todos os tipos e lugares

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Os tempos em que a corneta desafinada de D'Artagnan e sua trupe de "mosqueteiros" vibrava pelos ginásios animando torcedores brasileiros em competições de esportes diversos são coisa do passado. Pelo menos é o que dizem os novos "animadores profissionais oficiais" do país no Pan, do grupo Entreter.
"D'Artagnan ficou obsoleto. Hoje o que prevalece é mais entretenimento, ao estilo da NBA e do vôlei de praia", diz Carlos Chaves, líder do grupo de animadores da nova geração que atua no Maria Lenk.
"D'Artagnan deve estar se aposentando. Aquela bandinha não rola mais, é até proibido entrar nos locais com instrumentos musicais", complementa a animadora Dani, 24.
Os novos "cheeleaders" nacionais contam com o suporte oficial: são pagos pelo Co-Rio e têm o privilégio de usar o sistema de som e escolher o DJ dos locais. Fica mais fácil do que só no gogó.
O Co-Rio não revela quanto paga ao Entreter por seus 35 "torcedores profissionais".
Misturados a torcedores "de verdade", que adotam perucas coloridas e fantasias, o visual dos profissionais não é inovador, mas chama a atenção.
O Supertorcedor, um rapaz vestido de roupa colante azul, ao estilo "Superman", com um T no peito, e os Aqualoucos, que usam bóias, macaquinhos e máscaras, puxam a "ola lenta" e gritam Brasil. A maioria está na faixa dos 20 anos, e alguns são estudantes de educação física.
Mas a torcida brasileira obviamente não é formada só de animadores profissionais. Embora se empolgue e se deixe levar muitas vezes pela orquestração, ainda há espontaneidade. A presença de animadores "naturais" vindos de outros Estados é freqüente. Jovens estudantes de férias enchem as arquibancadas e tornam o sotaque carioca mais um na torcida.
Josimar Faria Júnior, 19, não veio de tão longe, Nova Iguaçu. Puxando a torcida, batendo palmas e os pés no chão para os atletas do Brasil, suava sob a peruca em tons de lilás, vermelho e amarelo, animando a torcida nacional no judô.
"Me chamaram de cavalo-marinho. Tudo bem, mas acho que estou mais para porco-espinho", conta. "Já vi esse cara na TV umas dez vezes, está ficando famoso", afirma o publicitário Roni Veloso.
No Maracanã, para assistir às mulheres no futebol, havia até índios de verdade, "importados" pelo Rio para o Pan.
Do Ceará veio o tabajara Raimundo Nascimento, o Cajueiro, 60, corredor e veterano da corrida de São Silvestre. A seu lado, o autointitulado "Cangaceiro Maratonista" Francisco Fernandes. Roupa de cangaceiro, com cinto de balas e tudo, Fernandes e Cajueiro posaram para muitas fotos nas antigas gerais do Maracanã.
Os pataxós da Bahia também marcaram presença. Pacari Pataxó, 24, conta que ele e seis amigos aproveitaram a chance para mostrar seu trabalho de artesanato e sua cultura.
Diante de um Maracanã relativamente cheio para o jogo feminino, os pataxós apresentaram o "foré", uma dança típica da etnia. "Nós estamos aqui para mostrar nossa tradição e o nosso trabalho. Não quer comprar nenhuma peça de semente de pau-brasil, não?", oferece.
O humor é presente nos estádios. Além das provocações trocadas por torcedores -brasileiros- de times diferentes, ainda há quem use as arquibancadas para ironizar os amigos, mesmo correndo o risco de ser confundido por isso. Ao lado de colegas da Companhia de Limpeza Urbana do Rio, o gari Tiago Nascimento brandia animadamente um cartaz inusitado.
Em um pedaço de papelão, ele escreveu com pasta de dente a gozação a um amigo, que uma vez recusou o apelido que lhe foi dado: "Bunda assada".


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