São Paulo, quarta-feira, 22 de julho de 2009

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TOSTÃO

O buraco é mais embaixo


Os auxiliares que desejam ser treinadores e que se preparam bem para o cargo mereciam ter mais chances


O FUTEBOL é o paraíso dos lugares-comuns. Um dos mais citados é o de que uma equipe precisa ter três zagueiros, sendo um na sobra, se o adversário tiver dois atacantes.
Se os zagueiros marcam muito atrás, como é regra no Brasil, não há espaços entre os defensores e o goleiro para o atacante receber um passe. Por isso, não se justifica ter um terceiro zagueiro e perder um armador ou um atacante. Se acontecer um passe nas costas dos zagueiros, o goleiro tem que sair do gol e chegar primeiro que o atacante.
Antes das partidas, os técnicos fazem um grande mistério -se o time vai jogar com dois ou três zagueiros. Isso passa a ser a chave do jogo e o principal assunto das discussões. É muita conversa jogada fora.
Muito mais importante que o desenho tático, seja qual for, é saber com quantos jogadores um time ataca e defende, se uma equipe sabe o momento de manter a posse de bola e o de acelerar em direção ao gol, onde se inicia a marcação, se o adversário tem pouca ou muita liberdade, se a equipe sabe contra-atacar bem, se é capaz de se defender bem de um contra-ataque, e tantas outras situações de jogo.
Há no futebol muitas contradições.
Muricy era bastante elogiado por mudar a maneira de jogar da equipe. Já Luxemburgo foi muito criticado por mudar demais o esquema tático do Palmeiras. O auxiliar Jorginho é elogiado por manter a mesma formação tática. Todos têm e não têm razão. Vai depender de outros fatores.
Muitos auxiliares ou treinadores das equipes de base ou pessoas que nunca tinham sido técnicos se dão bem logo no comando de grandes equipes.
Dunga está bem na seleção. No primeiro ano, Guardiola foi campeão da Espanha e das copas do Rei e da Europa. Alejandro Sabella, campeão da Taça Libertadores, iniciou sua carreira dois meses atrás, no Estudiantes. Há muitos outros exemplos.
Outros auxiliares, por vários motivos, não vão para a frente. Entre as razões, há um preconceito, um rótulo de que eles são sempre auxiliares. Basta o Palmeiras perder duas partidas, o que aconteceria com qualquer técnico, para dizerem que Jorginho não tem condições de dirigir um grande clube.
Outros preferem ser sempre auxiliares. É mais fácil e seguro. Para ser um bom escudeiro, como Murtosa com Felipão, é necessário, antes de tudo, não cobiçar o lugar do técnico, nem em pensamento.
Os auxiliares que desejam ser treinadores e que se preparam bem para o cargo deveriam ter mais chances. São também mais baratos.
Enfim, apareceu um dirigente lúcido e responsável, Luiz Gonzaga Beluzzo, para não pagar a Luxemburgo um altíssimo salário, incompatível com a receita de um clube brasileiro. Não tenho certeza, mas acho que esse foi o motivo principal da saída de Luxemburgo.
Mas há sempre alguém para pagar. O futebol não é lugar para pessoas lúcidas. A justificativa é o preço de mercado. E o buraco financeiro do clube nunca termina.
Alguém precisa dizer também para o presidente do Santos e para Luxemburgo que o preço do trabalho do técnico caiu no mercado por suas últimas atuações.


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