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Artigo
China moderna não nega passado
Para o país, a Olimpíada é uma ocasião para celebrar a capacidade de revitalizar o antigo e animar o novo
TU WEIMING
ESPECIAL PARA A FOLHA
A cerimônia de abertura da
Olimpíada, em Pequim, foi programada propositalmente para
começar às 8h (da noite) no oitavo dia do oitavo mês do ano
2008. De acordo com a crença
popular chinesa, esse seria o
momento mais auspicioso.
O tema geral da mais espetacular cerimônia de abertura da
história das Olimpíadas seria a
emergência da China como gigante econômica, potência política e, sobretudo, presença
cultural no palco mundial.
De fato, a intenção aparente
era transmitir a mensagem de
que a China é um país moderno, em ascensão, e que possui a
mais longa civilização contínua
da história humana.
Esses motivos foram combinados com requinte na cerimônia para destacar as duradouras conquistas filosóficas, artísticas e científicas da China, através de uma exibição impressionante de tecnologias
eletrônicas. Tudo pareceu ressaltar a tese de que uma civilização antiga está renascendo,
fenômeno que deve ser motivo
de alegria para todo o mundo.
Essa forte ênfase sobre o caráter distintivo da cultura chinesa dá a nítida impressão de
que uma preocupação da Olimpíada de Pequim é criar uma
nova definição do que é chinês,
num contexto de internacionalismo e cosmopolitismo. A previsão de conquista de grande
número de medalhas de ouro é
mais um testemunho do orgulho nacional chinês.
Entretanto o medo de que
qualquer coisa possa dar errado
é tão palpável que todas as medidas preventivas possíveis foram tomadas para assegurar
que o evento olímpico transcorra em segurança e paz, fazendo dos Jogos um dos eventos mais fortemente monitorados de nossos tempos.
Os esforços meticulosos para
incentivar os habitantes de Pequim a serem hospitaleiros
com os visitantes, além da persistente atenção aos detalhes
para tornar a cidade apresentável aos turistas estrangeiros,
indicam que os organizadores
estão profundamente preocupados com a maneira como a
China é apreendida e receosos
quanto às imagens que os visitantes -especialmente os mais
de 30 mil jornalistas- levarão
para casa. Esse jogo de autoconfiança e insegurança torna a
psique coletiva complexa e intrigante. Vale fazer uma observação de natureza histórica.
Desde a Guerra do Ópio de
1839, o impacto do Ocidente
vem suscitando na China acirrados sentimentos nacionalistas contrários ao imperialismo.
Também vem gerando um
grande desejo de absorver os
conhecimentos ocidentais.
Acreditava-se que a rejeição
do legado cultural chinês fosse
uma necessária condição prévia para a ocidentalização e
modernização. Apesar de sua
gloriosa história secular, nas
últimas décadas a China vem
sofrendo de perda de memória,
amnésia e esquecimento.
O ataque feroz contra seu
passado foi mais pronunciado
durante a Revolução Cultural
dos anos 60. Apenas nos últimos 30 anos é que foi restaurada uma estabilidade relativa.
A fenomenal transformação
da China de expressão geográfica a civilização-Estado gerou
muita autoconfiança entre os
chineses. Nos últimos sete
anos, a China vem se dedicando
à meta de fazer do evento esportivo olímpico uma ocasião
para celebrar a capacidade da
China de revitalizar o antigo
como meio de animar o novo.
TU WEIMING é professor de história chinesa e
filosofia da Universidade Harvard
Tradução de Clara Allain
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