São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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ATLETISMO

Sem técnico, Jadel salta mal e não sabe motivo

A 62cm de sua melhor marca, brasileiro fica em sexto no triplo Após seu segundo fracasso olímpico, saltador fica com olhos marejados, diz que não precisava de treinador e tenta entender resultado

ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Jadel Gregório, 27, disse que neste ano centraria preparação para chegar ao auge na Olimpíada. Com marcas modestas na temporada, acreditava que daria o salto do ano na final olímpica. Não deu.
O brasileiro não passou de 17,20 m ontem, em sua última tentativa, terminando em sexto lugar -em Atenas-04, havia ficado na quinta posição. Foi seu salto mais longe na temporada, mas 62 cm abaixo de sua melhor marca. Considerado um dos favoritos ao pódio, Jadel passou a prova toda fora da zona de medalha.
O saltador deixou a área de competição com os olhos marejados. Não quis inicialmente falar com a imprensa, alegando estar sem voz. Seguiu. Pouco depois, retornou e conversou.
"Não sei o que aconteceu. Trabalho direitinho. Difícil procurar onde foi o erro. Não bebo, não fumo, me dedico 100%. Se tivesse alguma coisa para atrapalhar, mas não tem."
A prova foi vencida pelo português Nelson Évora, campeão do Mundial de Osaka, em 2007, com a marca de 17,67 m, a melhor da temporada. Os demais postos foram ocupados pelo britânico Phillips Idowu (17,62 m) e pelo bahamense Leevan Sands (17,59 m).
Jadel havia dito que tinha por objetivo saltar 17,91 m, 1 cm a mais do que seu recorde sul-americano, obtido no ano passado, em Belém.
"Se tivesse saltado 17,90 m hoje, teria sido campeão. Mas não saltei. Vou precisar rever a competição para poder avaliar e saber o que aconteceu."
Na prova, ele não teve a companhia de nenhum de seus treinadores. Peter Stanley não estava credenciado. Já Pedro Henrique de Camargo Toledo, o Pedrão, que viajou à China, sentiu-se abandonado por Jadel e decidiu voltar ao Brasil.
"Ali já está tudo treinado. Pode ter um ou outro conselho. Mas não pesa tanto [a ausência do treinador]", avaliou Jadel.
Campeão, Évora a cada salto ia às arquibancadas ouvir instruções do técnico João Ganço.
"Somos um só. Se ele não estivesse ali, nada disso teria acontecido", relatou o vencedor, que chorou antes de fazer o último salto, pois já era ouro.
Jadel, por sua vez, conteve as lágrimas quando foi questionado se a pressão por medalhas afetara seu desempenho.
"Acho que tudo o que você faz com vontade é automático que as pessoas vão cobrar. E eu tentei. Dei o meu melhor", lamentou ele, que salta de novo em Zurique, no final do mês.
Se o Brasil mantém o jejum de 24 anos sem título olímpico no atletismo, Portugal festejava o fim de tabu de 12 anos sem ouro na modalidade. O último fora com Fernanda Ribeiro nos 10.000 m em Atlanta-96. Évora confortou o brasileiro.
"O Jadel deu o seu melhor, e nem sempre as coisas saem como nós queremos. Ele é um grande amigo meu. Pena que não tenha saltado da melhor forma, mas é preciso continuar a acreditar nele", afirmou o campeão mundial e olímpico.


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