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ATLETISMO
Sem técnico, Jadel salta mal e não sabe motivo
A 62cm de sua melhor marca, brasileiro fica em sexto no triplo
Após seu segundo fracasso olímpico, saltador fica com olhos marejados, diz que não precisava de treinador e tenta entender resultado
ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
Jadel Gregório, 27, disse que
neste ano centraria preparação
para chegar ao auge na Olimpíada. Com marcas modestas
na temporada, acreditava que
daria o salto do ano na final
olímpica. Não deu.
O brasileiro não passou de
17,20 m ontem, em sua última
tentativa, terminando em sexto
lugar -em Atenas-04, havia ficado na quinta posição. Foi seu
salto mais longe na temporada,
mas 62 cm abaixo de sua melhor marca. Considerado um
dos favoritos ao pódio, Jadel
passou a prova toda fora da zona de medalha.
O saltador deixou a área de
competição com os olhos marejados. Não quis inicialmente falar com a imprensa, alegando
estar sem voz. Seguiu. Pouco
depois, retornou e conversou.
"Não sei o que aconteceu.
Trabalho direitinho. Difícil
procurar onde foi o erro. Não
bebo, não fumo, me dedico
100%. Se tivesse alguma coisa
para atrapalhar, mas não tem."
A prova foi vencida pelo português Nelson Évora, campeão
do Mundial de Osaka, em 2007,
com a marca de 17,67 m, a melhor da temporada. Os demais
postos foram ocupados pelo
britânico Phillips Idowu (17,62
m) e pelo bahamense Leevan
Sands (17,59 m).
Jadel havia dito que tinha
por objetivo saltar 17,91 m, 1 cm
a mais do que seu recorde sul-americano, obtido no ano passado, em Belém.
"Se tivesse saltado 17,90 m
hoje, teria sido campeão. Mas
não saltei. Vou precisar rever a
competição para poder avaliar
e saber o que aconteceu."
Na prova, ele não teve a companhia de nenhum de seus treinadores. Peter Stanley não estava credenciado. Já Pedro
Henrique de Camargo Toledo,
o Pedrão, que viajou à China,
sentiu-se abandonado por Jadel e decidiu voltar ao Brasil.
"Ali já está tudo treinado. Pode ter um ou outro conselho.
Mas não pesa tanto [a ausência
do treinador]", avaliou Jadel.
Campeão, Évora a cada salto
ia às arquibancadas ouvir instruções do técnico João Ganço.
"Somos um só. Se ele não estivesse ali, nada disso teria
acontecido", relatou o vencedor, que chorou antes de fazer o
último salto, pois já era ouro.
Jadel, por sua vez, conteve as
lágrimas quando foi questionado se a pressão por medalhas
afetara seu desempenho.
"Acho que tudo o que você
faz com vontade é automático
que as pessoas vão cobrar. E eu
tentei. Dei o meu melhor", lamentou ele, que salta de novo
em Zurique, no final do mês.
Se o Brasil mantém o jejum
de 24 anos sem título olímpico
no atletismo, Portugal festejava
o fim de tabu de 12 anos sem
ouro na modalidade. O último
fora com Fernanda Ribeiro nos
10.000 m em Atlanta-96. Évora
confortou o brasileiro.
"O Jadel deu o seu melhor, e
nem sempre as coisas saem como nós queremos. Ele é um
grande amigo meu. Pena que
não tenha saltado da melhor
forma, mas é preciso continuar
a acreditar nele", afirmou o
campeão mundial e olímpico.
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