|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Réquiem para um frasista
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Quando o charuteiro Bill
Clinton visitou a Mangueira, Jamelão observou: "Tá mais
feliz que pinto no lixo". Diante da
frase certeira, muita gente achou
que a expressão era da lavra do
mangueirense. Não era. O cantor
("puxador" é ladrão de carro, costuma dizer) citara uma velha tirada carioca.
Agora repete-se o espanto com
Romário. O antigo artilheiro
dançou no Fluminense depois de
avacalhar Alexandre Gama: "Entrou no ônibus agora, não está
nem em pé [sic] e já quer sentar
na janela". Tudo porque o técnico
ousou falar que talvez Ronaldo
venha a ser melhor que Romário.
Com agilidade de cobrador, o camisa 11 lançou mão do repertório
de frasista crescido na Vila da Penha. A frase é ótima, mas não é
dele. Outra invenção das ruas.
No seu ocaso no campo, Romário afia a língua no estilo que
marcou a carreira: incorporando
o léxico da malandragem aos bate-bocas. Nunca foi original como
Dario, mas divertiu como o goleador que respondia com solucionáticas a todas as problemáticas.
O menino a cuja família faltava
dinheiro para lhe comprar o remédio contra asma consagrou-se.
Deu-se conta: "Deus apontou o
dedo na minha direção e disse:
"Esse é o cara'".
Também recorreu ao santo nome -em vão?- quando Pelé o
criticou. Contra-atacou: "Deus
abençoou os pés desse cidadão,
mas se esqueceu do resto e principalmente da boca, porque quando ele fala só sai besteira. Ou melhor, só sai merda". Mais: "Pelé é
coisa do passado, e quem vive de
passado é museu. Ele não tem por
que falar de mim. Se fizer isso, é
porque tem algum problema
mental".
Dizia que Edmundo era maluco. No Vasco, o Animal se referia
a Eurico Miranda como o rei e a
Romário como o príncipe. Após
uma vitória, o Baixinho se vingou: "A corte agora está contente.
O rei, o príncipe e o bobo".
Em nova reprodução de provérbio popular, o príncipe deu de
ombros: "Quem tem que se preocupar com imagem boa é aparelho de TV". Mas derrapou numa
demagogiazinha: "Se a gente ganhar a Copa, estará dando um
prato de comida a esse povo que
está com fome".
A sua fome ele matava sob estrelas. "A noite sempre foi minha
amiga. Quando saio, estou contente e marco gols". Desmaiou
num treino do Flamengo e gracejou: "Fui dormir às oito da noite e
passei mal. Quando durmo tarde,
não acontece nada".
Inspirou outro frasista, Zagallo.
Ao não convocá-lo, o treinador
pilheriou: "O Lobo comeu o
lobby". Zagallo voltaria atrás e
não perderia a piada: "O lobby
comeu o Lobo".
Cobrávamos Romário, o matador constatava: "Tenho que matar um leão por dia. E o pior é que
os leões precisam ser gordos. Se eu
matar um magrinho, são capazes
de dizer que é covardia". Já não
mata nem gatinho.
Depois de dar um passe decisivo
nos EUA, ouviu de Bebeto a mais
singela declaração da história do
futebol: "Eu te amo!". Quem, um
dia, não amou Romário?
Colírio
O melhor da vitória do Milan
sobre o Barcelona foi rever o
fascínio do futebol que se joga
para vencer. Quem estava preocupado com a condição física
de Cafu deve ter relaxado: correu, passou e cruzou, inclusive
no lance do gol, com eficiência
de campeão mundial e vitalidade de guri. Eu já não sei é se ele
estará bem para a Copa de 2010.
Mais uma preocupação... Por
outro lado, como um jogador
como Belletti pode regredir
tanto? Nunca foi tão horrível.
Polícia!
Faz hoje um ano que o jornalista Ivandel Godinho foi seqüestrado em São Paulo. Nunca
mais voltou para casa. Um ano
de incompetência da polícia de
Geraldo Alckmin para apurar o
caso, 365 dias de vergonha.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Segunda geração Próximo Texto: Automobilismo: Antiestatuto, Interlagos não marca lugar Índice
|