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FUTEBOL
Zé Cabala e o homem do rifle
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Fazia tempo que eu não entrevistava o mestre dos mestres, então fui procurá-lo. Atravessei o acampamento de credores que havia se formado em seu
jardim e apertei a campainha. De
lá de dentro, Gulliver, seu assistente anão (mas que prefere ser
chamado de "homem modelo
econômico"), respondeu:
"Já disse que não estamos!"
"Sou eu, Gulliver, o jornalista."
A porta se abriu logo depois.
"Para você, nós estamos. Desde
que pague adiantado."
Dei-lhe duas notas de cinqüenta e entrei. Ele segurou uma nota
em cada mão e disse: "Uma para
nós, outra para eles". E aí amassou uma delas e atirou-a pela janela. Os credores pularam para
pegá-la e lutaram como se fossem
cães disputando um osso.
"Eu gosto de ver estes sujeitos
fazendo isso", disse Gulliver com
um risinho no canto da boca. Depois me levou até a sala do bamba dos babalaôs, do xá dos xamãs, do papa dos pajés.
"Mestre, hoje eu gostaria de
conversar com alguém que não
fosse do Rio ou de São Paulo. Talvez um craque do Nordeste?"
Zé Cabala concentrou-se por alguns instantes e logo depois começou a dar tiros em todas as direções, como se estivesse segurando um rifle: "Pou, pou, pou!".
"Quem sois vós, ó espírito?",
perguntei.
"Sou o Homem do Rifle."
"Bat Masterson?"
"Não, Homem do Rifle era como os jornais do Recife me chamavam, porque meu chute era
um tiro. Mas eu era mais conhecido como Bita."
"Bita, o maior artilheiro da história do Náutico? Um dos heróis
do hexa?"
"Ah, o hexa... De 1963 a 1968 foram os melhores anos da minha
vida. Até hoje nenhum outro time
conseguiu tantos títulos seguidos
em Pernambuco."
"E quantas vezes o senhor foi
artilheiro do campeonato?"
"Três vezes. Em 64, 65 e 66."
"O senhor tem um momento
inesquecível?"
"Tenho. Foi no Pacaembu, na
noite de 16 de novembro de 1966,
quando pegamos o grande Santos
de Pelé pela Taça Brasil. Eles já tinham vencido o jogo de ida, na
Ilha do Retiro, e pensavam que
iriam golear. Mas nosso time jogou demais e ganhou por 5 a 3. Eu
fiz quatro gols. Quatro! Nunca o
Gilmar tomou tantos gols do mesmo jogador num só jogo."
"Lá no céu o senhor tem saudades do futebol?"
"Fico lembrando das coisas que
fiz, dos 295 jogos com a camisa do
Náutico e dos 221 gols."
"Mas o senhor ainda foi para o
Santa Cruz."
"Fui, e ganhei uns campeonatos, mas aí já estava com os joelhos ruins. Não era o mesmo."
"O que o senhor fez depois de
abandonar o futebol?"
"Trabalhei como vendedor de
medicamentos. Vendia saúde,
mas não tinha muita. Tanto que
morri cedo, aos 50 anos, em 1992.
Ah, as ironias da vida..."
Depois disso, Zé Cabala rodopiou três vezes para a direita, três
para a esquerda, e estava de volta. "E então, como foi?"
"Na mosca, mestre, na mosca."
Zagueiros
Fiz pesquisa no meu blog para
saber quem são os zagueiros
inesquecíveis dos leitores. Os
três primeiros foram estrangeiros. Darío Pereyra ficou em terceiro, Lugano, em segundo, e
Gamarra, fácil, em primeiro.
Santa macumba
Primeiro foi Marcos, agora foi
Dida. Parreira teve que chamar
Rogério Ceni por falta de opção. As mandingas são-paulinas são poderosas.
Marcelinho
Não vejo utilidade na volta de
Marcelinho ao Corinthians. Os
titulares devem ser Roger e Ricardinho, e o primeiro reserva,
Carlos Alberto. Ele provavelmente é o atleta mais importante da história do clube, mas sua
chegada é mais pelo tumulto do
que pela homenagem.
E-mail - torero@uol.com.br
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