São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

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FUTEBOL

Zé Cabala e o homem do rifle

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Fazia tempo que eu não entrevistava o mestre dos mestres, então fui procurá-lo. Atravessei o acampamento de credores que havia se formado em seu jardim e apertei a campainha. De lá de dentro, Gulliver, seu assistente anão (mas que prefere ser chamado de "homem modelo econômico"), respondeu:
"Já disse que não estamos!"
"Sou eu, Gulliver, o jornalista."
A porta se abriu logo depois.
"Para você, nós estamos. Desde que pague adiantado."
Dei-lhe duas notas de cinqüenta e entrei. Ele segurou uma nota em cada mão e disse: "Uma para nós, outra para eles". E aí amassou uma delas e atirou-a pela janela. Os credores pularam para pegá-la e lutaram como se fossem cães disputando um osso.
"Eu gosto de ver estes sujeitos fazendo isso", disse Gulliver com um risinho no canto da boca. Depois me levou até a sala do bamba dos babalaôs, do xá dos xamãs, do papa dos pajés.
"Mestre, hoje eu gostaria de conversar com alguém que não fosse do Rio ou de São Paulo. Talvez um craque do Nordeste?"
Zé Cabala concentrou-se por alguns instantes e logo depois começou a dar tiros em todas as direções, como se estivesse segurando um rifle: "Pou, pou, pou!".
"Quem sois vós, ó espírito?", perguntei.
"Sou o Homem do Rifle."
"Bat Masterson?"
"Não, Homem do Rifle era como os jornais do Recife me chamavam, porque meu chute era um tiro. Mas eu era mais conhecido como Bita."
"Bita, o maior artilheiro da história do Náutico? Um dos heróis do hexa?"
"Ah, o hexa... De 1963 a 1968 foram os melhores anos da minha vida. Até hoje nenhum outro time conseguiu tantos títulos seguidos em Pernambuco."
"E quantas vezes o senhor foi artilheiro do campeonato?"
"Três vezes. Em 64, 65 e 66."
"O senhor tem um momento inesquecível?"
"Tenho. Foi no Pacaembu, na noite de 16 de novembro de 1966, quando pegamos o grande Santos de Pelé pela Taça Brasil. Eles já tinham vencido o jogo de ida, na Ilha do Retiro, e pensavam que iriam golear. Mas nosso time jogou demais e ganhou por 5 a 3. Eu fiz quatro gols. Quatro! Nunca o Gilmar tomou tantos gols do mesmo jogador num só jogo."
"Lá no céu o senhor tem saudades do futebol?"
"Fico lembrando das coisas que fiz, dos 295 jogos com a camisa do Náutico e dos 221 gols."
"Mas o senhor ainda foi para o Santa Cruz."
"Fui, e ganhei uns campeonatos, mas aí já estava com os joelhos ruins. Não era o mesmo."
"O que o senhor fez depois de abandonar o futebol?"
"Trabalhei como vendedor de medicamentos. Vendia saúde, mas não tinha muita. Tanto que morri cedo, aos 50 anos, em 1992. Ah, as ironias da vida..."
Depois disso, Zé Cabala rodopiou três vezes para a direita, três para a esquerda, e estava de volta. "E então, como foi?"
"Na mosca, mestre, na mosca."

Zagueiros
Fiz pesquisa no meu blog para saber quem são os zagueiros inesquecíveis dos leitores. Os três primeiros foram estrangeiros. Darío Pereyra ficou em terceiro, Lugano, em segundo, e Gamarra, fácil, em primeiro.

Santa macumba
Primeiro foi Marcos, agora foi Dida. Parreira teve que chamar Rogério Ceni por falta de opção. As mandingas são-paulinas são poderosas.

Marcelinho
Não vejo utilidade na volta de Marcelinho ao Corinthians. Os titulares devem ser Roger e Ricardinho, e o primeiro reserva, Carlos Alberto. Ele provavelmente é o atleta mais importante da história do clube, mas sua chegada é mais pelo tumulto do que pela homenagem.


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