São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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MOTOR

Três senhoras cubanas


Há exatamente 50 anos, grupo comandado por Fidel sequestrava Fangio para chamar a atenção do mundo


FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

B LANCA , Maria Elena e Eloisa são três simpáticas senhoras cubanas. Que recordam com detalhes daqueles dias tumultuados, há exatos 50 anos, em Havana.
"As pessoas iam visitar aqueles que tinham apartamentos, para ver o circuito lá do alto, lá de cima. Eu ia com meu marido e minha filha. Os balcões e varandas ficavam lotados, todo mundo queria ver os carros passando", lembra Eloisa Rojes, 88.
Blanca Lopez, 68, era das mais entusiasmadas. Afinal, seu ídolo, um galã da época -nobre, ainda por cima- estava entre os participantes. "Meu Deus, até o marquês de Portago foi para lá. Os carros eram miúdos e baixinhos. A gente estranhou aqueles carros porque todo mundo em Havana tinha grandes Cadillacs. O percurso era longo, ia até o Malecón", recorda Blanca Lopez, 68. Mas quem mais guarda memórias do episódio que celebrizou o Gran Premio de Cuba de 1958 é sua madrasta. As aspas a partir daqui tornam-se desnecessárias, empresto a coluna a Maria Elena Lopez, 82.

 


Aquele era um período rico para Cuba, mas muito difícil. Fulgencio Batista estava começando a sentir as pressões e usou a corrida até como uma forma de elevar a moral dos cubanos. Trouxeram muita gente importante, muitos pilotos famosos. O Gran Premio era uma programa bem familiar, as moças de vestido, os homens de terno e gravata. Fecharam as ruas, foi um auê. Ninguém nunca tinha visto um evento daquela magnitude em Havana, em Cuba.
Foi pela TV que soubemos que o Fangio havia sido sequestrado. Ele era o piloto mais famoso do mundo, e o sequestraram com a intenção de parar a corrida, de chamar a atenção do mundo. O Movimiento 26 de Julio estava pressionando muito, era um dos mais ativos naquela época em Cuba. Mas o curioso é que a gente não tem idéia, a gente não sabe o impacto que aquilo teve fora de lá.
Acho que o Fangio foi solto rápido, logo no dia seguinte. Lembro que ele saiu e deu uma entrevista. Disse que estava tudo bem, que não queriam feri-lo, que foi bem tratado, que recebeu comida, que entendia os motivos dos sequestradores...

 


Peço licença para retomar o espaço, sem o mesmo charme, claro. O episódio, o seqüestro do pentacampeão, fez parte do movimento revolucionário que derrubou Batista no ano seguinte. E completa 50 anos hoje, 23 de fevereiro de 2008.
O argentino ficou pouco tempo com os guerrilheiros. No dia 24, ouviu a corrida pelo rádio -uma prova de Turismo- e, à noite, foi libertado. Fangio morreu há 13 anos. Fidel Castro, líder do grupo que comandou o sequestro, deixa o poder amanhã, incrível coincidência de datas. As senhoras cubanas continuam firmes e fortes, cheias de histórias. Sorte nossa. Que existam sempre.

fseixas@folhasp.com.br


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