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Tem quem gosteEnquanto craques reclamam na África, peladeiros em várzea de São Paulo aprovam a Jabulani
LEONARDO LOURENÇO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Jabulani já sabe para onde ir quando quiser ser bem
tratada. Bem longe da África,
onde corre em bons gramados e é vista por bilhões de
pessoas ao redor do mundo,
mas se cansou de críticas.
Foi buscar alento no extremo leste da cidade de São
Paulo, em um campo em que
quica (muito) mais do que rola, disputada por chuteiras
castigadas, mas sem as cores
berrantes dos pés que a perseguem na terra de Mandela.
A Folha levou uma Jabulani, idêntica às que são utilizadas na Copa do Mundo, para
ser a bola da partida entre
Cooper e América, equipes
da várzea que duelaram domingo em Guaianases, periferia da capital paulista.
Maior polêmica do Mundial, ela abandonou seu lado
patricinha -como foi definida pelo volante Felipe Melo-
e foi aprovada pelos peladeiros da zona leste paulistana.
"Ela balança bastante,
mas, se bater com o peito do
pé, vai mais reta", disse o goleiro Marcão, da Cooper, ensinando o que os astros teimam em não aprender.
O cenário em que a bola foi
a estrela principal lembra
mais os dos documentários
do Discovery Channel nas savanas africanas do que os da
moderna transmissão do torneio -mesmo em HD.
A grama nasce, bem rala e
seca, apenas em um pequeno espaço do campo, próximo de uma das laterais.
O resto é tomado por areia,
que a cada vento mais forte
levanta nuvens de poeira para esconder os jogadores.
Atrás dos gols, mato. O suficiente para que seja tensa a
procura pela bola todas as
vezes em que ela ultrapassa a
linha de fundo ou vaza a rede
precariamente amarrada em
um bloco de concreto.
Nada que cause mais preocupação do que o riacho que
corre de um dos lados do
campo. Por mais que tivessem gostado dela, ninguém
se arriscaria a salvar a pobre
Jabulani caso ela caísse naquelas águas sujas.
As vuvuzelas não foram
ouvidas por lá. Tampouco o
silêncio, rompido por canções de rap e funk de gosto
duvidoso dos muitos carros
que passavam pelo local com
o som em volume mais alto.
No início do jogo, a má fama da bola é lembrada por
quem está de fora. "Chuta
que ela vai sozinha pro gol",
gritou um torcedor.
"Ela é espírita", completou outro, apelando para o
sobrenatural, assim como fez
o atacante Luis Fabiano.
"A bola é leve, mas é firmeza para bater, para cabecear.
Reclamaram à toa", disse um
dos artilheiros do dia, o meia
Rodrigo, o craque da Cooper,
que venceu por 2 a 0.
"Ela é boa. O vento atrapalha um pouco, mas sabendo
bater...", afirmou o autor do
primeiro tento, o centroavante Luciano, desdenhando
dos protestos do grupo de detratores da redonda- que inclui, entre eles, Messi, eleito
o melhor do mundo em 2009.
Do lado dos perdedores, o
carinho com a Jabulani se
mostrou em palavras sinceras. "Ela é legal, eu é que sou
grosso mesmo", admitiu o
meio-campista Evandro.
Ao final da jornada, Jabulani beijou a rede mais do
que em boa parte dos jogos
desta Copa do Mundo.
Ainda foi alvo de disputa.
"Vocês [da Folha] vieram
aqui, foram bem tratados.
Agora deixa a bola", pediu
um dos craques do América.
"Ou vocês levam a bola ou
a câmera", disse outro, em
tom meio ameaçador, meio
brincalhão. A câmera voltou.
A Jabulani também.
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