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São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003

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FUTEBOL

Vale a pena ver os garotos

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Nas duas primeiras partidas da seleção sub-23, na Copa Ouro, contra México e Honduras, o time estava muito confuso. Ricardo Gomes escalou o Ewerthon na ponta direita e o Kaká de centroavante, fora de suas posições. Não daria certo, mesmo se treinassem uns cem anos.
Contra a Colômbia, o técnico corrigiu o erro. Pôs o Kaká no seu lugar e escalou um centroavante: Nilmar, jogador fino, inteligente e de toques precisos. Com a nova formação e sem os problemas da altitude do México, o time teve uma brilhante atuação, facilitada pela fragilidade da Colômbia. Não é essa a equipe que vai enfrentar o Brasil nas eliminatórias.
Hoje, a seleção vai pegar um adversário muito mais difícil. Os EUA jogam com duas linhas de quatro, como fez o Boca contra o Santos. Isso dificulta para os brasileiros porque impede o avanço dos laterais. O time americano é disciplinado taticamente, certinho, corre muito, marca bem, é um rival difícil para qualquer equipe, mas no final geralmente perde. Falta talento individual.
Contra a Colômbia, Robinho me surpreendeu. Não foi brilhante, fantasioso como nas finais do Brasileiro e nem o jogador dispersivo dos dois primeiros jogos e da maioria das partidas do Santos neste ano, que não sabia se driblava ou passava a bola e se ficava na ponta ou ia para o meio.
Robinho teve uma ótima participação tática. Quando o time perdia a bola, ele fechava pelo meio e se tornava o terceiro jogador de meio-campo. Isso foi importante porque uma equipe não pode ter apenas dois marcadores nesse setor. Ao recuperar a bola, ele abria e avançava como um ponta. Mas isso não basta. Jogador tático se encontra em qualquer esquina. Ele também precisa brilhar individualmente.
Robinho teve a mesma função de Zagallo nas Copas de 58 e 62, de Rivellino em 70 e de outros que atuam dessa maneira. Ele me lembrou novamente o Paulo Cesar Caju, que era destro, atuava pela esquerda, marcava, avançava como um ponta, driblava para os dois lados, passava e finalizava muito bem. Um craque. Quero ver um dia o Robinho com a mesma eficiência.
Robinho dribla bem (não driblou contra a Colômbia) conduzindo a bola. Quando pára, ginga e tenta driblar, quase não sai do lugar. Ele tem pouca força muscular para arrancar (explosão muscular na linguagem do futebol), característica dos grandes dribladores, como Paulo Cesar, Garrincha, e de excepcionais atacantes, como Ronaldo, Romário, Reinaldo, Jairzinho, Kaká.
Alguns profissionais do futebol, bem intencionados, mas mal informados, insistem que Robinho não deveria aumentar a força muscular porque violentaria suas características. Isso não é para ele trombar com o adversário, e sim para driblar, arrancar e finalizar melhor. Kaká, Gil, Ronaldinho Gaúcho, Zico, Ronaldo e muitos outros evoluíram bastante depois que ficaram mais fortes.

Armador e atacante
Kaká foi o craque da partida contra a Colômbia. Fez um gol de placa. Ele jogou de segundo atacante, movimentando-se para os dois lados e recuando para receber a bola, na mesma posição e função que jogou no São Paulo do Rojas e do Oswaldo Oliveira. A única diferença é que antes do Rojas ele tinha dois atacantes à sua frente.
Kaká não é um armador, e sim um atacante. Não se pode confundir o atacante que recua para receber a bola (antigo ponta-de-lança) com o armador, organizador, que às vezes aparece como atacante (Diego).
No Cruzeiro, no mesmo jogo, Alex faz muito bem as duas funções. Posiciona-se como atacante e também como armador. Por isso, é hoje o mais completo e melhor jogador que atua no Brasil.

Sem falsa modéstia
Nas três partidas pela Copa Ouro, Diego jogou bem, mas conduziu demais a bola, facilitou a falta e ficou muito no chão. Para evoluir, terá de aprender o momento exato de driblar e o de tocar e passar rápido. Isso é importante para um jogador de sua posição.
Já escrevi isso dezenas de vezes. Repito tanto porque essa era minha posição e a minha principal virtude. Em compensação, tinha vários defeitos.
Quando vejo um talento como o Diego, torço para que ele se torne muito melhor do que é. Além de adorar ver um craque, projeto nele o jogador que gostaria de ter sido e não fui (mais completo). Sem falsa e sem nenhuma modéstia.

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