|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Vale a pena ver os garotos
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Nas duas primeiras partidas
da seleção sub-23, na Copa
Ouro, contra México e Honduras,
o time estava muito confuso. Ricardo Gomes escalou o Ewerthon
na ponta direita e o Kaká de centroavante, fora de suas posições.
Não daria certo, mesmo se treinassem uns cem anos.
Contra a Colômbia, o técnico
corrigiu o erro. Pôs o Kaká no seu
lugar e escalou um centroavante:
Nilmar, jogador fino, inteligente e
de toques precisos. Com a nova
formação e sem os problemas da
altitude do México, o time teve
uma brilhante atuação, facilitada
pela fragilidade da Colômbia.
Não é essa a equipe que vai enfrentar o Brasil nas eliminatórias.
Hoje, a seleção vai pegar um adversário muito mais difícil. Os
EUA jogam com duas linhas de
quatro, como fez o Boca contra o
Santos. Isso dificulta para os brasileiros porque impede o avanço
dos laterais. O time americano é
disciplinado taticamente, certinho, corre muito, marca bem, é
um rival difícil para qualquer
equipe, mas no final geralmente
perde. Falta talento individual.
Contra a Colômbia, Robinho
me surpreendeu. Não foi brilhante, fantasioso como nas finais do
Brasileiro e nem o jogador dispersivo dos dois primeiros jogos e da
maioria das partidas do Santos
neste ano, que não sabia se driblava ou passava a bola e se ficava na ponta ou ia para o meio.
Robinho teve uma ótima participação tática. Quando o time
perdia a bola, ele fechava pelo
meio e se tornava o terceiro jogador de meio-campo. Isso foi importante porque uma equipe não
pode ter apenas dois marcadores
nesse setor. Ao recuperar a bola,
ele abria e avançava como um
ponta. Mas isso não basta. Jogador tático se encontra em qualquer esquina. Ele também precisa
brilhar individualmente.
Robinho teve a mesma função
de Zagallo nas Copas de 58 e 62,
de Rivellino em 70 e de outros que
atuam dessa maneira. Ele me
lembrou novamente o Paulo Cesar Caju, que era destro, atuava
pela esquerda, marcava, avançava como um ponta, driblava para
os dois lados, passava e finalizava
muito bem. Um craque. Quero
ver um dia o Robinho com a mesma eficiência.
Robinho dribla bem (não driblou contra a Colômbia) conduzindo a bola. Quando pára, ginga
e tenta driblar, quase não sai do
lugar. Ele tem pouca força muscular para arrancar (explosão muscular na linguagem do futebol),
característica dos grandes dribladores, como Paulo Cesar, Garrincha, e de excepcionais atacantes,
como Ronaldo, Romário, Reinaldo, Jairzinho, Kaká.
Alguns profissionais do futebol,
bem intencionados, mas mal informados, insistem que Robinho
não deveria aumentar a força
muscular porque violentaria suas
características. Isso não é para ele
trombar com o adversário, e sim
para driblar, arrancar e finalizar
melhor. Kaká, Gil, Ronaldinho
Gaúcho, Zico, Ronaldo e muitos
outros evoluíram bastante depois
que ficaram mais fortes.
Armador e atacante
Kaká foi o craque da partida
contra a Colômbia. Fez um gol de
placa. Ele jogou de segundo atacante, movimentando-se para os
dois lados e recuando para receber a bola, na mesma posição e
função que jogou no São Paulo do
Rojas e do Oswaldo Oliveira. A
única diferença é que antes do
Rojas ele tinha dois atacantes à
sua frente.
Kaká não é um armador, e sim
um atacante. Não se pode confundir o atacante que recua para
receber a bola (antigo ponta-de-lança) com o armador, organizador, que às vezes aparece como
atacante (Diego).
No Cruzeiro, no mesmo jogo,
Alex faz muito bem as duas funções. Posiciona-se como atacante
e também como armador. Por isso, é hoje o mais completo e melhor jogador que atua no Brasil.
Sem falsa modéstia
Nas três partidas pela Copa Ouro, Diego jogou bem, mas conduziu demais a bola, facilitou a falta
e ficou muito no chão. Para evoluir, terá de aprender o momento
exato de driblar e o de tocar e passar rápido. Isso é importante para
um jogador de sua posição.
Já escrevi isso dezenas de vezes.
Repito tanto porque essa era minha posição e a minha principal
virtude. Em compensação, tinha
vários defeitos.
Quando vejo um talento como o
Diego, torço para que ele se torne
muito melhor do que é. Além de
adorar ver um craque, projeto nele o jogador que gostaria de ter sido e não fui (mais completo). Sem
falsa e sem nenhuma modéstia.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: Tudo por dinheiro Próximo Texto: Futebol: Brasil sub-23 desafia "bunker" americano Índice
|