São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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FUTEBOL

Alex e a alma de Peter Parker

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

Encanta multidões, nas telas de todo o planeta, uma das melhores aventuras de super-herói já filmadas: "Homem-Aranha 2". Conta a depressão de Peter Parker, sua crise existencial, a perda de poderes, a volta por cima contra o satânico Dr. Octopus e o conforto no colo de Mary Jane.
Os palcos do Peru exibem a bela história de um craque marcado pela fama de sestear durante as partidas. O camisa 10 que submergiu com o time olímpico na Austrália, micou na passagem pelo Flamengo, enrolou-se com uma transferência malograda para o Parma, frustrou-se como deserdado da Família Scolari, renasceu no Cruzeiro, viu Kaká roubar-lhe o lugar na seleção de Parreira e agora constrange, jogando muita bola, aqueles que o secam com olhos de urubu.
O fotógrafo mora numa espelunca. Não tem dinheiro para pagar o aluguel. Deve ao jornal um adiantamento. Fracassa como entregador de pizzas. Sente-se culpado pela morte do tio. Falta-lhe esperteza até para descolar canapé em coquetel. Patina na faculdade. Bate com a moto. Mancha as roupas caretas de Parker ao lavá-las misturadas com a roupinha fashion de Aranha. Nega fogo à mulher que ama. Pior, convive com os moles que uma baranguinha anoréxica lhe dá.
Na Olimpíada de 2000, o estilista do meio-campo virou boneco de Judas em Sábado de Aleluia. Perder para Camarões com dois a menos foi mesmo demais. Naufragou com a equipe improvisada por Felipão na Copa América de 2001. Descuidou-se com o peso e a taxa de gordura, como reconheceu aos repórteres Cosme Rímoli e Silvio Barsetti. Gorducho e irregular, não contestou quem dele dizia alternar genialidades e sonecas em campo.
Peter Parker tocou o fundo quando lhe faltaram as teias. Atirou as vestes de Aranha numa lata de lixo. Tirou o time, rasgou a fantasia. Fotografou o noivado da amada com um bobão.
Alex viu Ronaldinho Gaúcho, parceiro de infortúnio olímpico, ser reabilitado na Copa do penta. Não conseguiu assistir à final na TV. Bem que podia estar lá.
Parker tomou coragem e confidenciou à tia seus fantasmas com o tio morto. Os escrúpulos se impuseram, e ele ressuscitou o Aranha para salvar Nova York e Mary Jane. Ficou com sua garota. Até o próximo grito de socorro.
Alex carregou o Cruzeiro ano passado no Campeonato Brasileiro. No banco da seleção, entrou no fim de alguns confrontos. Como se haveria na Copa América? No domingo, marcou de pênalti. Roubou a bola e a passou para Adriano fazer mais um. Arrumou para Kleberson disparar o chutão, numa jogada que acabou com a bola na rede. Brilhou com quase meia-dúzia de embaixadinhas na coxa. Anteontem, seu pé esquerdo esteve na origem do gol de empate. E acertou o pênalti que eliminou o Uruguai.
O Homem-Aranha reviveu mais forte depois do baixo-astral. Alex escapou do inferno para viver dias inspirados na seleção. Como o Aranha, tem resolvido as paradas. É o nosso Peter Parker.

Léxico
No arranca-rabo pelo STJD, Ricardo Teixeira amplia o vocabulário do futebol, conforme as ligações reportadas por Sérgio Rangel. A contribuição: "consogro". É o sogro do filho ou da filha. O favorito do presidente da CBF é seu consogro.

Não quer calar
Como perguntou Marcelo Damato no "Lance!": por que diabos há tanto interesse em dirigir o tribunal do futebol?

Em tempo
O episódio sobre o Botafogo, com que a ESPN Brasil fechou a trilogia sobre clubes que fazem cem anos, não esteve apenas à altura dos anteriores. Mostrou a mais emocionante seqüência, ao narrar os dias de glória e decadência de Heleno de Freitas.

E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br


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