São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001

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AUTOMOBILISMO

Às vésperas de completar 10 anos no comando do time, Montezemolo planeja dividir o bolo da categoria

Presidente da Ferrari quer "socializar" F-1

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MARANELLO

Ex-piloto de rali, ex-chefe de equipe, ex-braço direito de Enzo Ferrari, ex-executivo da Fiat, ex-diretor de jornal, ex-presidente da Juventus, da Cinzano e do comitê organizador da Copa-90, na Itália.
Às vésperas de completar dez anos na presidência da Ferrari, o bolonhês Luca di Montezemolo, porém, não quer olhar para trás. E planeja uma revolução na F-1.
Em entrevista concedida na fábrica da Ferrari, em Maranello, o comandante da mais tradicional escuderia do automobilismo defende uma nova divisão dos lucros da categoria a partir de 2008.
A data não foi escolhida por acaso. Em 1997 acaba o Pacto de Concórdia, contrato que prende as equipes à FOM, holding que comanda comercialmente a F-1.
Montezemolo, 54, fala também sobre Rubens Barrichello, desdenha Kimi Raikkonen -contratado pela rival McLaren- e diz que não pensa na aposentadoria do tetracampeão Michael Schumacher, marcada para o fim de 2004.

BARRICHELLO - Estamos muito felizes com Barrichello. O segundo lugar dele na Hungria nos permitiu conquistar não só o Mundial de Pilotos como o de Construtores. Ele tem sido um companheiro muito rápido para o Michael e vem fazendo uma boa temporada. Essa é a razão por que prolongamos o seu contrato. Nessas últimas corridas, a equipe está oferecendo toda a estrutura, todo o apoio para ele vencer GPs. Mas tudo vai depender dele.

RAIKKONEN - A F-1 está diante de uma troca de gerações e temos que estar atentos para não nos enganarmos. No ano passado, vimos o [Jenson" Button muito competitivo com a Williams. Neste ano, há o Raikkonen, que algumas vezes é mais rápido do que o [Nick" Heidfeld. Mas sempre digo que não podemos julgar um piloto por uma temporada. É preciso dar um tempo para ter certeza.
Somos a Ferrari. Somos campeões do mundo. E familiarizados com a pressão. Nunca colocaria um piloto jovem e inexperiente em um carro tão importante. As outras equipes estão em situações diferentes. Respeitamos as decisões dos outros, mas não estamos buscando pilotos inexperientes.

ATENTADOS NOS EUA - É difícil opinar sobre se devemos correr em Indianápolis ou não [no próximo domingo". Somos competidores. Não organizamos os campeonatos. Seguimos o que a FIA [entidade máxima do automobilismo" decidir. Há 25 anos, os EUA são nosso maior mercado. A legenda Ferrari é tão grande nos EUA que, pelo resto do Mundial, não teremos mais entusiasmo.

SEGURANÇA - Sou velho na F-1. Quando era chefe da equipe nos anos 70, vi muitos amigos, muitos pilotos morrerem na pista. Lembro de acidentes terríveis na África do Sul, na Áustria... Acho que temos que agradecer às equipes e aos promotores, porque as corridas são muito seguras hoje. Mas acho que temos que continuar pressionando. Quero a F-1 sempre à frente quanto à segurança.

NOVOS GPS - Precisamos de um campeonato realmente mundial. A F-1 é forte na Europa, historicamente forte na América do Sul. Mas temos que melhorar nos EUA, e isso inclui uma estratégia com TV e muita promoção. A China, em pouco tempo, vai ser um importantíssimo mercado para todo mundo e precisa ser um objetivo para os próximos três ou quatro anos. Aí, uma categoria mundial se tornaria realidade. Leio em alguns lugares que a Itália pode perder um de seus GPs, o de Monza ou o de Imola. Queremos manter as duas na Itália. E usaremos a nossa influência para isso.

SCHUMACHER - Estamos muito felizes com o Michael e gostaríamos que ele continuasse após 2004. Mas para ser honesto, não estou pensando nisso. Ainda não estamos nem no final de 2001.

REVOLUÇÃO - Todos os anos queremos cortar custos, mas no final da temporada o orçamento está estourado. Por um lado, queremos que a F-1 continue sendo o estágio máximo do automobilismo mundial. Por outro lado, não estamos felizes com os custos.
Sempre fomos legalistas, sempre ao lado da autoridade política. Mas não concordamos, hoje, com o lado comercial da F-1. Bernie Ecclestone [fundador da FOM, que vendeu suas ações para uma grupo alemão de TV fechada" fez um trabalho excepcional, não há como duvidar. Mas não podemos aceitar que a F-1 fique confinada à TV fechada. As corridas são uma oportunidade para todas as marcas terem contato com milhões de pessoas em todos os continentes.
E o maior problema é a divisão do bolo. Porque as fábricas e as equipes têm que aceitar que a maior parte do dinheiro vá parar nas mãos de um qualquer? As fábricas têm que respeitar o pacto até o final de 2007 e depois olhar para seus interesses e fazer uma divisão mais justa desse tal bolo.
Não é muito complicado organizar um campeonato. Eu já organizei uma Copa do Mundo. O grupo de montadoras está muito fechado. Vamos respeitar o contrato e, no final de 2007, estaremos todos livres. E vamos querer 100% do faturamento. Não queremos criar uma nova fórmula. Queremos uma nova F-1.



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