São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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NO FOGO CRUZADO

Alvejados em serviço ou vítimas de acidentes, policiais encontram recomeço no esporte

Tiro dá novo horizonte a PMs do Rio

DA REPORTAGEM LOCAL

Eles ainda carregam as armas, mas hoje o alvo é outro.
Policiais militares que tiveram suas vidas transformadas por acidentes ou confrontos com bandidos descobriram no tiro esportivo a possibilidade de recomeçar suas histórias.
O trabalho, pioneiro no Brasil, começou em 1997. Walter Calixto, 43, havia ficado paraplégico dois anos antes. Reagira durante um assalto a ônibus no Rio.
Após um período de depressão, encontrou alento no esporte. Tentou basquete, handebol, mas só quando empunhou as armas de tiro ao alvo percebeu que podia seguir novo caminho.
"Vi também que podia ajudar outros a saírem da reclusão", diz. "Um policial baleado tem vergonha. Antes, ele era requisitado para proteger a vizinhança, agora precisa de ajuda para andar na rua. Essa nova realidade é muito terrível. Eles precisam de auxílio para enxergar a nova vida."
Hoje, a Associação de Reabilitação da PM do Rio de Janeiro conta com mais de 40 atiradores.
A maioria deles foi alvejada durante conflitos. Risco inerente à profissão, como define Calixto.
Presidente da entidade, o cabo reformado se empenhou na campanha pelo "sim" no referendo que acontece hoje.
O exemplo do trabalho feito pela PM do Rio já inspirou o nascimento de similares em Estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Nem o Comitê Paraolímpico Brasileiro nem as Forças Armadas têm programas esportivos voltados especificamente para ex-policiais ou militares.
O esporte, geralmente, é usado para a reabilitação de portadores de deficiência apenas como uma forma de fisioterapia, sem voltar o foco para a competição.
Além da prática esportiva, os PMs têm acompanhamento médico e psicológico. Às vezes, até uma ida em grupo ao cinema, ao Cristo Redentor ou passeio na orla fazem diferença no tratamento.
"Você aprende a ver que pode ser normal. No começo, eu não achava nem que iria dirigir. Hoje, vou aonde quero. Viajo para atirar. O esporte é tudo para mim", afirma Cillas Viana, 47.
Em 1992, o policial foi ferido em troca tiros durante assalto a banco. Um colega morreu.
Preso à cadeira de rodas, Viana, pai de um filho com, hoje, 17 anos, teve de abandonar o sonho de ser engenheiro de vôo. Estava no sexto semestre.
"Foi horrível. Tive vontade de dar um tiro na cabeça", conta.
Hoje, sonha em publicar sua biografia e ir a uma Paraolimpíada. A chance passou bem perto em 2003. Viana e outros dois atletas da associação -Calixto e Carlos Alberto Strub, 44- conquistaram o bronze no Aberto de Tiro Adaptado, na Holanda.
Apesar da medalha, não conseguiram pontos suficientes para chegar aos Jogos de Atenas.
"O tiro é um esporte muito difícil. Exige concentração, preparo físico para se manter na mesma posição durante tanto tempo e coordenação. Saber que você pode ser um dos melhores nisso é um grande estímulo", diz Viana.
Antes de visar a Paraolimpíada, os atletas querem defender o país no Parapan do Rio-07. (ML)


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