|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NO FOGO CRUZADO
Alvejados em serviço ou vítimas de acidentes, policiais encontram recomeço no esporte
Tiro dá novo horizonte a PMs do Rio
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles ainda carregam as armas,
mas hoje o alvo é outro.
Policiais militares que tiveram
suas vidas transformadas por
acidentes ou confrontos com
bandidos descobriram no tiro
esportivo a possibilidade de recomeçar suas histórias.
O trabalho, pioneiro no Brasil,
começou em 1997. Walter Calixto, 43, havia ficado paraplégico
dois anos antes. Reagira durante
um assalto a ônibus no Rio.
Após um período de depressão, encontrou alento no esporte. Tentou basquete, handebol,
mas só quando empunhou as armas de tiro ao alvo percebeu que
podia seguir novo caminho.
"Vi também que podia ajudar
outros a saírem da reclusão", diz.
"Um policial baleado tem vergonha. Antes, ele era requisitado
para proteger a vizinhança, agora precisa de ajuda para andar na
rua. Essa nova realidade é muito
terrível. Eles precisam de auxílio
para enxergar a nova vida."
Hoje, a Associação de Reabilitação da PM do Rio de Janeiro
conta com mais de 40 atiradores.
A maioria deles foi alvejada
durante conflitos. Risco inerente
à profissão, como define Calixto.
Presidente da entidade, o cabo
reformado se empenhou na
campanha pelo "sim" no referendo que acontece hoje.
O exemplo do trabalho feito
pela PM do Rio já inspirou o nascimento de similares em Estados
como São Paulo, Minas Gerais e
Rio Grande do Sul.
Nem o Comitê Paraolímpico
Brasileiro nem as Forças Armadas têm programas esportivos
voltados especificamente para
ex-policiais ou militares.
O esporte, geralmente, é usado
para a reabilitação de portadores
de deficiência apenas como uma
forma de fisioterapia, sem voltar
o foco para a competição.
Além da prática esportiva, os
PMs têm acompanhamento médico e psicológico. Às vezes, até
uma ida em grupo ao cinema, ao
Cristo Redentor ou passeio na orla fazem diferença no tratamento.
"Você aprende a ver que pode
ser normal. No começo, eu não
achava nem que iria dirigir. Hoje,
vou aonde quero. Viajo para atirar. O esporte é tudo para mim",
afirma Cillas Viana, 47.
Em 1992, o policial foi ferido em
troca tiros durante assalto a banco. Um colega morreu.
Preso à cadeira de rodas, Viana,
pai de um filho com, hoje, 17
anos, teve de abandonar o sonho
de ser engenheiro de vôo. Estava
no sexto semestre.
"Foi horrível. Tive vontade de
dar um tiro na cabeça", conta.
Hoje, sonha em publicar sua
biografia e ir a uma Paraolimpíada. A chance passou bem perto
em 2003. Viana e outros dois atletas da associação -Calixto e Carlos Alberto Strub, 44- conquistaram o bronze no Aberto de Tiro
Adaptado, na Holanda.
Apesar da medalha, não conseguiram pontos suficientes para
chegar aos Jogos de Atenas.
"O tiro é um esporte muito difícil. Exige concentração, preparo
físico para se manter na mesma
posição durante tanto tempo e
coordenação. Saber que você pode ser um dos melhores nisso é
um grande estímulo", diz Viana.
Antes de visar a Paraolimpíada,
os atletas querem defender o país
no Parapan do Rio-07.
(ML)
Texto Anterior: Paraolimpíada: Esporte cura feridas de guerra nos EUA Próximo Texto: Pan-Americano: Rio-07 é alvo de terroristas, diz especialista Índice
|