São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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PAN-AMERICANO

Além de país ser habitat ideal para grupos radicais, evento pode ser usado como vitrine para o mundo

Rio-07 é alvo de terroristas, diz especialista

TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, reúnem as condições ideais para um ataque terrorista sem precedentes.
A frase, que à primeira vista pode parecer exagerada ou fatalista, é resultado de análises e observações de Yonah Alexander, diretor do Centro Internacional de Estudos sobre o Terrorismo, em Washington, que dedicou 40 anos de estudos ao tema e é dono de mais de 70 livros sobre o terrorismo.
"Que jeito melhor os terroristas podiam encontrar para focar as atenções em suas ideologias e princípios que um evento espetacular como este, em que haverá cobertura massiva das TVs", questionou Alexander, que falou à Folha por telefone, dos EUA.
O pesquisador esteve no Rio em agosto passado para ministrar uma palestra sobre o assunto, a convite do Ministério da Justiça, na qual, segundo ele, estiveram presentes pessoas relacionadas com a segurança do Pan. Ele ainda participou de conferências em São Paulo, Brasília e Fortaleza.
Depois da visita ao país, Alexander publicou, no mês passado, um artigo no diário norte-americano "Washington Times" intitulado "Brasil, o próximo alvo", no qual detalha os motivos pelos quais acredita que os Jogos no Rio sejam um alvo em potencial.
"Infelizmente o Brasil é um bom habitat para grupos terroristas. Não falo sobre os brasileiros especificamente, mas sobre pessoas que se aproveitam da hospitalidade e do fato de ser um país grande, com muitas fronteiras."
Segundo o pesquisador, vários elementos propiciam este cenário, como a forte e cada vez maior ligação entre grupos terroristas como Al Qaeda, Hamas e Hizbollah e criminosos "normais", como os que proliferam no país.
A corrupção, os altos índices de criminalidade, o tráfico de drogas, entre outras atividades ilegais também colaboram para isso.
Para Alexander, outro problema grande é o fato de os brasileiros não reconhecerem o terrorismo como uma ameaça real ao país. "Há uma crença no país de que Deus é brasileiro, mas temos que perceber que para essas pessoas isso não importa, Deus é o deus deles", disse o pesquisador.
"Os brasileiros precisam perceber que não são imunes ao terrorismo. Estamos todos no mesmo barco. Ataques contra um são ataques contra todos", completou.
Alexander faz outro alerta e diz que é necessário ter em mente que um eventual ataque terrorista durante o Pan não teria como alvo principal o Brasil especificamente, e sim americanos, por exemplo. "Não há limite para a imaginação dos terroristas tanto em termos de atrocidades como de alvos, por isso é muito difícil se prevenir. É muito diferente de uma guerra, pois sabemos quem é o inimigo e de onde vem", disse.
A enorme quantidade de pontos frágeis em um evento deste porte é um dos maiores motivos de preocupação. O perigo pode estar em locais turísticos, na Vila Pan-Americana, em hotéis e prédios do governo. E há outros tipos de ameaça, como envenenamento da água, de alimentos e inclusive boicotes na comunicação.
Procurado pela reportagem, o Co-Rio, comitê organizador do Jogos, disse que não comenta sobre o esquema de segurança do Pan e que ele ficará a cargo do governo federal. Ainda não há definição, porém, de quem será responsável, se o Ministério da Justiça ou o da Defesa. Estima-se que o gasto com a segurança, que terá ajuda da Agência Brasileira de Inteligência, será de R$ 350 milhões.


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