São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 1999

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SALTOS ORNAMENTAIS
Juliana Veloso, 18, primeira brasileira com vaga olímpica, largou a ginástica após carreira frustrada
Ex-ginasta vai a Sydney com a piscina

Publius Vergilius/Folha Imagem
A carioca Juliana Veloso, 18, primeira atleta brasileira a se classifcar para a Olímpiada de Sydney-2000, nos saltos ornamentais, durante treino, no Rio de Janeiro


LUÍS CURRO
da Reportagem Local

A carioca Juliana Rodrigues Veloso, 18, primeira atleta brasileira a se classificar para a Olimpíada de Sydney-2000, nos saltos ornamentais, demorou para encontrar seu esporte de sucesso.
Até os 12 anos, conta ela, praticava ginástica olímpica -e insistia, sem êxito, em alcançar resultados satisfatórios na modalidade.
Após seguidos conselhos do pai, hoje seu técnico, Julio Veloso, praticante de saltos ornamentais, Juliana partiu para outro tipo de malabarismos, trocando as quedas no solo pelas na piscina.
Bem-sucedida, conquistou títulos brasileiros em sua categoria no primeiro ano de prática, em 1989 -praticava simultaneamente com a ginástica olímpica.
Atleta do Fluminense, ela ganhou o ouro no último Troféu Brasil (equivalente ao Campeonato Brasileiro), em dezembro passado, nas três provas de saltos: trampolim de 1 metro, trampolim de 3 metros e plataforma de 10 metros.
No posto de melhor brasileira nos saltos ornamentais, Juliana, no último dia 15, atingiu o que considerava um sonho: participar de uma Olimpíada.
No Mundial disputado em Wellington (Nova Zelândia), classificatório para os Jogos Olímpicos, ela ficou em 15º lugar, mas marcou 249 pontos na prova do trampolim de 3 metros -o índice exigido pela Fina (Federação Internacional de Natação) para Sydney-2000 é 230.
Na plataforma de 10 metros, sua prova preferida, foi a 10ª colocada e nela também poderá dar seu saltos na próxima Olimpíada.
A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) informou que Juliana só não irá aos Jogos se estiver contundida.
"Em 96, consegui o índice para ir (aos Jogos de Atlanta), mas disseram que eu era nova demais. Agora não têm motivo, não tem jeito de me deixar de fora", declarou.
Juliana, 1,60 m, 59 kg, só não disputará o trampolim de 1 metro em Sydney-2000 porque a prova não é olímpica.
A seguir, leia trechos da entrevista que a atleta concedeu à Folha, por telefone, de Wellington, após obter o índice.
Para algumas respostas, ela acabou "colando" do pai. Repetia a pergunta, esperava que ele dissesse algo e falava praticamente a mesma coisa.
Folha - Como você se sente após saber que é a primeira brasileira a se classificar para a Olimpíada?
Juliana Veloso -
Está tudo ótimo, porque chegar na Olimpíada é o sonho de todo atleta. Estou feliz por já ter conseguido um bom resultado na primeira competição do ano. Agora, sem a obrigação de alcançar o índice olímpico, devo obter resultados melhores em outras competições.
Folha - Como você analisa seu desempenho neste Mundial?
Juliana -
Saltei muito bem. Só não fui melhor porque sou pouco conhecida dos juízes. Não deram a nota que eu merecia. Dou um salto de 6,5, depois vem uma mexicana e, com o mesmo salto, consegue 7 ou 7,5. Para valorizarem mais meus saltos, precisaria participar mais desses campeonatos. Conseguiria notas mais altas.
Folha - Você conhece bem suas adversárias?
Juliana -
Mais ou menos. Mais pelos campeonatos juvenis.
Folha - De que países são suas rivais mais fortes?
Juliana -
(Sopro do pai)China... Canadá... México... Rússia... Cazaquistão... e Estados Unidos.
Folha - Por que você começou a praticar saltos ornamentais?
Juliana -
Fazia ginástica olímpica desde pequena e nunca obtive resultado nenhum. Então comecei a saltar nas piscinas e, em 89 e 90, fui bicampeã brasileira. Aos 12 anos, larguei a ginástica de vez. Estava no esporte errado.
Folha - Qual prova de salto ornamental você prefere?
Juliana -
A plataforma, porque é mais alto e mais divertido. No trampolim, não tem muito equipamento para treinar. A plataforma é sempre igual, é de concreto.
Folha - Você diz que falta equipamento no trampolim...
Juliana -
O trampolim do Fluminense é o mesmo há quatro anos, não evoluiu. Os trampolins novos são mais macios. Dá para pegar mais impulsão, pular mais alto e fazer saltos mais bonitos.
Folha - Você é uma das razões que o Fluminense (na terceira divisão do futebol brasileiro) teria para se orgulhar...
Juliana -
É, mas o Fluminense não dá o menor valor para isso. Não há reconhecimento. O salto ornamental é o único esporte que não é remunerado lá dentro.
Folha - Como fazer para evoluir até a Olimpíada?
Juliana -
Ganhei uma bolsa na Universidade da Flórida, onde estive por cinco meses em 97, e estou indo estudar e treinar lá, em março. Ficarei durante um ano. Nos Estados Unidos, o esporte é reconhecido. Há trampolins novos e uma competição atrás da outra. Estou animada. Vou dar um passo maior para ir bem na Olimpíada.
Folha - Quanto tempo por dia é gasto com os treinos?
Juliana -
Treino de segunda a sexta, duas vezes por dia. Dá umas seis horas por dia, contando a musculação, que faço três vezes por semana. Cansa bastante.
Folha - Fora os saltos na piscina, o que gosta de fazer?
Juliana -
Adoro surfar. Nos finais de semana, costumo pegar ondas na praia da Barra.
Folha - Especificamente nos saltos, o que você sente que precisa melhorar?
Juliana -
Tenho agilidade, mas preciso de mais explosão. (Sopro do pai)Explosão quer dizer saltar o mais alto possível. Quanto mais alto terminar a quantidade de mortais, o salto sai com mais facilidade... Também quero perder peso, para ter uma figura mais definida e o salto ficar mais bonito. Se o salto for igual, a atleta bonita leva vantagem sobre a feia.



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