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COPA 2006
Goleiro da Croácia encara hoje julgamento e pode abrir precedente histórico por quebrar nariz de adversário
Rival do Brasil pode ver Mundial da prisão
LUÍS FERRARI
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
É comum no futebol chamar de
"criminoso" um lance violento de
falta. A Justiça da Áustria levou a
expressão ao pé da letra, e um goleiro do primeiro rival do Brasil
na Copa do Mundo corre hoje risco de prisão -e o futebol, de um
sério precedente: uma punição
criminal por uma disputa de bola.
Joseph Didulica (pronuncia-se
"didúlisha"), reserva da Croácia e
titular do Áustria Viena, estará
diante de sua primeira audiência
hoje numa corte em Viena.
O motivo? Uma joelhada numa
disputa de bola, que quebrou o
nariz e um osso da face do atacante belga Axel Lawaree, no clássico
vienense contra o eterno rival, o
Rapid, em maio de 2005.
Se for condenado, o goleiro pode ficar impedido de atuar na Copa. No processo por lesão corporal causada por extrema negligência, a lei austríaca prevê prisão de
até três anos, uma hipótese remota. Há inclusive espaço no julgamento para recurso que transforme uma punição menor em penas
alternativas, sem prisão.
O temor, porém, é que haja uma
invasão da esfera criminal nas leis
do jogo, já que, ainda que grosseiro, o lance ocorreu com bola rolando. "Não consigo crer que um
lance de jogo possa ser levado aos
tribunais", disse Didulica à época
em que foi notificado. Hoje, o goleiro é orientado a não falar.
"Se Didulica for condenado, pode-se criar, num aspecto criminal,
uma nova Lei Bosman [jogador
belga que usou leis trabalhistas
da União Européia para se transferir e, com isso, ajudou a extinguir o passe nos contratos entre
jogadores e clubes na maior parte
do mundo]", diz Markus Kratschmir, técnico do Áustria Viena, que
considera o lance um acidente esportivo. "Foi má sorte. Tenho a
firme convicção de que ele é inocente e que será absolvido."
Kratschmir lembra que, na esfera esportiva, Didulica foi suspenso por oito jogos -o máximo
previsto para a agressão eram 12.
Mas um procedimento obrigatório dos hospitais austríacos comunicou o trauma de Lawaree à
polícia, e a promotoria vienense
iniciou a ação criminal. Outra
ação penal foi aberta por torcedores do Rapid, que denunciaram a
agressão à Justiça -algo possível
nas leis austríacas, cujo sistema
penal se parece com o brasileiro.
Complicou mais a vida do croata o rancor de quem apanhou. Depois de quatro dias de internação
e mais um retorno para reparar o
problema da face, o atacante do
Rapid já declarou que quer ver o
croata punido, algo de que até seu
técnico, Werner Kuhn, discorda.
"Nós gostaríamos de fechar esse
capítulo, aconselhei Lawaree a fazer isso, mas ele não quis. Precisamos deixar isso no gramado. Prefiro que não haja punição", diz o
técnico, que teme uma onda de
violência por parte das torcidas.
No clássico seguinte, já pelo
campeonato atual, torcedores do
Rapid bombardearam com fogos
de artifício e pedras a área do goleiro do Áustria Viena, no primeiro minuto da partida, retomada
após 15 minutos de atraso.
A Federação Austríaca, seguindo procedimentos da Fifa e da
Uefa, não interfere nesses casos.
Por meio da sua assessoria de imprensa, a Liga Austríaca afirmou à
Folha que não considera que haverá uma onda de processos criminais, por entender o incidente
como um fato isolado.
Na audiência de hoje, foi arrolado como testemunha o árbitro da
partida, Fritz Stuchlik, que deu
cartão vermelho imediato ao goleiro croata após o lance.
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