São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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COPA 2006

Goleiro da Croácia encara hoje julgamento e pode abrir precedente histórico por quebrar nariz de adversário

Rival do Brasil pode ver Mundial da prisão

LUÍS FERRARI
MÁRVIO DOS ANJOS

DA REPORTAGEM LOCAL

É comum no futebol chamar de "criminoso" um lance violento de falta. A Justiça da Áustria levou a expressão ao pé da letra, e um goleiro do primeiro rival do Brasil na Copa do Mundo corre hoje risco de prisão -e o futebol, de um sério precedente: uma punição criminal por uma disputa de bola.
Joseph Didulica (pronuncia-se "didúlisha"), reserva da Croácia e titular do Áustria Viena, estará diante de sua primeira audiência hoje numa corte em Viena.
O motivo? Uma joelhada numa disputa de bola, que quebrou o nariz e um osso da face do atacante belga Axel Lawaree, no clássico vienense contra o eterno rival, o Rapid, em maio de 2005.
Se for condenado, o goleiro pode ficar impedido de atuar na Copa. No processo por lesão corporal causada por extrema negligência, a lei austríaca prevê prisão de até três anos, uma hipótese remota. Há inclusive espaço no julgamento para recurso que transforme uma punição menor em penas alternativas, sem prisão.
O temor, porém, é que haja uma invasão da esfera criminal nas leis do jogo, já que, ainda que grosseiro, o lance ocorreu com bola rolando. "Não consigo crer que um lance de jogo possa ser levado aos tribunais", disse Didulica à época em que foi notificado. Hoje, o goleiro é orientado a não falar.
"Se Didulica for condenado, pode-se criar, num aspecto criminal, uma nova Lei Bosman [jogador belga que usou leis trabalhistas da União Européia para se transferir e, com isso, ajudou a extinguir o passe nos contratos entre jogadores e clubes na maior parte do mundo]", diz Markus Kratschmir, técnico do Áustria Viena, que considera o lance um acidente esportivo. "Foi má sorte. Tenho a firme convicção de que ele é inocente e que será absolvido."
Kratschmir lembra que, na esfera esportiva, Didulica foi suspenso por oito jogos -o máximo previsto para a agressão eram 12.
Mas um procedimento obrigatório dos hospitais austríacos comunicou o trauma de Lawaree à polícia, e a promotoria vienense iniciou a ação criminal. Outra ação penal foi aberta por torcedores do Rapid, que denunciaram a agressão à Justiça -algo possível nas leis austríacas, cujo sistema penal se parece com o brasileiro.
Complicou mais a vida do croata o rancor de quem apanhou. Depois de quatro dias de internação e mais um retorno para reparar o problema da face, o atacante do Rapid já declarou que quer ver o croata punido, algo de que até seu técnico, Werner Kuhn, discorda.
"Nós gostaríamos de fechar esse capítulo, aconselhei Lawaree a fazer isso, mas ele não quis. Precisamos deixar isso no gramado. Prefiro que não haja punição", diz o técnico, que teme uma onda de violência por parte das torcidas.
No clássico seguinte, já pelo campeonato atual, torcedores do Rapid bombardearam com fogos de artifício e pedras a área do goleiro do Áustria Viena, no primeiro minuto da partida, retomada após 15 minutos de atraso.
A Federação Austríaca, seguindo procedimentos da Fifa e da Uefa, não interfere nesses casos. Por meio da sua assessoria de imprensa, a Liga Austríaca afirmou à Folha que não considera que haverá uma onda de processos criminais, por entender o incidente como um fato isolado.
Na audiência de hoje, foi arrolado como testemunha o árbitro da partida, Fritz Stuchlik, que deu cartão vermelho imediato ao goleiro croata após o lance.


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