São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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Os últimos serão os primeiros

Caio Guatelli - 11.nov.01/Folha Imagem
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O título da Copa ficará com uma seleção que passou os últimos dois anos mais perto do inferno do que do paraíso vislumbrado agora. Alemanha, Brasil, Coréia do Sul e Turquia tiveram preparações caóticas e contavam no início de 2000 com técni cos que não eram os mesmos de hoje. Alemães e turcos só conseguiram a vaga na repescagem. O Brasil fez sua pior campanha nas eliminatórias. E a Coréia, país-sede, penou em torneios e amistosos. Hoje exaltados, atletas e técnicos eram vilões até pouco tempo.


PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A SAITAMA

Um mês antes da primeira Copa asiática, as previsões para as quatro seleções que acabaram como semifinalistas eram catastróficas.
A Coréia do Sul era apontada como primeiro anfitrião a ser eliminado na fase inicial. Num grupo com Camarões e Irlanda, muitos diziam que a Alemanha daria o vexame de não avançar. Para o Brasil, enfrentar França ou Argentina nas quartas-de-final seria fatal. A conturbada Turquia seria o que sempre foi: inexpressiva.
Tudo isso por causa da preparação conturbada para o Mundial.
Mesmo com o lugar no torneio garantido desde 1996, quando foi designada para abrigar metade da disputa, a Coréia deixou de lado a história de trabalho a longo prazo.
O holandês Guus Hiddink só assumiu em 2001. Com atletas que, segundo ele, não eram dos melhores, acumulou fracassos.
No início de 2002, por exemplo, na Copa Ouro, que reúne equipes da Concacaf e convidados, a Coréia do Sul teve resultados inacreditáveis para um time que menos de seis meses depois está nas semifinais do Mundial, como um empate sem gols com a praticamente amadora seleção de Cuba.
A Alemanha, acostumada a não mudar a equipe e aos bons resultados, passou por uma montanha-russa nos últimos quatro anos. Com um time envelhecido, fracassou de forma clamorosa na Eurocopa-2000, quando ficou em penúltimo lugar entre as 16 seleções que disputaram a fase final.
O fracasso fez com que o técnico Erich Ribbeck deixasse a equipe. No seu lugar, entrou o ex-atacante Rudi Völler, que não teve sossego. Primeiro, por continuar no Bayer Leverkusen. Depois, por resultados aquém do esperado.
Com uma campanha que teve o vexame de perder por 5 a 1 da Inglaterra em casa, a mais vitoriosa das seleções européias só garantiu sua vaga no Mundial após jogar a repescagem contra a Ucrânia.
Nos meses que antecederam o torneio, uma série de lesões em importantes atletas, como o meia Deisler, fez com que a pretensão alemã de uma boa campanha na Copa fosse ainda mais modesta.
Na Turquia, o técnico Senol Gunes e os jogadores estavam no inferno até mesmo com o Mundial em andamento. Isso por causa de uma conturbada relação entre treinador e atletas, aliada a críticas pesadas da imprensa do país.
Após perder para o Brasil e empatar com a Costa Rica na fase inicial, Gunes, outro que só assumiu o cargo em 2000, foi acusado por alguns jogadores de armar o time de forma errada. Sua saída também foi pedida, de maneira acintosa, por alguns jornais turcos.
O técnico tem fama de falhar nas horas decisivas. Foi assim quando, nas eliminatórias, a Turquia perdeu da Suécia em casa e desperdiçou a chance da classificação antecipada. A vaga só veio na repescagem contra a Áustria.
No caso do Brasil, foi que o inferno virou céu com mais dramaticidade. Foram cinco derrotas nas eliminatórias sul-americanas, contra uma em todo o resto da história. Quatro treinadores passaram pela equipe. O atual, o gaúcho Luiz Felipe Scolari, assumiu apenas em junho de 2001.
Uma interminável polêmica sobre a convocação de Romário e atuações medianas em torneios e amistosos credenciavam a seleção a um fiasco enorme na Ásia, o que acabou por se transformar numa campanha de 100% de aproveitamento e num ataque arrasador no Mundial -15 gols em cinco gols.
Na contramão dos semifinalistas, os melhores do futebol mundial nos últimos quatro anos se espatifaram no caminho. A França, última campeã e vencedora da Eurocopa-2000, não passou da fase inicial, assim como a Argentina, após uma campanha brilhante nas eliminatórias sul-americanas.
Outras equipes que brilharam nas eliminatórias, como Costa Rica, Polônia e Camarões, não passaram sequer da primeira fase.
Eliminatórias podem ser para a Fifa já a Copa, mas a prática, de novo, mostrou que não é assim.



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