São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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BRASIL

Tricampeão mundial aposta em Coréia do Sul campeã

Pelé ainda vê abalo emocional em Ronaldo

DO ENVIADO A YOKOHAMA

Há oito meses, Pelé teve uma conversa com Ronaldo. Foi em Milão, no apartamento do atacante da Internazionale. Foi lhe dar força e ""um conselho". Que fizesse na Coréia e no Japão o mesmo que Pelé fez no México, em 1970.
""Contei meu drama em 66, quando o Brasil perdeu a Copa e eu me machuquei. Falei que ele deveria se concentrar e só pensar em jogar bola, como eu fiz em 70. Acho que o problema do Ronaldo é mais emocional do que físico."
Para Pelé, 61, a dor muscular que o atacante vem sentindo pode ser de fundo psicológico. ""Mas nós não tivemos oportunidade de conversar agora. A última vez foi em abril, em Portugal, quando fiquei contente de saber que ele estava se recuperando."
O ex-jogador, que ontem deu uma série de entrevistas em Yokohama, entre elas uma para a Folha, num dos escritórios da Mastercard, de quem é garoto-propaganda, acha que Ronaldo, se não pegar a Turquia, fará falta. Mas não tanto quanto Ronaldinho, que está suspenso e é, para ele, o grande nome do Mundial até aqui. (JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO)

Folha - Após bater a Inglaterra, o Brasil começou a ser apontado como favorito para ganhar a Copa.
Pelé -
É verdade, mas eu acho prematuro. Tem condições de vencer, está jogando bem, mas eu prefiro que continue como azarão. Se fosse apostar num time, talvez apostasse na Coréia. Desde o ano passado achava que iria longe. Quando ninguém acreditava, eu dizia que tinha 90% de chances de passar da primeira fase.

Folha - Mas a Coréia está indo bem porque está jogando em casa. Só que a final será no Japão...
Pelé -
Se um time chega à final é porque tem qualidade. A Espanha sediou a Copa e não chegou lá, o Chile, o México, os EUA...

Folha - Então a Coréia pode ser o primeiro país da Ásia a levar a taça?
Pelé -
Pode. Ela não tem grandes talentos individuais, nenhum jogador que se destaca, mas o técnico [Guus Hiddink" é fantástico, o time tem conjunto e condição física invejável. Está embalado e foi quem pegou os adversários mais difíceis. Primeiro a Polônia, que tem tradição. Depois o time de Portugal, que chegou como favorito. Em seguida, a Itália e a Espanha [enfrentou ainda os EUA".

Folha - E o Brasil, a seleção passa pela Turquia?
Pelé -
Vai ser um jogo muito duro, já foi assim na primeira fase e agora deve ser pior, ainda mais se não contarmos com Ronaldo e Ronaldinho. Mexer num time que vinha bem nunca é bom negócio, mas o que se pode fazer?

Folha - Como vê mais uma contusão do Ronaldo?
Pelé -
Ele vinha fazendo uma boa Copa, é chato que tenha se machucado de novo. Acho que o problema do Ronaldo é mais emocional do que físico. Se ele cuidar do lado psicológico, deslancha, mas não pode jogar preso, preocupado. Mas quem vai fazer falta mesmo é o Ronaldinho. Ele foi muito bem contra a Inglaterra, foi quem decidiu a partida.

Folha - Até aqui quem está sendo o craque da Copa?
Pelé -
Estava gostando muito do Butt [Nicky, meia da Inglaterra" e, é claro, do Ronaldinho.

Folha - A arbitragem está sendo considerada um dos pontos fracos da Copa. Ela piorou em relação aos outros anos ou sempre foi assim?
Pelé -
Piorou, não tenha dúvida. Nunca vi tantos erros e em lances decisivos como agora. Falhas sempre houve, e algumas até ficaram famosas, como a final da Copa de 1966 [quando a Alemanha foi prejudicada contra a Inglaterra", o gol de mão de Maradona [em 1986", mas nada que se compare aos erros sistemáticos, um atrás do outro, deste Mundial.

Folha - Muito se fala em um esquema para favorecer os coreanos.
Pelé -
Não, não acredito que seja assim. O que acontece é que o juiz é humano e erra. O problema desta Copa é a falta de critério, cada árbitro apita de um jeito diferente. Também falaram que o Brasil estaria sendo beneficiado, mas contra a Inglaterra a expulsão do Ronaldinho foi questionável.

Folha - Com as surpresas até agora, tem muita gente falando numa nova ordem no futebol mundial.
Pelé -
É claro que diminuiu um pouco a diferença entre as grandes seleções e aquelas consideradas mais fracas, mas não é surpresa a performance do Senegal, nem a dos EUA. O Senegal tem quase o time todo jogando na França, e os americanos vêm investindo muito no esporte nos últimos anos. Tradição e camisa continuam valendo, tanto é que Alemanha e Brasil, que chegaram desacreditados, estão entre os primeiros.



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