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BRASIL
Tricampeão mundial aposta em Coréia do Sul campeã
Pelé ainda vê abalo emocional em Ronaldo
DO ENVIADO A YOKOHAMA
Há oito meses, Pelé teve uma
conversa com Ronaldo. Foi em
Milão, no apartamento do atacante da Internazionale. Foi lhe dar
força e ""um conselho". Que fizesse na Coréia e no Japão o mesmo
que Pelé fez no México, em 1970.
""Contei meu drama em 66,
quando o Brasil perdeu a Copa e
eu me machuquei. Falei que ele
deveria se concentrar e só pensar
em jogar bola, como eu fiz em 70.
Acho que o problema do Ronaldo
é mais emocional do que físico."
Para Pelé, 61, a dor muscular
que o atacante vem sentindo pode
ser de fundo psicológico. ""Mas
nós não tivemos oportunidade de
conversar agora. A última vez foi
em abril, em Portugal, quando fiquei contente de saber que ele estava se recuperando."
O ex-jogador, que ontem deu
uma série de entrevistas em Yokohama, entre elas uma para a
Folha, num dos escritórios da
Mastercard, de quem é garoto-propaganda, acha que Ronaldo,
se não pegar a Turquia, fará falta.
Mas não tanto quanto Ronaldinho, que está suspenso e é, para
ele, o grande nome do Mundial
até aqui.
(JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO)
Folha - Após bater a Inglaterra, o
Brasil começou a ser apontado como favorito para ganhar a Copa.
Pelé - É verdade, mas eu acho
prematuro. Tem condições de
vencer, está jogando bem, mas eu
prefiro que continue como azarão. Se fosse apostar num time,
talvez apostasse na Coréia. Desde
o ano passado achava que iria longe. Quando ninguém acreditava,
eu dizia que tinha 90% de chances
de passar da primeira fase.
Folha - Mas a Coréia está indo
bem porque está jogando em casa.
Só que a final será no Japão...
Pelé - Se um time chega à final é
porque tem qualidade. A Espanha
sediou a Copa e não chegou lá, o
Chile, o México, os EUA...
Folha - Então a Coréia pode ser o
primeiro país da Ásia a levar a taça?
Pelé - Pode. Ela não tem grandes
talentos individuais, nenhum jogador que se destaca, mas o técnico [Guus Hiddink" é fantástico, o
time tem conjunto e condição física invejável. Está embalado e foi
quem pegou os adversários mais
difíceis. Primeiro a Polônia, que
tem tradição. Depois o time de
Portugal, que chegou como favorito. Em seguida, a Itália e a Espanha [enfrentou ainda os EUA".
Folha - E o Brasil, a seleção passa
pela Turquia?
Pelé - Vai ser um jogo muito duro, já foi assim na primeira fase e
agora deve ser pior, ainda mais se
não contarmos com Ronaldo e
Ronaldinho. Mexer num time que
vinha bem nunca é bom negócio,
mas o que se pode fazer?
Folha - Como vê mais uma contusão do Ronaldo?
Pelé - Ele vinha fazendo uma
boa Copa, é chato que tenha se
machucado de novo. Acho que o
problema do Ronaldo é mais
emocional do que físico. Se ele
cuidar do lado psicológico, deslancha, mas não pode jogar preso,
preocupado. Mas quem vai fazer
falta mesmo é o Ronaldinho. Ele
foi muito bem contra a Inglaterra,
foi quem decidiu a partida.
Folha - Até aqui quem está sendo
o craque da Copa?
Pelé - Estava gostando muito do
Butt [Nicky, meia da Inglaterra"
e, é claro, do Ronaldinho.
Folha - A arbitragem está sendo
considerada um dos pontos fracos
da Copa. Ela piorou em relação aos
outros anos ou sempre foi assim?
Pelé - Piorou, não tenha dúvida.
Nunca vi tantos erros e em lances
decisivos como agora. Falhas
sempre houve, e algumas até ficaram famosas, como a final da Copa de 1966 [quando a Alemanha
foi prejudicada contra a Inglaterra", o gol de mão de Maradona
[em 1986", mas nada que se compare aos erros sistemáticos, um
atrás do outro, deste Mundial.
Folha - Muito se fala em um esquema para favorecer os coreanos.
Pelé - Não, não acredito que seja
assim. O que acontece é que o juiz
é humano e erra. O problema desta Copa é a falta de critério, cada
árbitro apita de um jeito diferente.
Também falaram que o Brasil estaria sendo beneficiado, mas contra a Inglaterra a expulsão do Ronaldinho foi questionável.
Folha - Com as surpresas até agora, tem muita gente falando numa
nova ordem no futebol mundial.
Pelé - É claro que diminuiu um
pouco a diferença entre as grandes seleções e aquelas consideradas mais fracas, mas não é surpresa a performance do Senegal, nem
a dos EUA. O Senegal tem quase o
time todo jogando na França, e os
americanos vêm investindo muito no esporte nos últimos anos.
Tradição e camisa continuam valendo, tanto é que Alemanha e
Brasil, que chegaram desacreditados, estão entre os primeiros.
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