São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2011

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XICO SÁ

Viúvas & lolitas


As lolitas são um fenômeno, com uma demão das tinturas do pop, que extrapolam os limites do time

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, depois das viúvas de Pelé, temos agora as lolitas de Neymar -o menino que saiu praticamente das fraldas para entrar na história depois da conquista da América.
A grande diferença é que as viúvas vestiam apenas o preto e o branco do Santos. As lolitas vão além do manto alvinegro, vestem-se também de vermelho, verde, azul e todas as combinações possíveis.
As viúvas foram geradas de uma circunstância santista, do jejum de glórias na era pós-Pelé e da "gracinha sem graça" dos adversários, como bem disse ontem o Juca Kfouri.
As lolitas são um fenômeno, com uma demão das tinturas do pop, que extrapolam os limites do clube.
Tenho visto a agonia de pais corintianos, são- -paulinos e palmeirenses com a tentação exercida pelo neymarismo sobre os filhos, tanto meninas como meninos. O pior desgosto de um pai é não transmitir às suas crias o legado ludopédico da sua miséria. É aí que Neymar faz um estrago nos lares.
Não só em SP. O invocado moicano atrai jovens em todo o país. Para a alegria das famílias santistas e para o ciúme dos marmanjos de outros times.
Em vez de louvar o futebol do craque da Vila, o pai sente-se ameaçado em seus domínios por um garoto "irresponsável".
Ao assumir a recente paternidade, o próprio Neymar -agora me arrisco aqui como um Freud de boteco- ampliou esse medo nas famílias, gerando uma espécie de gravidez psicológica generalizada.
Deixa para lá, eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia nem no algo mais, como me sopra aqui o sumido Belchior.
Rebobine comigo a história, e voltemos ao Pacaembu, anteontem. Em certo momento, todos os cães policiais ladravam enquanto a caravana santista passava em busca da terceira estrela.
Latiam, e a baba da inveja inundava a farda dos PMs. Em campo, um perdigueiro de nome Adriano fazia o serviço de dez canis. Com mais classe, óbvio, no que liberava Arouca e Elano com Bilhete Único na mão para transitar à vontade.
E o que falar do Ganso, nosso João Gilberto do futebol? A bola estava morrendo de saudade e o aguardava com uma cantiga: "Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho".
No mais, foi aquele sonho: as espumas flutuantes do mar branco encobriram São Paulo. A noite em que deu praia na cidade babilônica.
Agora com licença que vou ali soltar o trancafiado corvo Edgar, Peñarol desde filhote, e já volto.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa


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