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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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FUTEBOL

Leão, não invente!

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Na vitória incontestável do Cruzeiro, os erros do Leão na escalação, a ausência do Diego e a expulsão do Fabiano facilitaram, mas não foram mais decisivos do que a qualidade do time mineiro. A equipe mostrou a sua principal qualidade: a saída organizada e em grande velocidade no contra-ataque com os dois laterais, sob o comando do maestro Alex, o homem que enxerga demais. Desconfio ainda mais de que o Alex tem um "terceiro olho", o da inventividade.
Leão, um excelente técnico, de vez em quando gosta de inventar, de ser mais criativo do que a criatividade, mais sábio do que a sabedoria, mais esperto do que a esperteza. São estranhas as escalações anteriores do Fabiano de centroavante e, nesse jogo, a do Elano nessa posição e a de um terceiro volante.
Como há tantos fatores envolvidos no resultado de uma partida, o Santos poderia ter vencido com essa formação, e o técnico seria elogiado. Muitos diriam que ele deu um nó tático no Luxemburgo. Era isso que o Leão desejava, ser a estrela do espetáculo.
Leão mudou toda a estrutura do time e até a maneira de jogar do Renato e do Robinho. Se o Santos tivesse vencido, diriam ainda que o terceiro volante permitiu ao Renato chegar mais ao ataque. Aliás, Renato tem avançado demais. Ele parece fascinado com tantos elogios de que é um volante que não se limita à marcação. Isso é verdade, incomum e ótimo. Mas ele é um volante. Não é um meia-direita. A chegada ao ataque tem de ser esporádica, para surpreender o adversário.
Por causa do terceiro volante, Robinho, que estava atuando muito bem mais recuado e depois chegando à frente, ficou mais fixo no ataque.
José Geraldo Couto escreveu muito bem na semana passada que o Robinho amadureceu muito após ter ficado na reserva e que ele está usando a sua esperteza, leveza e rapidez não só no ataque, mas também no desarme.
Cronista também amadurece e muda de opinião. Já escrevi que o Parreira deveria tentar adaptar um dos meias ofensivos que estão na reserva para fazer a função do Zé Roberto. O jogador certo para fazer isso não é um deles e sim o Robinho, que ocupa normalmente esse espaço. É impressionante como ele passa de uma intermediária à outra com velocidade, habilidade e inteligência.
Na seleção sub-23, na Copa Ouro, Robinho jogou numa posição parecida à do Zé Roberto. Foi muito bem taticamente e discreto individualmente. Jogador tático se encontra em toda esquina. Robinho tem amplas condições de brilhar das duas maneiras.
Após cair de produção, achava que o Robinho seria um Denílson piorado. Mudei de opinião. Ele pode ir muito mais longe. A pedalada vai ser apenas um detalhe.

Cotoveladas
Os jogadores brasileiros continuam irritados e violentos. Bastam receber uma falta dura para reagirem com agressões e cotoveladas, como fez o Fabiano.
O São Paulo é o time mais indisciplinado do campeonato. Recebe 3,1 cartões amarelos, na média por partida. Um dos motivos desse comportamento é a necessidade dos jogadores mostrarem que são raçudos, já que foram chamados várias vezes de pipoqueiros pelos torcedores. Eles confundem garra com violência.
Mas o indisciplinado Luis Fabiano, que parece curtir a repercussão de seu comportamento, não deu uma cotovelada no jogador do Fluminense, como parece na imagem. Ele estava com a bola dominada, não foi tocado pelo adversário e usou o braço para não perder a bola. Foi imprudente e deveria levar o amarelo.
Pelé também utilizava muito os braços e o corpo para se livrar da marcação. Isso é uma coisa. Outra foi a cotovelada que deu no jogador do Uruguai, na semifinal da Copa de 70. Merecia ter sido expulso -e não jogaria a final.
Na jogada que antecedeu o gol do Brasil contra a Inglaterra, na Copa de 70, usei o braço da mesma maneira que fez o Luis Fabiano para impedir o desarme do adversário. Na imagem, parecia também claro que dei uma cotovelada. A imagem é fria, não pensa e às vezes engana. Imagem não é tudo. A interpretação da imagem precisa estar associada aos fatos e ao raciocínio.
A agressão, a cotovelada do Fabiano, não tem nada a ver com a falta cometida pelo Luis Fabiano. A sensibilidade, a percepção e a conduta do juiz não podem ser a mesma em dois lances parecidos, mas completamente diferentes.

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