|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Leão, não invente!
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Na vitória incontestável do
Cruzeiro, os erros do Leão
na escalação, a ausência do Diego
e a expulsão do Fabiano facilitaram, mas não foram mais decisivos do que a qualidade do time
mineiro. A equipe mostrou a sua
principal qualidade: a saída organizada e em grande velocidade
no contra-ataque com os dois laterais, sob o comando do maestro
Alex, o homem que enxerga demais. Desconfio ainda mais de
que o Alex tem um "terceiro
olho", o da inventividade.
Leão, um excelente técnico, de
vez em quando gosta de inventar,
de ser mais criativo do que a criatividade, mais sábio do que a sabedoria, mais esperto do que a esperteza. São estranhas as escalações anteriores do Fabiano de
centroavante e, nesse jogo, a do
Elano nessa posição e a de um terceiro volante.
Como há tantos fatores envolvidos no resultado de uma partida,
o Santos poderia ter vencido com
essa formação, e o técnico seria
elogiado. Muitos diriam que ele
deu um nó tático no Luxemburgo. Era isso que o Leão desejava,
ser a estrela do espetáculo.
Leão mudou toda a estrutura
do time e até a maneira de jogar
do Renato e do Robinho. Se o
Santos tivesse vencido, diriam
ainda que o terceiro volante permitiu ao Renato chegar mais ao
ataque. Aliás, Renato tem avançado demais. Ele parece fascinado com tantos elogios de que é um
volante que não se limita à marcação. Isso é verdade, incomum e
ótimo. Mas ele é um volante. Não
é um meia-direita. A chegada ao
ataque tem de ser esporádica, para surpreender o adversário.
Por causa do terceiro volante,
Robinho, que estava atuando
muito bem mais recuado e depois
chegando à frente, ficou mais fixo
no ataque.
José Geraldo Couto escreveu
muito bem na semana passada
que o Robinho amadureceu muito após ter ficado na reserva e que
ele está usando a sua esperteza,
leveza e rapidez não só no ataque,
mas também no desarme.
Cronista também amadurece e
muda de opinião. Já escrevi que o
Parreira deveria tentar adaptar
um dos meias ofensivos que estão
na reserva para fazer a função do
Zé Roberto. O jogador certo para
fazer isso não é um deles e sim o
Robinho, que ocupa normalmente esse espaço. É impressionante
como ele passa de uma intermediária à outra com velocidade,
habilidade e inteligência.
Na seleção sub-23, na Copa Ouro, Robinho jogou numa posição
parecida à do Zé Roberto. Foi
muito bem taticamente e discreto
individualmente. Jogador tático
se encontra em toda esquina. Robinho tem amplas condições de
brilhar das duas maneiras.
Após cair de produção, achava
que o Robinho seria um Denílson
piorado. Mudei de opinião. Ele
pode ir muito mais longe. A pedalada vai ser apenas um detalhe.
Cotoveladas
Os jogadores brasileiros continuam irritados e violentos. Bastam receber uma falta dura para
reagirem com agressões e cotoveladas, como fez o Fabiano.
O São Paulo é o time mais indisciplinado do campeonato. Recebe
3,1 cartões amarelos, na média
por partida. Um dos motivos desse comportamento é a necessidade dos jogadores mostrarem que
são raçudos, já que foram chamados várias vezes de pipoqueiros
pelos torcedores. Eles confundem
garra com violência.
Mas o indisciplinado Luis Fabiano, que parece curtir a repercussão de seu comportamento,
não deu uma cotovelada no jogador do Fluminense, como parece
na imagem. Ele estava com a bola
dominada, não foi tocado pelo
adversário e usou o braço para
não perder a bola. Foi imprudente e deveria levar o amarelo.
Pelé também utilizava muito os
braços e o corpo para se livrar da
marcação. Isso é uma coisa. Outra foi a cotovelada que deu no jogador do Uruguai, na semifinal
da Copa de 70. Merecia ter sido
expulso -e não jogaria a final.
Na jogada que antecedeu o gol
do Brasil contra a Inglaterra, na
Copa de 70, usei o braço da mesma maneira que fez o Luis Fabiano para impedir o desarme do adversário. Na imagem, parecia
também claro que dei uma cotovelada. A imagem é fria, não pensa e às vezes engana. Imagem não
é tudo. A interpretação da imagem precisa estar associada aos
fatos e ao raciocínio.
A agressão, a cotovelada do Fabiano, não tem nada a ver com a
falta cometida pelo Luis Fabiano.
A sensibilidade, a percepção e a
conduta do juiz não podem ser a
mesma em dois lances parecidos,
mas completamente diferentes.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: Hora de acordar Próximo Texto: Ginástica rítmica: Brasil vai para o tudo ou nada no Mundial Índice
|